Naturalismo no Brasil

O Naturalismo no Brasil vigorou entre 1881 e 1902. Esse estilo de época conta com obras importantes como O cortiço (de Aluísio Azevedo) e O Ateneu (de Raul Pompeia).

Padre, homem e mulher na capa do romance O mulato, obra inaugural do Naturalismo no Brasil.
Capa do romance O mulato, publicado pela editora Principis. A obra inaugurou o Naturalismo no Brasil.[1]

O Naturalismo no Brasil foi inaugurado com a publicação, em 1881, do romance O mulato, de Aluísio Azevedo. As principais características desse estilo de época são o determinismo, a zoomorfização e o antirromantismo. A principal obra naturalista brasileira é outro livro de Aluísio Azevedo — o romance O cortiço.

Leia também: Naturalismo — características e principais representantes na literatura mundial

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Naturalismo no Brasil

  • O Naturalismo no Brasil apresenta objetividade, determinismo e zoomorfização.

  • Esse estilo de época teve início no Brasil em 1881, com a publicação do romance O mulato.

  • Os autores naturalistas brasileiros mais famosos são Aluísio Azevedo e Raul Pompeia.

  • As principais obras naturalistas brasileiras são O Cortiço, O Ateneu e Bom-Crioulo.

Contexto histórico do Naturalismo no Brasil

Em 1859, o inglês Charles Darwin (1809-1882) publicou sua obra científica A origem das espécies. Esse livro foi um marco importante para a valorização da ciência no século XIX. Assim, uma espécie de culto à ciência tomou conta do pensamento da época. Essa perspectiva positivista estava também em evidência no Brasil, durante o final do século XIX.

Durante a década de 1880, o país assistia ao fortalecimento do movimento republicano e abolicionista. As ideias republicanas, assim como a visão científica da época, opunham-se ao conservadorismo representado pelo imperador D. Pedro II (1825-1891). Assim, essa década foi concluída com dois eventos históricos importantes: a Abolição da Escravatura, em 1888, e a Proclamação da República, em 1889.

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O que foi o Naturalismo no Brasil?

O Naturalismo no Brasil foi um estilo de época inaugurado em 1881, com a publicação do romance O mulato, do escritor brasileiro Aluísio Azevedo. E durou até 1902, apesar de continuar a influenciar alguns autores pré-modernistas.

→ Videoaula sobre Naturalismo na obra O Cortiço

Principais características do Naturalismo no Brasil

O Naturalismo no Brasil apresenta estas características:

  • objetividade;

  • realismo;

  • caráter cientificista;

  • visão determinista;

  • zoomorfização;

  • oposição ao Romantismo;

  • predominância do instinto sexual nos personagens.

É preciso salientar que a visão cientificista do século XIX apresenta elementos racistas e homofóbicos, além de defender a existência da histeria feminina. Daí a presença desses elementos equivocados em algumas obras do período, no Brasil e na Europa.

Veja também: Pré-modernismo — período que marcou a transição do Simbolismo para o Modernismo no Brasil

Autores do Naturalismo no Brasil

Aluísio Azevedo, o principal escritor do Naturalismo brasileiro.
Aluísio Azevedo, o principal escritor do Naturalismo brasileiro.

Obras do Naturalismo no Brasil

  • O mulato (1881), de Aluísio Azevedo.

  • O Ateneu (1888), de Raul Pompeia.

  • A carne (1888), de Júlio Ribeiro.

  • O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo.

  • Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha.

  • A falência (1901), de Júlia Lopes de Almeida.

  • Dona Guidinha do Poço (1952), de Manuel de Oliveira Paiva.

Saiba mais: Realismo no Brasil — estilo literário que apresentou uma visão antirromântica da realidade brasileira

Exercícios resolvidos sobre Naturalismo no Brasil

Questão 1

Analise os seguintes trechos da obra A falência, de Júlia Lopes de Almeida, e marque a alternativa em que se verifica um aspecto determinista.

A) “Dominava ali o trabalho viril, a força física, [...]. E esses corpos de atletas, e essas vozes que soavam alto num estridor de clarins de guerra, davam à velha rua a pulsação que o sangue vivo e moço dá a uma artéria, correndo sempre com vigor e com ímpeto.”

B) “Camila usava agora as cores claras, que lhe iam bem, e que ele lembrara como mais propícias à sua tez, adquiria expressões novas, inflexões de voz em que nascia uma música de tons coloridos e harmoniosos, [...].”

C) “A culpa era do sangue, da sua raça, que menos estima os superiores quanto mais estes a afagam. Por isso ela morria de amores por Mário, um rapazinho atrevido, de gênio autoritário e palavras duras.”

D) “Ruth sentia a impressão de estar numa praça pública. O baile não a interessava, e aqueles preparativos irritavam-na. Tinha uma salvação: fugir para o fundo da chácara, com o seu violino ou um romance qualquer.”

E) “A mesa era farta, o sol brilhante punha na sala manchas vermelhas, através do toldo riscado das janelas; [...]. Nas jardineiras, os tufos rendados das avencas davam, como em todos os dias, igual aspecto de frescura à sala; [...].”

Resolução:

Alternativa C.

O narrador sugere que o “sangue” ou a “raça” de certa personagem determinava o seu comportamento diante de uma pessoa “superior”.

Questão 2

Assinale a alternativa em que o trecho em destaque NÃO apresenta uma característica naturalista.

A) “Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à sua.” (O cortiço)

B) “Esse movimento indefinível que acomete ao mesmo tempo duas naturezas de sexos contrários, determinando o desejo fisiológico da posse mútua, essa atração animal que faz o homem escravo da mulher e que em todas as espécies impulsiona o macho para a fêmea, sentiu-a Bom-Crioulo irresistivelmente ao cruzar a vista pela primeira vez com o grumetezinho.” (Bom-Crioulo)

C) “Reinavam no Ateneu duas perniciosas influências que contrabalançavam eficazmente o porejamento de doutrina a transudar das paredes, nos conceitos de sabedoria decorativa dos quadros, e ainda mesmo a polícia das aparições ubíquas e subitâneas do diretor. [...]. O meio, filosofemos, é um ouriço invertido: em vez da explosão divergente dos dardos — uma convergência de pontas ao redor. Através dos embaraços pungentes cumpre descobrir o meato de passagem, ou aceitar a luta desigual da epiderme contra as puas.” (O Ateneu)

D) “Realizou-se em princípios de outubro, pelas imediações das férias. A concorrência foi maior, compareceram senhoras em grande número, o que não sucedera na de instalação; houve mais capricho de ornatos nas salas; forrou-se a tribuna de verde e amarelo; inscreveram-se os mais aproveitados campeões da oratória do Amor ao Saber. O colégio compareceu fardado; a diretoria, de casaca.” (O Ateneu)

E) “Ela, de ordinário tão meiga, tão comedida, tão escrupulosa mesmo, aparecia-lhe agora como um animal formidável, cheio de sensualidade, como uma vaca do campo extraordinariamente excitada, que se atira ao macho antes que ele prepare o bote...” (Bom-Crioulo).

Resolução:

Alternativa D.

Nos trechos citados, é possível verificar caraterísticas naturalistas, como: determinismo racial (alternativa A), prevalência do instinto sexual e animalização (alternativa B), determinismo do meio (alternativa C) e zoomorfização (alternativa E). Portanto, apenas o trecho da alternativa D não apresenta elementos naturalistas.

Créditos da imagem

[1] Grupo Ciranda Cultural / Editora Principis (reprodução)

Fontes

ABAURRE, M. L. M.; PONTARA, M. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

ALMEIDA, J. L. de. A falência. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

AZEVEDO, A. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.

CAMINHA, A. Bom-Crioulo. São Paulo: Martin Claret, 2006.

MURARI, L. “A vida e os prêmios que ela comporta”: darwinismo social e imaginação literária no Brasil. Revista Brasileira de Literatura Comparada, Salvador, n. 11, 2007.

POMPEIA, R. O Ateneu. 16. ed. São Paulo: Ática, 1996.

Por: Warley Souza

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