Onde, aonde e donde representam expressões que, porventura, causam-lhe alguns questionamentos? Se sim, saiba que elas, assim como muitas outras, representam o motivo de tantos “tropeços” linguísticos que acometem grande parte dos usuários.
Evidentemente que apresentam semelhanças em vários aspectos, sobretudo no que diz respeito à fala e à grafia, contudo divergem quanto ao emprego mediante a circunstâncias específicas de interlocução. Vejamos, pois, algumas de suas características:
Antes de tudo, convém nos atermos a um detalhe bastante relevante: “onde” se caracteriza como um advérbio de lugar, portanto, somente deve ser utilizado para tal função. Sendo assim, ao nos depararmos com discursos do tipo:
Gostaria de ter uma amiga onde eu pudesse confiar. (situação incorreta)
Reformulando, obteríamos:
Gostaria de ter uma amiga na qual eu pudesse confiar.
Constatamos que em vez do advérbio foi utilizado um pronome relativo, visto que sua função é a de substituir o nome (amiga). Situação adequada ao padrão formal da linguagem.
Analisemos agora alguns fragmentos inerentes a uma conhecida canção da cantora Paula Fernandes, intitulada Jeito de mato:
De onde é que vêm esses olhos tão tristes?
[...]
De onde é que salta essa voz tão risonha?
[...]
É teu destino, é tua senda.
Onde nascem com as canções.
[...]
Fonte: http://www.letras.com.br/paula-fernandes/jeito-de-mato
Percebemos que um dos referidos vocábulos se encontra nela demarcado. Quais seriam os pressupostos nele presentes?
O advérbio de lugar “onde” denota estaticidade, permanência, ininterrupção, fazendo referência ao lugar em que alguém está ou onde acontece um determinado fato. Uma boa dica no sentido de descobrirmos se o uso desse termo é indicado ou não é se na oração couber o emprego das preposições “em, ou na e da”. Constatemos alguns exemplos:
Onde se encontram esses olhos tão tristes?
Na sua linda face.
Onde nascem as canções?
No momento de inspiração do artista.
Já “aonde” (preposição “a” + advérbio “onde”) denota aproximação, movimento, destino, partida ou regresso, fazendo alusão às expressões “a que lugar”, “para algum lugar”. Tal advérbio é usado com os verbos ir, chegar, retornar e outros que requerem o uso da preposição “a”. Eis, portanto, alguns casos representativos:
Aonde você foi ontem à noite?
À solenidade de formatura.
Com essa pressa, aonde você pretende chegar?
Ao cinema, pois combinei com meus amigos de assistirmos ao filme que estreará hoje.
Situemo-nos no primeiro verso da canção e optemos por trocar o advérbio em questão por:
Donde é que vêm esses olhos tão tristes?
Cumpre dizermos que tal colocação se encontra adequada, uma vez que se constata o valor circunstancial de lugar (aquilo que vem, vem de algum lugar) em consonância com o verbo vir, o qual exige o uso da preposição “de”, agregada ao advérbio “onde”.