Tendo em vista o padrão formal da linguagem, enunciados como estes apresentados logo abaixo carecem de um olhar mais apurado, observe:
Li e gostei do livro.
Entrei e saí da sala imediatamente.
O primeiro aspecto que incide na problemática posta em questão reside no fato de que em ambos os exemplos há dois verbos que se constituem de regências diferentes, ou seja:
Lemos algo e gostamos de algo – transitivo direto e indireto, respectivamente.
Entramos em algum lugar e saímos de algum lugar – temos a mesma transitividade, porém com complementos diferentes. Dessa forma, caso fôssemos reformular tais enunciados, esses seriam expressos da seguinte forma:
Li o livro e gostei dele.
Entrei na sala e saí dela imediatamente.
Concluímos, portanto, que mesmo em se tratando da concepção de alguns gramáticos (os quais revelam ser necessário o uso de ambos os complementos), o português brasileiro nos revela que quando houve uma menção anterior, não se faz necessário repetir o complemento, haja vista que ele existe, porém implícito. Trata-se de uma comodidade linguística, a qual confere tão somente agilidade ao enunciado. Assim sendo, ao analisarmos os exemplos expressos a seguir, constataremos tal aspecto:
* A que horas chega ao trabalho? - Chego (ao trabalho) às sete horas.
* Será que ela gosta deste prato?- Acredito que gosta (deste prato)
Na linguagem literária e na linguagem do dia a dia é bastante comum constatarmos o uso de verbos que apesar de serem constituídos de regências distintas são expressos com apenas um complemento. A título de reforçarmos a afirmativa, vejamos o que nos diz Evanildo Bechara, em sua Moderna Gramática Portuguesa:
“Ao gênio de nossa língua, porém, não repugnam tais fórmulas abreviadas de dizer, principalmente quando vêm dar à expressão uma agradável concisão que o giro gramaticalmente lógico nem sempre conhece (...) Salvo as situações de ênfase, (...), a língua dá preferência às construções abreviadas que a gramática insiste em condenar” .