Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis é uma autora maranhense cujas obras fazem parte do romantismo brasileiro. Seu livro mais conhecido é o romance regionalista e abolicionista Úrsula.

Busto em homenagem a Maria Firmina dos Reis, em São Luís, no estado do Maranhão. [1]
Busto em homenagem a Maria Firmina dos Reis, em São Luís, no estado do Maranhão. [1]

Maria Firmina dos Reis foi uma escritora brasileira. Ela nasceu em 11 de março de 1822, na cidade de São Luís do Maranhão. Mais tarde, já vivendo na vila de São José dos Guimarães, passou a trabalhar como professora primária. Além disso, publicou poesias em vários periódicos do seu estado.

A romancista, que faleceu em 11 de novembro de 1917, é uma autora do romantismo brasileiro. É a primeira mulher a escrever um romance no Brasil. Úrsula é um romance regionalista, de caráter abolicionista. A escritora também escreveu poesias e uma novela indianista intitulada Gupeva.

Leia também: Castro Alves — outro importante escritor brasileiro de caráter abolicionista

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Maria Firmina dos Reis

  • A escritora Maria Firmina dos Reis nasceu em 1822 e faleceu em 1917.

  • Ela é uma autora pertencente ao romantismo brasileiro.

  • Suas narrativas apresentam características indianistas e regionalistas.

  • A poesia de Maria Firmina possui traços da segunda e terceira gerações românticas.

  • Seu livro mais famoso é o romance regionalista Úrsula.

Videoaula sobre Maria Firmina dos Reis

Biografia de Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis nasceu em 11 de março de 1822, na cidade de São Luís, no estado do Maranhão. Sua mãe, Leonor Felipa, era alforriada. Seu pai, João Pedro Esteves, era dono de terras e sócio do antigo proprietário de Leonor. A escritora foi batizada três anos depois, em 21 de dezembro de 1825. Já em 1827, foi morar com a avó em São José dos Guimarães.

Nessa vila, em 1847, prestou concurso e foi aprovada para ocupar o cargo de professora de primeiras letras. Já em 1853, tirou sua primeira licença do cargo para tratar da saúde. Em 1859, publicou seu romance Úrsula, assinado como “uma Maranhense”. Nesse ano, obteve outra licença do trabalho, durante dois meses, por motivo de doença.

A autora escreveu artigos e publicou poemas em vários jornais e periódicos. Em 1861, publicou poemas nos jornais A Verdadeira Marmota e O Jardim das Maranhenses. O escritor João Clímaco Lobato (1829-1897) dedicou seu livro A virgem da tapera a Maria Firmina dos Reis. Dois anos depois, em 1863, ela escreveu também para o periódico Porto Livre. E publicou poemas no Eco da Juventude, em 1865.

Novamente, tirou outra licença, agora de um ano, em 1870, a qual, no ano seguinte, foi prorrogada por mais três anos. Em 1872, escreveu também para o jornal O Domingo. E, no final de 1879, a escritora solicitou outra licença de um ano. Ela padecia de inflamação no fígado. No entanto, a licença foi negada.

A professora, em 1880, ofereceu, de forma gratuita, em sua vila, uma das primeiras aulas mistas do país, ou seja, em que meninas e meninos compartilham a mesma sala de aula. E publicou um poema no jornal O País. No ano seguinte, tirou outra licença de um mês, não remunerada, e iniciou o seu processo de aposentadoria, concedida no mesmo ano.

Publicou um poema na Revista Maranhense, em 1887, e também o conto “A escrava”. No ano seguinte, com a Abolição da Escravatura, compôs letra e música do Hino à liberdade dos escravos. Em 1889, também escreveu para os jornais Pacotilha e Diário do Maranhão.

Publicou um poema no periódico Federalista, em 1903. Nesse mesmo ano, seu nome foi mencionado no livro História da literatura brasileira, do famoso e polêmico crítico Sílvio Romero (1851-1914). Anos depois, em 1911, com a saúde bastante debilitada, foi visitada pelo então governador do Maranhão, Luís Domingues (1852-1922).

A romancista faleceu em 11 de novembro de 1917, em Guimarães. Apesar de receber algum reconhecimento no Maranhão, as obras da autora caíram no esquecimento. Só décadas depois, começaram a surgir estudos acadêmicos que demonstravam a importância da escritora na literatura brasileira.

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Características da obra de Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis é uma escritora do romantismo brasileiro. Suas obras, portanto, são marcadas pela subjetividade, exagero sentimental, idealização do amor e da mulher.

Seu livro mais famoso, Úrsula, é um romance regionalista e histórico, de caráter abolicionista. Já a novela Gupeva pode ser classificada como uma narrativa indianista, cuja heroína é a indígena Épica. Portanto, apresenta cunho nacionalista e caráter heroico.

Apesar de fazer parte da geração de Gonçalves Dias (1823-1864), a primeira geração do movimento romântico, Maria Firmina dos Reis possui uma poesia caracterizada pelo sentimentalismo exagerado dos ultrarromânticos, além da fuga da realidade, característicos da segunda geração do romantismo, como pode ser observado neste trecho do poema “Sonho ou visão?”, do livro Cantos à beira-mar|1|:

Tu vens rebuçado
Nas sombras da noite
Sentar-te em meu leito;
Eu sinto teus lábios
Roçar minhas faces
Roçar no meu peito.
Não sei bem se durmo,
Se velo — se é sonho,
[...]

Contraditoriamente, também é possível perceber certo realismo da terceira geração do romantismo, em poemas como “Esquece-a”, também de Cantos à beira-mar:

Amor é gozo ligeiro,
Mas é grato e lisonjeiro
Como o sorriso infantil;
Promessa doce, e mentida,
Alenta, destrói a vida;
É um delírio febril.
[...]

Principais obras de Maria Firmina dos Reis

  • Úrsula (1859) — romance.

  • Gupeva (1861) — novela.

  • Cantos à beira-mar (1871) — poesias.

  • A escrava (1887) — conto.

Análise da obra Úrsula, de Maria Firmina dos Reis

Capa do livro “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis, publicado pela editora Antofágica.
Capa do livro Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, publicado pela editora Antofágica. [2]

Úrsula é um romance abolicionista que conta a trágica história de amor entre Tancredo e Úrsula, os heróis da narrativa. O rapaz sofre um acidente de cavalo e é socorrido pelo escravo Túlio, que o carrega nos ombros até uma fazenda. Ali vive Úrsula, a qual não mede esforços para cuidar do rapaz acidentado. Assim, os dois se apaixonam.

Luísa B. é a mãe da heroína e está muito doente. Seu irmão, portanto tio de Úrsula, cortou relações com a irmã desde que ela se casou com Paulo B., que, segundo o vilão, não tinha o mesmo nível social. O marido foi assassinado pouco tempo depois do casamento. Além disso, Luísa também ficou paralítica.

Fernando P., além de ter assassinado Paulo B., está apaixonado pela sobrinha, ou seja, Úrsula. Assim, Tancredo e sua amada precisam lutar contra esse bandido para enfim terem seu almejado final feliz. No mais, paralelamente à história de amor, o narrador também reflete sobre a escravidão.

Os dois personagens representantes das pessoas escravizadas são Túlio e a velha Susana. Ela traz a memória da África, onde foi capturada há muito tempo e perdeu a liberdade. Já Túlio, com a ajuda e gratidão de Tancredo, consegue comprar sua carta de alforria. E vai se despedir de Susana, antes de partir.

Desse modo, a obra traz elementos típicos de um romance romântico, tais como a presença de heróis apaixonados (Tancredo e Úrsula) perseguidos por um vilão inescrupuloso (comendador Fernando). E inova ao dar voz e protagonismo a personagens negros e escravizados (Susana e Túlio).

Veja também: Luís Gama — jornalista e escritor brasileiro considerado um dos maiores abolicionistas do país

Importância de Maria Firmina dos Reis

A importância de Maria Firmina dos Reis está associada à literatura e à política. Isso porque ela é a primeira mulher a escrever um romance no Brasil. Até o momento, ela é a única escritora romântica reconhecida em nossa literatura. Além disso, é também a primeira escritora negra a ter visibilidade na história de nosso país.

Seu romance Úrsula, de caráter abolicionista, foi publicado bem antes do famoso romance abolicionista A escrava de Isaura, de Bernardo Guimarães (1825-1884). Por ser da autoria de uma mulher negra, filha de uma ex-escrava, tem maior força política. Já Gupeva, narrativa que conta a história de amor entre um francês e uma indígena, foi publicado antes de Iracema, de José de Alencar (1829-1877).

Além disso, a autora era uma mulher à frente de seu tempo, pois tinha não só independência intelectual, mas também financeira. Isso não era muito comum no século XIX, em que a mulher era estimulada a se casar e depender financeiramente do marido. Maria Firmina dos Reis, por exemplo, nunca se casou.

Notas

|1| MEMORIAL de Maria Firmina dos Reis. Cantos à beira-mar. Disponível aqui.

Créditos de imagem

[1] Luis War / Shutterstock

[2] Editora Antofágica (reprodução)

Por: Warley Souza

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