Ao nos depararmos com ambos os elementos (verso e estrofe), logo os contextualizamos no universo literário, mais precisamente nos textos em que predominam a linguagem subjetiva. Obviamente que estamos nos referindo aos poemas que, via de regra, distinguem-se dos demais, escritos de forma épica – compostos de linhas contínuas e organizadas numa sequência lógica, em que a objetividade é fator preponderante.
Por assim dizer, analisemos, pois, um caso representativo:
Soneto da separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Moraes
Desse modo, infere-se que a forma como os poemas são dispostos representa apenas umas das características desse gênero, uma vez que suas peculiaridades vão muito além dessa mera disposição. Neles percebe-se todo um trabalho com a linguagem, ora manifestado pela escolha e combinação das palavras em que prevalecem alguns aspectos dignos de nota, tais como:
* A exploração da sonoridade, na qual se constata a habilidade do emissor ao utilizar alguns recursos, tais como as rimas, repetição de sons e o ritmo em uma cadência especial. De tal modo, a título de constatação, não só evidenciaremos acerca do conceito de estrofe, mas também do conceito de verso, utilizando-nos destes para exemplificar tais postulados. Vejamos:
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
Notamos que se trata de algumas linhas poéticas que formam um conjunto delas. Assim, cada linha é denominada de verso e, quando reunidas, formam o que chamamos de estrofe. Portanto, uma estrofe nada mais é do que um conjunto de versos. Em se tratando dos recursos linguísticos, ora mencionados, notamos a presença das rimas (pranto/espanto e bruma/espuma), materializadas pela semelhança sonora existente no final dos vocábulos.
* Emprego da subjetividade, manifestada pela expressão do “eu” lírico, que imerge no seu mundo interior e revela seus sentimentos, desejos e suas emoções.
* Utilização de imagens, sobretudo pelo predomínio do uso de metáforas e comparações, que representam as figuras de linguagem e, consequentemente, manifestam os recursos estilísticos utilizados.
* Uso da polissemia, a qual retrata literalmente a linguagem figurada, uma vez que permite múltiplas interpretações por parte do interlocutor, ao se deleitar mediante os encantos que a linguagem poética propicia.
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