Em uma perspectiva filosófica, a concepção materialista firma-se sobre a noção de que a matéria precede o espírito ou o pensamento. Nossos sentidos seriam a porta de entrada para o mundo material, sendo eles nossas ferramentas de intercessão na realidade física que percebemos. O intelectual soviético Nikolai Ivanovich Bukharin (1888-1938) afirma: “ … a matéria existe objetivamente, independentemente do "espírito". Ao contrário, os fenômenos psíquicos, o pretendido espírito, não existe nunca e em parte alguma sem a matéria, independentemente dela. Os pensamentos não existem sem cérebro, os desejos sem o organismo que deseja.”¹
O materialismo histórico está pautado nessa mesma pressuposição: a vida material condiciona o sujeito social de acordo com a sua condição material. Em outras palavras, não é a consciência do homem que determinaria o seu ser, mas sim a sua situação material que determinaria a sua consciência.
Karl Marx e Friedrich Engels são os principais autores da linha teórica do materialismo histórico. Os autores testemunharam o crescimento das indústrias e fábricas, o inchamento dos meios urbanos e o consequente aumento vertiginoso das desigualdades sociais que surgiram com as mudanças trazidas pela Revolução Industrial. Os conflitos e os problemas que surgiam na nova configuração social estavam intimamente ligados às diferenças na situação econômica das diferentes classes sociais. De acordo com a noção do materialismo histórico, as respostas para os fenômenos sociais estariam inseridas nos meios materiais dos sujeitos. Isso quer dizer que diferentes situações materiais, o que, em uma sociedade capitalista, traduz-se em situação econômica, moldam diferentes sujeitos sociais. Essa diferença seria, para Marx, vetor de conflitos entre grupos de indivíduos submetidos a realidades materiais diferentes.
No contexto marxista, a diferença de condições materiais está associada ao acesso aos meios de produção, isto é, ao acesso aos diferentes meios que existem em uma sociedade para produção bens de consumo. O principal problema estaria na relação de exploração que se estabelece entre aqueles que detêm poder sobre os meios de produção e os que não possuem acesso. Aqueles que não possuem acesso passam a ter de vender sua força de trabalho para sobreviver.
Segundo Marx, a busca pela sobrevivência e pela obtenção do sustento do corpo, bem como as diferenças de acesso aos meios de produção dos bens de consumo, seria a razão principal do conflito entre classes. No entanto, sua preocupação estava além do estudo dos problemas das sociedades modernas. Seu trabalho direcionava-se para a busca de uma lógica de desenvolvimento humano ao longo da história. Sob essa perspectiva, os modos de produção de uma sociedade eram determinantes tanto na constituição de sua realidade social quanto na determinação dos rumos que seu desenvolvimento tomaria.
A luta de classes, ou o conflito entre aqueles que detêm poder sobre os meios de produção e aqueles que precisam vender sua força de trabalho para sobreviver, seria responsável pelas mudanças sociais que perpassam a história humana. O materialismo histórico entende que os fenômenos sociais que resultam nessas mudanças sociais, isto é, no avanço da história, têm origem em nossos anseios, necessidades e nas desigualdades materiais de uma sociedade.
*Referência: N. Bukharin - A Teoria do Materialismo Histórico. Manual Popular de Sociologia Marxista – Edição Caramuru, 1933.