A aparência que temos e que desejamos passar e a visão que os demais constroem sobre nosso caráter está intimamente conectada à forma que se desenvolvem nossas relações com o outro.
A imagem de uma pessoa é geralmente associada a um grande número de representações que estão imediatamente ligadas a uma série de valores normativos adotados pelos observadores. Dessa forma, o sujeito, ao observar a aparência de alguém, tira conclusões com base em inúmeras variáveis que são medidas em grau de valor e significado de acordo com os valores que esse carrega. Essa é uma das ferramentas de comunicação social que possuímos e que utilizamos sem nos darmos conta, mas que é tão influente na vida social que é parte do processo de construção identitária do sujeito.
A autoimagem de alguém é produzida em meio às interações sociais e o processo de aprendizagem cultural. Dentro desse curso, a identidade é erguida em função de nossa individualidade e de nossas necessidades particulares referentes ao tecer de nossa identidade, que só é possível diante da relação com a visão do outro quanto ao que nossa imagem representa.
A alteridade e a aparência
Entende-se por alteridade a relação entre o Eu particular, o consciente individual, e o Outro, o “estranho” ou o meio externo com o qual interagimos constantemente. Inserida nessa relação estão conotações valorativas externas atreladas à ação da comunicação entre os sujeitos. De forma mais simples, a alteridade insere-se na interação que temos com as outras pessoas e com os outros grupos de nossa sociedade, que carregam valores que são usados para dar significado à suas experiências no convívio social. O “Outro” exerceria o papel de um espelho que não reflete propriamente o que queremos mostrar, mas reflete o que é apreendido pelo mundo externo. É com essa imagem que construímos parte de nossa identidade e, consequentemente, nossa aparência, tentando montar uma imagem de acordo com o que desejamos que o mundo externo veja.
É pela alteridade que construímos mutuamente nossas identidades e nossa autoimagem
Imagem e comunicação
Mikhail Bakhtin e Lev Vygotsky são dois dos principais teóricos da vertente sócio-interacionista de estudos da educação. Seus trabalhos focam no processo de formação do sujeito em relação ao seu contato com o mundo externo, ou o “Outro”. Essa interação se dá com o princípio da comunicação, por meio da construção de um discurso com sentido compreensível entre os que fazem parte do diálogo. A aparência é parte do diálogo não falado, que toma parte de nossa comunicação com os outros indivíduos. Nela o sujeito vê signos e significados que passam a ser interpretados e medidos por nossos interlocutores de forma valorativa, tomando parte da construção da imagem que passamos ao mundo externo.
Dentro desse fenômeno, diferentes sentidos estão envolvidos e outros fenômenos, que também dependem desses significados, tomam parte. Entre eles estão a categorização do indivíduo com base em poder econômico, classe social, grupo cultural, noções predefinidas que envolvem a ideia de raça (cor da pele) etc.
É incrível pensar o quanto nossa aparência pode significar para nossos interlocutores, aqueles que nos observam. A ideia de nos comunicarmos de forma tão intensa sem nunca dizermos uma única palavra pode ser intimidante, mesmo porquê no final das contas ela realmente é. Os problemas de preconceito e discriminação estão todos ligados a esse fenômeno. Sendo assim, é importante compreendermos o seu funcionamento e entendermos que não se pode “viver apenas de aparências”.