Os biocombustíveis, tais como o biodiesel, o etanol e o biogás, são cada vez mais mostrados nos meios de comunicação como melhores que os combustíveis fósseis derivados do petróleo, tais como a gasolina e o óleo diesel. Para se referir a essas novas alternativas de fontes de energia são usados os seguintes termos: “combustível limpo”,“ecologicamente correto” ou “combustível verde”.
No entanto, esses termos não passam totalmente a verdade, pois difundem a ideia de que eles não trazem nenhum impacto negativo sobre o meio ambiente. A realidade é que até o momento, ainda não há nenhum combustível completamente limpo.
Não podemos negar o bem que esses novos combustíveis trazem ao meio ambiente, pois a combustão dos combustíveis fósseis, principalmente o óleo diesel, libera para o meio ambiente vários gases e partículas do elemento carbono, como o gás carbônico (CO2). A cada vez mais crescente utilização desses combustíveis tem aumentado a concentração desses gases na atmosfera, intensificando o efeito estufa natural e levando ao agravamento do problema do aquecimento global.
Além disso, esses combustíveis contêm muitas impurezas de compostos sulfurados, liberando também óxido de enxofre para o meio ambiente, o que contribui muito para a ocorrência de chuvas ácidas.
Assim, com respeito somente a esses pontos citados, os biocombustíveis são uma alternativa vantajosa, pois eles são “limpos” no sentido principal de não interferirem no ciclo do carbono. Dessa forma, o biocombustível anula o efeito estufa, uma vez que o replantio da cultura utilizada significa crescimento de área verde e, em tese, captura do CO2 lançado na queima da cultura anterior.
Por exemplo, o etanol é um biocombustível produzido no Brasil principalmente por meio da cana-de-açúcar, sendo que isso implica em desmatamento e monoculturas. Em diversas regiões ainda se utiliza a queima da palha da cana para realizar um novo plantio, o que acarreta na emissão de dióxido de carbono. Mas, depois que o replantio é feito, o dióxido de carbono volta a se fixar novamente no vegetal durante o seu crescimento pelo processo da fotossíntese.
Já na extração do petróleo e na queima de seus derivados, o dióxido de carbono é lançado na atmosfera e vai se acumulando. O biocombustível também emite menos monóxido de carbono e material particulado que os derivados do petróleo. Portanto, com respeito à contribuição de carbono para a atmosfera, o biocombustível é considerado um combustível limpo.
Porém, os ciclos de outros elementos também precisam ser considerados, como o ciclo do nitrogênio ativo, que é essencial para o crescimento das plantas e para a química da atmosfera. As queimadas e a combustão dos biocombustíveis, como o etanol, não liberam apenas os gases de carbono citados, mas também NO e NO2, formaldeído e acetaldeído (vapores tóxicos) e muito material particulado.
A emissão de nitrogênio ativo traz consequências regionais e locais, tais como:
- Os óxidos de nitrogênio podem reagir com a água da chuva, gerando ácido nítrico e resultando em chuva ácida;
- Contaminação das águas de rios e lagos, bem como do solo;
- Afeta o equilíbrio do ecossistema. Pode ocorrer o processo de eutrofização, em que as algas se proliferam com a grande quantidade de nitrogênio ativo no meio. O excesso de algas libera gases tóxicos para peixes e animais, diminuindo a qualidade da água. Isso também ocorre com algumas plantas devido ao excesso de nitrogênio no solo.
Eutrofização de algas causada por excesso de nutrientes químicos, como nitrogênio e fósforo.
Autor da imagem: F. Lamiot
Portanto, no que se refere à emissão de nitrogênio, tanto os combustíveis fósseis, como os biocombustíveis não são ambientalmente limpos. Não existe combustão limpa. A diferença é que os combustíveis fósseis trazem impactos globais e os biocombustíveis trazem impactos regionais.