Dado o caráter subjetivo que norteia a linguagem literária, o escritor, consoante os efeitos que pretende obter mediante a construção do discurso, utiliza-se de recursos distintos, indo desde as figuras de linguagem e perpassando por aqueles considerados “meios” formais, relacionados à própria estética do poema em si, como é o caso das rimas, métrica e refrão. Elas, as rimas, podem se apresentar segundo critérios diversos, tais como a escolha das palavras, o posicionamento em que se encontram distribuídas no verso e quanto ao tipo de som que apresentam – alvo da discussão que ora se faz presente.
É preciso, portanto, que você estabeleça familiaridade com tal aspecto, no intuito de compreender a essência do trabalho com a linguagem que se manifesta por meio desse gênero: o lírico, por excelência.
Rimas consoantes –São aquelas que apresentam correspondência sonora desde a última vogal tônica do verso. Analise, pois, um exemplo:
A máscara
Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.
No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.
[...]
Augusto dos Anjos
A semelhança se manifesta entre os páreos: existência/ essência– pedra/medra– ardente/contente– transitória/tormentória.
Rimas assoantes ou toantes –Caracterizam-se como aquelas que apresentam semelhança sonora apenas entre as vogais, considerando a última vogal tônica até o final do verso. Observe um caso que representa a modalidade em questão:
Da lagoa da Estaca a Apolinário
[...]
Rio menino, eu temia
aquela grande sede de palha,
grande sede sem fundo
que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
caminho de pedras eu buscava,
que não leito de areia
com suas bocas multiplicadas.
[...]
João Cabral de Melo Neto
Tal aspecto se faz presente entre o páreos “cobiçava/buscava”.
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