Qual das duas formas você prefere: Risco de vida ou risco de morte? Certamente você opta por uma dessas expressões na fala e na escrita, e pode ser também que você condene veementemente uma delas. Que tal entender um pouquinho mais sobre essa polêmica questão linguística?
Não devia, mas a verdade é que o uso da expressão “risco de vida” tornou-se polêmica. Até bem pouco tempo atrás ela era empregada com frequência, não era mal vista, sequer questionada. Meios de comunicação optavam por essa forma, escritores, poetas, músicos... Observe o trecho da música Ideologia, composta por Cazuza e Roberto Frejat:
“(...) O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou (...)”.
Ou ainda a canção do grupo Secos e Molhados, Viva e deixe viver, composta por João Ricardo:
“Só mais um risco de vida
No modo de te ter
No modo de ser
Correndo prá ver
Correndo prá ver
Correndo prá ver (...)”.
Mas em algum momento alguém decidiu abolir o já consagrado “risco de vida”, como se utilizá-lo fosse um pecado capital! Então pensaram, “afinal, como pode-se correr o risco de viver”? Esse era o questionamento dos mais distraídos e apressados, já que ávidos por apontar erros desconsideraram o fato de que, embutida na construção “risco de vida”, encontramos outras possíveis: risco para a vida ou risco de perder a vida. Houve então uma certa “má vontade” com a expressão, visto que deduzir seu real significado nem era tão difícil assim.
Hoje em dia, ai de quem optar por ela! Embora tenhamos crescido ouvindo que fulano “corre risco de vida”, aceitamos passivamente o “risco de morte” como única expressão possível. Não há nada de errado com ela, que obviamente soa mais objetiva do que “risco de vida”, mas dizer que essa última é inadmissível é uma grande tolice. Para quem precisa de comprovação, basta uma breve pesquisa no respeitado dicionário Houaiss, que cita a expressão “risco de vida”, prevendo assim o seu uso entre os falantes.
Posto isso, você deve ficar livre para optar entre “risco de vida” ou “risco de morte”, assim como pode também utilizar as duas sem qualquer prejuízo para a comunicação, esteja ela ocorrendo na modalidade oral ou escrita. A língua portuguesa é riquíssima, e preterir a forma “risco de vida” apenas empobrece seus meios de expressão, tão variados e bem representados pelos falantes, os verdadeiros donos da língua.