O ciúme é um sentimento geralmente ligado à ideia de propriedade sobre alguém. É uma reação à percepção de uma possível ameaça a um relacionamento entre grupos ou pessoas, podendo ser provocado pelo medo da perda da atenção de um sujeito em razão da interferência de outro. Também está ligado à ideia de exclusividade em relação à afeição em um relacionamento, de modo que as relações afetivas estabelecidas entre um grupo ou entre dois sujeitos não devem e não podem estender-se a outros.
A questão do ciúme pode chegar a ser considerada uma patologia quando se torna uma obsessão. Nesses casos, não é raro que o sujeito torne-se violento, podendo agredir tanto o objeto de sua obsessão quanto o agente causador do ciúme. Nesse sentido, para o médico psiquiatra Flávio Gikovate, o ciúme é “uma sensação de raiva daquele que quer se aproximar e se apropriar de atenções que achamos que nos pertencem”.
Biologicamente, sob uma abordagem evolucionista, o ciúme é entendido como um dos mecanismos desenvolvidos no decorrer da evolução da espécie humana para a manutenção da monogamia entre parceiros. Essa ideia deriva da constatação de que a monogamia entre os animais proporciona maiores chances de sobrevivência da prole, além de garantir que os traços genéticos, tanto do pai quanto da mãe, sejam passados adiante.
Passando para uma abordagem cultural, o ciúme pode ser encarado como traço característico da competição contínua das sociedades capitalistas. “Perder” a afeição de outro não configura apenas a “perda” da pessoa amada, mas também a falha em conseguir ter o que se deseja. Existe ainda a pressão social que motiva o indivíduo a defender “o que é seu”, estabelecendo uma relação de propriedade e objetificando o outro.
Psicólogos comportamentais, como Burrhus Frederic Skinner, acreditam que o sentimento do ciúme é uma característica advinda do reforço parental quando existe a exigência de atenção afetiva. O reforço pode ser negativo ou positivo, ou seja, uma ação de punição ou de recompensa que se aplica ao sujeito frente à sua reação em resposta à negação da afeição, por exemplo. Esse “reforço” seria responsável por motivar e fixar o comportamento que a criança usará para ter a atenção das demais pessoas com as quais estabelecerá algum tipo de relacionamento afetivo.
Embora seja um assunto complexo, o ciúme ainda não é amplamente abordado nos estudos do comportamento humano. As motivações para certos comportamentos podem ser inúmeras, e o cuidado com afirmações generalistas quando tratamos desse aspecto humano torna o ciúme um objeto de estudo extremamente difícil de ser abordado.