A radioatividade não possui apenas finalidades de destruição, mas também é bastante utilizada no cotidiano para fins pacíficos e que muitas vezes são despercebidas.
Uma delas é na irradiação dos alimentos com o objetivo de reduzir ou inativar parasitas, bactérias, larvas, fungos, ovos de insetos e micro-organismos responsáveis pela deterioração do alimento. Isso é especialmente importante em ambientes onde a armazenagem é inadequada, como navios da Marinha, tropas que vão para regiões tropicais, navios com longa permanência no mar etc. Essa técnica é até mesmo usada para a preservação de flores e plantas ornamentais.
Dessa forma, é possível retardar a sua decomposição e o alimento é conservado por mais tempo. Por exemplo, pode-se retardar a maturação e o apodrecimento de frutas como abacates e morangos em no mínimo duas semanas. Grãos podem permanecer intactos por mais de 20 anos!
Alimentos irradiados já são uma realidade em nosso cotidiano, inclusive no Brasil. Por exemplo, em Manaus existe uma empresa particular (Tech Ion Industrial Brasil) que opera em larga escala na irradiação de alimentos.
Muitas pessoas ficam com medo quando se trata de radiação. Mas, para desenvolvermos nossos conceitos e opiniões acerca desse assunto é preciso primeiro conhecer melhor como esse processo é feito e como estão os estudos e avanços nessa área.
A irradiação de alimentos não é feita colocando-se a comida em contato direto com o elemento radioativo. Na verdade, o alimento é exposto a uma fonte de radiação, normalmente beta ou gama, vinda de um elemento radioativo por um tempo controlado. Os elementos mais usados são o cobalto 60 e o césio 137. A empresa que citamos usa o cobalto 60.
Dependendo da dose da radiação, os efeitos sobre o alimento são diferentes. A unidade usada para medir a radiação sobre o alimento é o “rad”. 1 rad é a quantidade de radiação necessária para que 1 grama de tecido absorva uma energia igual a 10-5 joule.
Uma dose entre 20 000 rad e 500 000 rad é capaz de retardar a deterioração do alimento sem comprometer o seu aspecto, estrutura e propriedades organolépticas como cor, sabor e cheiro. No entanto, é ainda necessário que a comida fique em embalagens especiais e sejam refrigeradas. Essa dose é chamada de dose pasteurizante e os estudos, até o momento, mostram que não há efeitos adversos para o alimento e para os consumidores.
Essa radiação não deixa alterações e nem resíduos no alimento, pois os átomos radioativos devem cessar as suas atividades antes de os alimentos serem embalados.
No entanto, uma dose ainda maior (de 2 a 4 milhões de rad), chamada de esterilizante, consegue conservar o alimento mesmo a temperatura ambiente, com os efeitos adversos de modificarem o sabor e o cheiro do alimento. Além disso, ainda não foram descartadas as possibilidades de uma radioatividade residual e alterações secundárias. Os estudos para solucionar esses problemas ainda continuam.
Os alimentos que são irradiados atualmente e postos para vender estão dentro dos padrões especificados e o consumidor saberá quais foram submetidos a esse processo por meio do símbolo que vem na embalagem, conhecido como Radura (abaixo):
Não são todos os alimentos que podem passar por esse processo, porque devido a sua capacidade ionizante, alguns alimentos deterioram-se ao serem irradiados, como é o caso do leite e seus derivados. Produtos muito gordurosos também não podem ser irradiados, porque as gorduras são oxidadas e eles ficam muito rançosos.