A cultura é uma das principais características humanas. Ela tem uma origem biossocial e é feita de sistemas, padrões de comportamento, que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus fundamentos biológicos. A cultura inclui crenças, práticas religiosas, tecnologias e modos de organização econômica, social e política. Resumindo, a cultura consiste em tudo que alguém tem de conhecer ou acreditar para interagir de maneira aceitável com os demais membros de uma sociedade.
A cultura opera condicionando a visão de mundo dos seres humanos, que só conseguem representar a realidade por causa do uso dos seus símbolos. Além disso, todo sistema cultural é dinâmico e tem uma lógica própria. Existem muitos tipos de cultura, porque eles nascem conforme inventamos novos modos de viver.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a cultura
- 2 - Videoaula: O que é cultura?
- 3 - O que é cultura?
- 4 - Origem da cultura
- 5 - Características da cultura
- 6 - Tipos de cultura
- 7 - Cultura na sociologia
- 8 - Elementos da cultura
- 9 - Cultura brasileira
- 10 - Importância da cultura
Resumo sobre a cultura
- A cultura é uma característica fundamental de todo ser humano.
- Ela dá unidade a grupos de pessoas que compartiham os mesmos usos, costumes e valores.
- A cultura é produzida pelo humano em qualquer meio geográfico e lhe permitiu que se adaptasse a esses meios.
- No decorrer de milhões de anos, nossos instintos originais se encontraram com a cultura, provocando um grande salto cognitivo.
- As principais características da cultura são o condicionamento da visão de mundo dos seres humanos, a interferência no plano biológico, as diferentes participações dos indíviduos, a presença de uma lógica própria e a dinamicidade.
- Existem diversos tipos de cultura. Os três mais conhecidos são a cultura popular, a cultura pop (ou de massa) e a cultura erudita.
- Os elementos da cultura podem ser classificados com base em aspectos materiais e não materiais.
- A cultura brasileira é rica e muito diversificada. Ela reflete a mistura de influências indígenas, africanas, europeias e, mais recentemente, de diversas outras partes do mundo.
- A cultura é um elemento central na vida humana. Ela molda nossa compreensão do mundo, nossa identidade e nossas interações sociais.
Videoaula: O que é cultura?
O que é cultura?
A cultura é um sistema acumulado de símbolos e significados, ideias e regras sobre relações e modos de comportamento que condicionam o corpo e o dia a dia das pessoas. Os antropólogos, apesar de saberem exatamente o que é a cultura, continuam a divergir na maneira de expressar esse conhecimento e estão longe do consenso. Por isso, neste texto você encontrará várias definições de cultura.
No senso comum, a cultura é o que faz com que japoneses e brasileiros tenham pensamentos e comportamentos bem diferentes na hora do almoço, por exemplo. Enquanto aqueles esperam encontrar pauzinhos (hashi) e peixe cru sobre a mesa, estes preferem garfo e faca para comer um bife com fritas.
É por causa da cultura que uma pessoa nascida em Nova Deli e outra em Nova Iorque terão suas vidas guiadas por valores completamente diferentes. Se você não obedece às mesmas normas de vida que seus pais ou avós, foi porque a dinâmica da cultura mudou as coisas.
Enfim, a ideia de cultura remete a essa diversidade de costumes, comportamentos e crenças forjados no interior de uma sociedade. É importante notar que cultura não se refere ao que pessoas fazem concretamente, mas às ideias que têm em comum sobre o que fazem e os objetos materiais que usam.
O ato de comer com pauzinhos, e não com talheres, ou com as mãos, por exemplo, não faz parte da cultura. Os atos apenas tornam visíveis a influência da cultura. Os pauzinhos ou os talheres são elementos da cultura, assim como as expectativas comuns que definem a maneira de comer em certas sociedades.
Origem da cultura
A origem da cultura se desdobrou ao longo dos milênios, entrelaçando a evolução biológica e as experiências sociais da humanidade.
Em primeiro lugar, é importante destacar a relação da cultura com o próprio equipamento biológico humano. A cultura é uma das características definidoras da espécie humana, ao lado do bipedismo e do volume cerebral. Segundo Terrence W. Deacon, o aumento do tamanho do cérebro possibilitou as primeiras formas de linguagem simbólica, criando um ambiente cultural novo, e isso criou um verdadeiro salto cognitivo.
Salto que teria acontecido por volta de dois milhões de anos atrás, na transição da espécie homo habilis para o homo erectus. Progressivamente, no decorrer do paleolítico, os cérebros foram se adaptando a esse novo nicho ecológico-cultural que é a linguagem. A comunicação verbal se tornou uma ferramenta essencial para a transmissão de histórias, mitos e informações vitais.
À medida que as sociedades caçadoras-coletoras floresciam, também florescia a complexidade cultural. Os rituais cerimoniais emergiram, delineando as crenças compartilhadas e as estruturas sociais. Enfim, essa coevolução cérebro-cultura representou não apenas alterações anatômicas significativas, o bipedismo e o volume cerebral, mas também um ponto de inflexão cultural crucial.
A conclusão desses modelos coevolutivos é que existe, desde o paleolítico, uma espiral evolutiva que produz uma dinâmica criadora que orienta a evolução na direção da complexificação da linguagem e da criação de um cérebro adaptado a esse novo meio cultural. Pouco a pouco, o cérebro humano teria evoluído para adquirir aptidões inatas para produzir linguagens. No entanto, essa propensão só se tornou realidade num meio particular, isto é, na cultura, vivenciada como uma imersão linguística transmitida de geração para geração.
Características da cultura
O antropólogo Roque de Barros Laraia, professor emérito da Universidade de Brasília, escreveu um pequeno livro chamado Cultura: um conceito antropológico, que tem grande importância nos estudos sobre cultura. Na segunda parte do livro, intitulada “Como opera a cultura”, ele apresenta cinco características dos sistemas culturais.
→ A cultura condiciona a visão de mundo dos seres humanos
É uma característica da cultura ensinar às pessoas como enxergar o mundo, a maneira de se comportar nele e até como utilizar o próprio corpo. Tudo isso depende de um aprendizado, que consiste em assimilar padrões que fazem parte da herança cultural de um grupo.
Nesse sentido, a cultura opera como uma lente através da qual uma pessoa vê o mundo e representa a realidade. Pessoas de diferentes culturas usam diferentes lentes, e, por isso, existem diversas visões de mundo.
Essas “mundovisões” incluem as diferentes apreciações de valores morais, os diversos comportamentos sociais e até mesmo as posturas corporais que executamos com a maior naturalidade, como rir, chorar ou dormir.
→ A cultura interfere no plano biológico
A cultura interfere no plano biológico, e, devido a isso, pode decidir sobre a saúde, a vida e a morte de uma pessoa, entre outras coisas. Entre os muitos exemplos conhecidos, a morte por apatia, considerada emocional ou simbólica, foi o que dizimou parte da população indígena kaingang de São Paulo.
Quando tiveram o seu território invadido pelos construtores de uma ferrovia, esses indígenas perceberam que os seus recursos tecnológicos e sobrenaturais eram impotentes diante do poder do capitalismo.
Muitos membros dessa população indígena abandonaram as suas crenças e, consequentemente, perderam os valores e a motivação que os mantinham unidos e vivos. Alguns abandonaram o grupo e outros simplesmente esperaram a morte chegar. Além da morte por apatia, poderíamos citar ainda os casos de curandeiros que lançam e tiram feitiços.
→ Os indivíduos participam diferentemente da cultura
A cultura se caracteriza pela abertura para a participação individual dos seus membros. Assim, os membros de uma cultura se relacionam singularmente com os elementos dela. Essa diferenciação ocorre, especialmente, por motivos de idade ou de sexo.
Cada pessoa participa diferentemente de sua cultura, no entanto, nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos dela. De fato, um indivíduo pode permanecer completamente ignorante sobre alguns aspectos de sua cultura, mesmo sendo especialista em outros.
Alguém pode ser um físico genial e mesmo assim não saber pintar uma parede nem tocar um violão. O mais importante é que exista um mínimo cultural compartilhado por todos a fim de permitir a interação com os demais membros do grupo.
→ A cultura tem uma lógica própria
É característico de todo sistema cultural ter a sua própria lógica. A tentativa de transferir a lógica de um sistem cultural para outro não passa de um ato de etnocentrismo. Por isso, a coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada com base no sistema a que pertence.
Entender a lógica de um sistema cultural depende da compreensão das categorias constituídas por esse mesmo sistema. Essas categorias são os juízos e raciocínios implícitos na linguagem, muitas vezes inconscientes, e que direcionam muitos hábitos conscientes dos indivíduos.
→ A cultura é dinâmica
É característico de toda cultura estar sempre em mudança. A cultura é uma terra em trânsito, uma paisagem em constante deslocamento. Entender a dinâmica histórica de cada sistema cultural é importante por vários motivos, especialmente para evitar comportamentos preconceituosos ou conviver melhor com as novas gerações.
Tipos de cultura
Existem diversos tipos de cultura. A cultura organizacional, a cultura do cinema, a cultura científica, a cultura hegemônica, a cultura dominada, as culturas oficiais e as operárias. Recentemente, surgiu a cultura do cancelamento. O modo como as pessoas vivem suas vidas é o que define o surgimento de novos tipos de cultura. A seguir, conheça as principais características dos três tipos de cultura mais conhecidos.
→ Cultura popular
A cultura popular é a cultura que vem do povo. Ela está intimamente relacionada com saberes e fazeres, costumes adotados pelo gosto popular de uma região, por exemplo: o Carnaval de Olinda ou do Rio de Janeiro. Essas são festas feitas de culinária, música, literatura, arte, moda e dança transmitidas ao vivo na televisão todos os anos. O que movimenta a cultura popular são as classes trabalhadoras e os segmentos substanciais da classe média.
→ Cultura pop (ou de massa)
A cultura pop, ou cultura de massa, é feita para o povo consumir. Ela está associada à indústria cultural e é algo totalmente diferente da cultura popular. A cultura de massa é feita com o intuito de massificar bens culturais que podem ser amplamente consumidos por nichos específicos da sociedade. Um exemplo disso é a chamada música pop, que pode ir do do sertanejo universitário ao pagode. Para saber mais detalhes sobre esse tipo de cultura, clique aqui.
→ Cultura erudita
A cultura erudita é frequentemente associada à alta cultura que ocupa as academias. Ela inclui música clássica, ópera, balé, literatura clássica, pintura acadêmica etc. Como é ensinada em contextos formais, além de ser considerada complexa por homens intelectualizados, a cultura erudita é tradicionalmente valorizada por aqueles que se consideram uma “elite cultural”.
A noção de cultura erudita é alvo de fortes críticas por implicar a ideia de que o critério para avaliação do desenvolvimentio de um indivíduo é o fornecido pela cultura de elite ou superior, o que conduziria à marginalização de largas camadas da sociedade.
Num sentido antropológico de cultura, mesmo que as classes populares não partilhem dos valores culturais eruditos, isso não faria delas menos cultas. Tem sido comum, assim, privilegiar a definição antropológica de cultura, entendida como os modos pelos quais alguém ou uma comunidade responde a suas próprias necessidades ou desejos simbólicos.
Cultura na sociologia
Existem diferentes entendimentos em relação ao que é a cultura na sociologia. O britânico Edward Burnett Tylor (1832-1917) apresentou uma abordagem evolucionista da cultura. Para esse antropólogo, a cultura significa um conjunto complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, as artes, a moralidade, as leis, os costumes, e também certas capcidades e hábitos que uma pessoa pode aprender vivendo em sociedade. Sendo um evolucionista, ele propõe classificar as diferentes culturas segundo uma escala de progresso, indo das sociedades mais selvagens ao mundo civilizado.
O estadunidense Franz Boas (1858-1942) recusa a ideia de evolução das culturas. Para esse antropólogo, nenhuma cultura é mais desenvolvida do que outra, e cada uma representa uma síntese original, dotada de um estilo que se expressa por meio das linguagens, das crenças, dos costumes e das artes. Assim, o globo pode ser dividido em áreas culturais, tendo, cada qual, a sua especificidade. Cada cultura é um todo dotado de autonomia. Essa abordagem culturalista dominou a antropologia dos anos 1930 aos anos 1980.
Enquanto a antropologia estadunidense abordava a cultura como um fenômeno autônomo, a britânica tentou ligá-la à ordem social. O polaco-britânico Bronislaw Malinowski (1884-1942) apresentou uma abordagem funcionalista da cultura. Para ele, cada elemento cultural — as regras da sexualidade, as leis, as crenças religiosas — corresponde a grandes funções sociais necessárias ao equilíbrio da ecologia social. Essas necessidades, que fazem funcionar o corpo social, podem ser descritas em termos de coesão e reprodução social.
O francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) apresentou uma abordagem estruturalista da cultura. As produções culturais, por mais diversas que sejam, obedecem a regras de construção comuns. Essas regras são estruturas mentais universais e seus elementos são ordenados com base em certa arquitetura: oposição binária, permutação, comutação etc. Sendo assim, as culturas humanas são variações sobre os mesmos temas, todas iguais e de igual valor intelectual.
Os exemplos acima deixam claro que a antropologia cultural insiste na diversidade das culturas humanas. Vimos várias formas de definir cultura. Entretanto, o maior interesse da sociologia está no sentido antropológico da cultura como representação da realidade humana, pois são essas definições que nos permitem entender os processos de mudanças sociais existentes nas próprias culturas.
Elementos da cultura
Os elementos da cultura podem ser classificados com base em aspectos materiais e não materiais:
- Aspectos materiais: a cultura material inclui tudo o que é feito, modelado ou transformado como parte da vida social coletiva, da preparação do alimento à produção de aço e computadores, passando pelo paisagismo, que produz parques pelas cidades.
- Aspectos não materiais: a cultura não material inclui os símbolos, de palavras à notação musical, bem como as ideias que modelam e informam a vida de seres humanos em relações recíprocas e os sistemas sociais dos quais participam. Os elementos não materiais mais importantes incluem atitudes, crenças, valores e normas.
Cultura brasileira
A cultura brasileira pode ser descrita por uma série de características culturais que se fazem presentes nas manifestações da maioria da população, como nas suas tradições religiosas ou nas suas opções esportivas. Ela é rica e diversificada, refletindo a mistura de influências indígenas, africanas, europeias e, mais recentemente, de diversas outras partes do mundo.
Toda essa diversidade étnica e cultural pode ser percebida no Carnaval e em outras festas populares, no sincretismo religioso, na gastronomia variada, na música, na dança e no futebol, que transcende o status de esporte no Brasil, sendo uma paixão nacional que agrada pessoas de todas as classes sociais.
Essas características, entre muitas outras, compõem a identidade cultural única do Brasil. A capacidade de integrar tradições diversas e criar uma cultura vibrante e dinâmica faz do Brasil um país singular no panorama mundial. Contudo, será que existe mesmo uma identidade brasileira?
Assim como em outros países, as tradições brasileiras foram todas construídas ou “inventadas” em algum momento da nossa história. Pegando como exemplo o futebol, ele foi trazido para o Brasil por ingleses no finalzinho do século XIX. Naquela época, o esporte mais popular por aqui eram as regatas de canoas. Somente muitas décadas depois o futebol acabou virando o esporte mais popular do Brasil.
As identidades culturais são construídas e desconstruídas de acordo com a época histórica. Na década de 1930, o sociólogo Gilberto Freyre formulou a ideia de que o Brasil seria o modelo de uma “democracia racial” para todo mundo, uma vez que por aqui brancos e negros viveriam harmoniosamente, inexistindo a prática de racismo.
A partir da década de 1950, no entanto, outros sociólogos demontraram, por meio de diversas pesquisas patrocinadas pela Unesco, que essa ideia de Freyre não passava de um mito, sem qualquer sustentação na dura realidade vivenciada pela população negra brasileira.
Acesse também: O que é uma identidade cultural?
Importância da cultura
A importância da cultura está, em primeiro lugar, na compreensão do mundo. A cultura fornece as lentes através das quais as pessoas interpretam o mundo ao seu redor. Ela molda a maneira como percebemos, compreendemos e interagimos com o ambiente, a natureza e os outros seres humanos.
A cultura é uma ferramenta que permite aos grupos humanos se adaptarem e sobreviverem em diferentes ambientes. Ela influencia práticas agrícolas, tecnologias, modos de habitação e estratégias de subsistência, portanto, está presente em cada instante do nosso dia a dia.
Além disso, a cultura é um veículo para a transmissão de conhecimento de geração em geração. Artigos acadêmicos escritos por cientistas, tradições orais, rituais e outras práticas culturais são meios pelos quais a sabedoria acumulada é passada adiante.
A cultura influencia a estrutura social, estabelecendo normas, papéis e relações entre os membros de uma sociedade. Ela define padrões de comportamento aceitáveis e promove a coesão social. Enfim, a cultura é uma fonte de expressão criativa e artística. Ela se manifesta em formas como música, arte, dança e literatura, refletindo a diversidade e a riqueza das experiências humanas.
A cultura é, portanto, um elemento central na vida humana, moldando nossa compreensão do mundo, nossa identidade e nossas interações sociais. Ela desempenha um papel crucial na transmissão de conhecimento, na organização da sociedade e na expressão da criatividade humana, contribuindo para a riqueza e a complexidade da experiência cultural.
Fontes
BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a espada. São Paulo: Perspectiva, 1972.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. São Paulo: Editora Nacional, 1976.
