Raul Pompeia foi um dos expoentes do naturalismo brasileiro, embora suas obras também apresentem características simbolistas e impressionistas. Ele construiu sua carreira com publicações e colaborações em jornais e revistas, mas foi o romance O Ateneu (1888) que o tornou conhecido, obra que apresenta alguns elementos autobiográficos. Ele lutou pelo abolicionismo e pela Proclamação da República. Contudo, com sua maior ligação à política a partir de 1891, envolveu-se em muitas polêmicas, inclusive com o poeta parnasiano Olavo Bilac. Apesar da boa recepção crítica de seu livro, foi muito reprovado por suas posições políticas.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Raul Pompeia
- 2 - Biografia de Raul Pompeia
- 3 - Características literárias de Raul Pompeia
- 4 - Principais obras de Raul Pompeia
- 5 - Análise da obra O Ateneu, de Raul Pompeia
Resumo sobre Raul Pompeia
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Raul Pompeia nasceu em 12 de abril de 1863.
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Aos dez anos, entrou no Colégio Abílio, que seria a inspiração do romance O Ateneu (1888).
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Publicou seu primeiro livro em 1880, Uma Tragédia no Amazonas.
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Formou-se em Direito.
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Era republicano e abolicionista e lutava por essas causas.
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Também escreveu poemas em prosa, em Canções sem Metro, e novelas.
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Lança O Ateneu em 1888.
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Chegou a ser diretor da Biblioteca Nacional.
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Suas posições políticas foram muito criticadas pelos grupos contrários, e o autor se envolveu em polêmicas.
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Deprimido, suicidou-se em 25 de dezembro de 1895.
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É conhecido por narrativas realistas e deterministas, com desenvolvimento psicológico.
Biografia de Raul Pompeia
Raul d’Ávila Pompeia nasceu em 12 de abril de 1863 em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Era filho de Antônio de Ávila Pompeia, advogado abastado, e de Rosa Teixeira Pompeia. Sua mãe pertencia à família de Tiradentes, Joaquim José Silva Xavier.
Aos dez anos, mudou-se com a família para a capital do estado e entrou no Colégio Abílio, dirigido pelo barão de Macaúbas, Abílio César Borges (1825-1891). O mesmo professor educou outros intelectuais famosos, como Castro Alves (1847-1871) e Rui Barbosa (1849-1923). Raul se destacava como aluno e fazia as ilustrações do jornal O Archote. Em 1879, transferiu-se para o Colégio D. Pedro II. Em 1880, publicou seu primeiro livro, Uma Tragédia no Amazonas.
Em 1881, entrou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo. Foi nesse ambiente que entrou em contato com as ideias abolicionistas e republicanas para, depois, engajar-se nessa luta. Foi ali também que conheceu o jornalista Luís Gama (1830-1882), o patrono da abolição da escravidão no Brasil.
Em 1883, começou a publicar os poemas em prosa Canções sem Metro no Jornal do Comércio. Também publicou a novela As Joias da Coroa, que criticava a monarquia, na Gazeta de Notícias. Ele parte para o Recife no ano seguinte, após ser reprovado na faculdade por questões políticas, junto de outros 93 estudantes, e termina o curso lá. Apesar da formação, nunca chegou a exercer a advocacia.
Voltou ao Rio de Janeiro em 1885 e passou a focar nas colaborações com jornais, escrita de crônicas, folhetins, artigos e contos. É nesse momento que escreve sua obra mais conhecida, O Ateneu, um romance com teor autobiográfico. O Ateneu foi publicado em 1888, primeiro em folhetins na Gazeta de Notícias, depois em livro. Essa obra é a que o fez ficar conhecido no meio literário.
Logo após a Abolição da Escravatura (1888), focou seus esforços na campanha republicana. Assim que a República foi proclamada, no ano seguinte, foi nomeado professor de mitologia da Escola de Belas Artes. Com a renúncia forçada do presidente Deodoro da Fonseca, em 1891, Raul tornou-se adepto do florianismo, movimento dos apoiadores do então vice-presidente Marechal Floriano Peixoto (1839-1895) e que conseguiu assumir o cargo. Esse ano marcou sua entrada total na política, chegando ele a fazer parte de uma polêmica com Olavo Bilac (1865-1918, poeta parnasiano) e chamar o poeta para um duelo, mas que não chegou a ocorrer.
Tinha sido nomeado diretor da Biblioteca Nacional em 1894, mas, com a morte de Floriano em 1895, foi demitido do cargo por suposto desacato ao novo presidente, Prudente de Morais, no discurso no enterro do anterior. Essa conjuntura foi o estopim para sua morte: amigos ficaram contra ele, artigos o criticavam — Luís Murat (1861-1920) apoiou sua demissão e chamou-o de covarde na polêmica com Bilac — e um artigo seu não foi publicado (o que, na verdade, foi apenas um atraso). Devido a esses aspectos, o autor se suicidou em 25 de dezembro de 1895, com um tiro no coração.
Características literárias de Raul Pompeia
Embora pertença cronologicamente ao realismo brasileiro, as obras de Raul Pompeia possuem traços naturalistas, simbolistas e impressionistas. Essas são algumas características de sua escrita:
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aspecto psicológico das personagens desenvolvido;
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caráter descritivo;
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narrativas pouco idealizadas e objetivas (diferentes de como eram no romantismo);
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realismo narrativo;
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determinismo (o destino de um personagem é influenciado por sua raça, meio e momento histórico);
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zoomorfização (atribuição de características animais a humanos).
Veja também: Aluísio Azevedo — o principal representante do naturalismo no Brasil
Principais obras de Raul Pompeia
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Uma Tragédia no Amazonas (1880)
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A Queda do Governo (1880)
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Um Réu Perante o Futuro (1880)
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Microscópicos (1881)
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Canções sem Metro (1881)
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As Joias da Coroa (1882)
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O Ateneu (1888)
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Alma Morta (1888)
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Agonia (1895) (romance inacabado)
Análise da obra O Ateneu, de Raul Pompeia
O Ateneu (1888), publicado inicialmente como folhetim na Gazeta de Notícias e, logo depois, como livro, foi o que definiu a carreira de Raul Pompeia, ao ser muito bem recebido pela crítica. A narrativa acompanha Sérgio, um menino de 11 anos que está ingressando no Colégio Ateneu, considerada a melhor escola do período.
Através de muitos pequenos episódios, descobertas e contatos interpessoais, o livro mostra o crescimento e as mudanças do pré-adolescente. Além disso, tem um teor autobiográfico pela relação com o Colégio Abílio, no qual o autor ingressou aos dez anos.
Esse é o primeiro parágrafo da obra:
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.|1|
Tal início já prenuncia o tom geral da narrativa: a saída da infância, cheia de suas ilusões e do carinho do amor doméstico, para a descoberta da dor, da luta, dos desejos sexuais, entre outros elementos.
→ Videoaula: Análise literária de O Ateneu, de Raul Pompeia
Notas
|1| POMPEIA, R. O Ateneu. 16. ed. São Paulo: Ática, 1996.
Crédito de imagem
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