Mario Quintana é um escritor brasileiro. Ele nasceu em Alegrete, cidade gaúcha, em 30 de julho de 1906. Mais tarde, estudou em colégio militar, trabalhou em uma farmácia, participou da Revolução de 1930 e atuou como tradutor. Durante muitos anos, morou no hotel Majestic, em Porto Alegre.
O poeta, que morreu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, escreveu obras de difícil classificação estilística, mas comumente associadas à segunda fase do Modernismo brasileiro. A principal característica de sua poesia é a valorização do cotidiano, além do uso tanto de versos regulares quanto livres.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Mario Quintana
- 2 - Biografia de Mario Quintana
- 3 - Qual o estilo literário de Mario Quintana?
- 4 - Principais obras de Mario Quintana
- 5 - Poemas de Mario Quintana
- 6 - Prêmios recebidos por Mario Quintana
Resumo sobre Mario Quintana
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O escritor Mario Quintana nasceu em 1906 e faleceu em 1994.
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Além de poeta, também trabalhou em farmácia e foi tradutor.
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Suas obras comumente são associadas à segunda geração modernista.
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Seus poemas apresentam temática do cotidiano, humor e ironia.
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Seu primeiro livro publicado foi A rua dos cataventos.
Biografia de Mario Quintana
Mario Quintana nasceu em 30 de julho de 1906, na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul. O pai do poeta era farmacêutico. Com seis anos de idade, o pequeno Quintana aprendeu a ler, em uma família que valorizava a poesia. Ainda na infância, escreveu os primeiros poemas.
Na adolescência, se mudou para Porto Alegre. No ano de 1919, ingressou, como interno, em um colégio militar. Tinha 18 anos de idade quando começou a trabalhar na Livraria do Globo. Em seguida, voltou a Alegrete para trabalhar na farmácia com o pai. Mas quando a mãe e o pai faleceram, respectivamente, em 1926 e 1927, o poeta voltou para Porto Alegre.
Ali, trabalhou no jornal O Estado do Rio Grande e, em 1930, passou a escrever também para a Revista do Globo. Durante a Revolução de 1930, se alistou voluntariamente, em favor de Getúlio Vargas (1882-1954). Seis meses depois, trabalhava como tradutor na editora Globo, em Porto Alegre.
Já em 1940, publicou seu primeiro livro — A rua dos cataventos. Porém, só na década de 1960 passou a ser conhecido fora de seu estado natal. E, no final da década de 1970, tentou entrar para a Academia Brasileira de Letras, sem sucesso. Solteiro, sempre morou em pensões e hotéis como o Majestic, onde morou de 1968 a 1980.
Esse hotel se tornou a Casa de Cultura Mario Quintana, em 1983. Por fim, Quintana foi morar no hotel Royal, de propriedade do ex-jogador de futebol Paulo Roberto Falcão. O poeta faleceu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre. Além de seus livros, também deixou traduções de obras de autores famosos, como Marcel Proust (1871-1922).
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Qual o estilo literário de Mario Quintana?
Segundo Daiane Pedroti Venturin (mestre em Letras, Cultura e Regionalidade):
Enquadrar Mario Quintana em uma escola poética ou movimento estético é tarefa complicada e pouquíssimos críticos se aventuraram a isso. O próprio poeta esquiva-se de qualquer definição ou classificação. Diz ele, nas páginas do Caderno H: “A minha escola poética? Não frequento nenhuma./ Fui sempre um gazeador de todas as escolas. Desde assinzinho... Tão bom!”1
Nessa mesma perspectiva, citamos o crítico literário Fábio Lucas:
Quem frequenta a produção do poeta gaúcho sabe que as suas composições não guardam rigoroso compromisso com a estética do Modernismo. Muitas se apresentam modernas sem serem modernistas. Não obstante ter estreado em 1940, com A Rua dos Cataventos, não se sentiu bloqueado no gosto pelos versos medidos e pelas rimas engenhosas. Nem se tornou um experimentalista descontrolado.2
No entanto, ao considerarmos o seu período de produção, é comum a associação do poeta à segunda fase do Modernismo brasileiro.
→ Características da obra de Mario Quintana
De qualquer forma, as obras de Quintana apresentam características específicas, que poderíamos chamar de “quintanianas”:
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linguagem simples;
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temática do cotidiano;
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metalinguagem;
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uso intenso de exclamações e reticências;
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humor e ironia;
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caráter memorialístico;
Principais obras de Mario Quintana
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A rua dos cataventos (1940).
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Canções (1946).
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Sapato florido (1948).
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O batalhão das letras (1948).
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O aprendiz de feiticeiro (1950).
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Espelho mágico (1951).
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Inéditos e esparsos (1953).
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Caderno H (1973).
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Pé de pilão (1975).
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Apontamentos de história sobrenatural (1976).
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Quintanares (1976).
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A vaca e o hipogrifo (1977).
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Esconderijos do tempo (1980).
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Lili inventa o mundo (1983).
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Nariz de vidro (1984).
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Sapo amarelo (1984).
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Primavera cruza o rio (1985).
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Baú de espantos (1986).
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Da preguiça como método de trabalho (1987).
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Preparativos de viagem (1987).
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Porta giratória (1988).
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A cor do invisível (1989).
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Velório sem defunto (1990).
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Sapato furado (1994).
Poemas de Mario Quintana
É do livro Apontamentos de história sobrenatural o poema “Ritmo”:
Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco
Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes
No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa
até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!
Nesse poema, o eu lírico valoriza o cotidiano e destaca a repetição (ou ritmo) das ações diárias, como varrer o cisco e escovar os dentes. No final, ele compara o mundo a um pião, que gira, de forma a sugerir que a vida sempre continua. Vale mencionar que a distribuição dos versos na penúltima estrofe busca reproduzir, visualmente, o desenrolar da corda do pião.
Do mesmo livro é o poema “Retrato”:
Morreu ontem.
Portanto, o seu retrato está completo.
A longa vida — sabe Deus com que trabalho —
deixou-nos, na lembrança,
por final,
em companhia de um velhinho suave...
Mas um velhinho suave como os couros gastos,
as madeiras polidas pelo uso,
como os seixos rolados
— suave e rijo!
Sua voz grave e trêmula tinha o som do tempo
e nós sempre nos espantávamos de a estar ouvindo
porque era como se alguém tangesse o silêncio.
Nesse poema, escrito em versos livres, o eu lírico usa a palavra “retrato” como metáfora de “vida”, que só se completa com a morte. E o retrato da existência do velho morto é marcado pela suavidade. Porém, essa suavidade é consequência do tempo, que gasta o couro, cuida de polir a madeira e as pedras. Uma suavidade que acompanha a rigidez provocada pelo trabalho de existir.
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Prêmios recebidos por Mario Quintana
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Prêmio Fernando Chinaglia (1966).
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Medalha Negrinho do Pastoreio (1976).
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Prêmio Machado de Assis (1980).
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Prêmio Jabuti (1981).
Créditos das imagens
[1] Companhia das Letras (reprodução)
[2] Diego Grandi/ Shutterstock
[3] Companhia das Letras (reprodução)
Notas
|1| e |2| VENTURIN, Daiane Pedroti. Poética de Mario Quintana: uma teoria recortada a partir do Caderno H. 2010. Dissertação (Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2010. 2010, p. 26 -27.
Fontes
AACCMQ. Mario Quintana por ele mesmo. Disponível em: http://www.aaccmq.com.br/site/?page_id=126.
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
ARAÚJO, Patrícia Vitória Mendes dos Santos; MITIDIERI, André Luis; ARENDT, João Claudio. Mario Quintana na história literária sul-rio-grandense. Interfaces, Guarapuava, v. 8, n. 2, ago. 2017.
CCMQ. Cronologia da vida e obra de Mario Quintana. Disponível em: http://www.ccmq.rs.gov.br/novo/mario/cronologia.php.
QUINTANA, Mario. Apontamentos de história sobrenatural. São Paulo: Globo, 2005.
VENTURIN, Daiane Pedroti. Poética de Mario Quintana: uma teoria recortada a partir do Caderno H. 2010. Dissertação (Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2010.