José Saramago

José Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, na província do Ribatejo, em Portugal. Além de escritor, foi serralheiro mecânico, tradutor, se filiou ao Partido Comunista Português e participou do Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI).

O escritor, que faleceu em 18 de junho de 2010, na Espanha, recebeu o Prêmio Nobel, em 1998, e escreveu obras caracterizadas pela presença de crítica social, política e religiosa. Além disso, o romancista faz um uso bastante peculiar das vírgulas, o que dá ao seu texto um caráter de originalidade.

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Biografia de José Saramago

José Saramago e sua esposa, Pilar del Río.[1]
José Saramago e sua esposa, Pilar del Río.[1]

José Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, na província do Ribatejo, em Portugal. De origem humilde — seus pais eram trabalhadores rurais —, Saramago, já em Lisboa, fez curso técnico em serralheria mecânica, profissão que exerceu a partir de 1940, mas que abandonou, em 1955, para trabalhar como tradutor.

De sua atuação política, são destaques:

  • a sua filiação, em 1969, ao Partido Comunista Português,
  • sua participação no Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), do Ministério da Educação, em 1974, e
  • no Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI), em 1975.

Além de escrever livros e fazer traduções, o escritor trabalhou nos seguintes periódicos: Seara Nova, Diário de Lisboa e Diário de Notícias. Também atuou na Associação Portuguesa de Escritores, presidiu a Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores, entre 1985 e 1994, filiou-se ao Parlamento Internacional de Escritores, em 1993, e foi presidente honorário da Sociedade Portuguesa de Autores, em 1994.

A consagração como escritor chegou em 1998, quando José Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Seu discurso, na cerimônia, foi dedicado a Pilar, sua esposa, com quem tinha se casado em 1988, e começa com uma referência ao seu avô materno: “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever”.

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Além do Nobel, José Saramago também recebeu:

  • Prêmio da Associação de Críticos Portugueses (1979);
  • Prêmio Cidade de Lisboa (1981);
  • Prêmio Pen Clube (1982 e 1985);
  • Prêmio Literário do Município de Lisboa (1982);
  • Prêmio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (1984);
  • Prêmio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1985);
  • Prêmio Dom Dinis (1986);
  • Prêmio Grinzane-Cavour (1987) — Itália;
  • Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1991);
  • Prêmio Internacional Ennio Flaiano (1992) — Itália;
  • Prêmio Brancatti (1992) — Itália;
  • Prêmio Literário Internacional Mondello (1992) — Itália;
  • Prêmio The Independent Foreign Fiction (1993) — Reino Unido;
  • Grande Prêmio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores (1993);
  • Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1993);
  • Prêmio Camões (1995);
  • Prêmio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores (1995);
  • Prêmio Rosalía de Castro (1996) — Espanha;
  • Prêmio Arcebispo Juan de San Clemente (1998) — Espanha;
  • Prêmio Europeu de Comunicação Jordi Xifra Heras (1998) — Espanha;
  • Prêmio Nacional de Narrativa Città di Pienne (1998) — Itália;
  • Prêmio Scanno da Universidade Gabriele d’Annunzio (1998) — Itália;
  • Prêmio Internacional de Narrativa Città di Penne-Mosca (1998) — Itália;
  • Prêmio Canárias Internacional (2001) — Espanha;
  • Prêmio Dolores Ibárruri (2006) — Espanha.

Em 1993, Saramago, um escritor ateu, decidiu sair de Portugal e morar na Espanha. Sua atitude era um protesto contra a censura do governo, que impediu que seu livro O evangelho segundo Jesus Cristo concorresse ao Prêmio Europeu de Literatura. Assim, o escritor viveu na Espanha até a sua morte, em 18 de junho de 2010.

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Características literárias de José Saramago

As obras de José Saramago fazem parte da literatura contemporânea portuguesa e apresentam as seguintes características:

  • intertextualidade;
  • realismo social;
  • alegorias;
  • antropocentrismo;
  • visão humanista;
  • crítica sociopolítica;
  • anticlericalismo;
  • uso incomum de vírgulas;
  • valorização da linguagem oral;
  • análise do passado histórico;
  • traços de realismo mágico ou fantástico;
  • diálogo com a tradição da literatura portuguesa.

Obras de José Saramago

Capa do livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, publicado pela editora Companhia das Letras.[2]
Capa do livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, publicado pela editora Companhia das Letras.[2]
  • Terra do pecado (1947) — romance.
  • Os poemas possíveis (1966) — poesia.
  • Provavelmente alegria (1970) — poesia.
  • Deste mundo e do outro (1971) — crônicas.
  • A bagagem do viajante (1973) — crônicas.
  • O ano de 1993 (1975) — poesia.
  • Os apontamentos (1976) — crônicas.
  • Manual de pintura e caligrafia (1977) — romance.
  • Objeto quase (1978) — contos.
  • Poética dos cinco sentidos: o ouvido (1979) — crônicas.
  • Levantado do chão (1980) — romance.
  • Viagem a Portugal (1981) — literatura de viagem.
  • Memorial do convento (1982) — romance.
  • O ano da morte de Ricardo Reis (1984) — romance.
  • A jangada de pedra (1986) — romance.
  • História do cerco de Lisboa (1989) — romance.
  • O evangelho segundo Jesus Cristo (1991) — romance.
  • Cadernos de Lanzarote I (1994) — diário.
  • Cadernos de Lanzarote II (1995) — diário.
  • Ensaio sobre a cegueira (1995) — romance.
  • Cadernos de Lanzarote III (1996) — diário.
  • Moby Dick em Lisboa (1996) — crônicas.
  • Todos os nomes (1997) — romance.
  • O conto da ilha desconhecida (1997) — contos.
  • Cadernos de Lanzarote IV (1998) — diário.
  • Cadernos de Lanzarote V (1998) — diário.
  • Folhas políticas (1976-1998) — crônicas.
  • A caverna (2000) — romance.
  • A maior flor do mundo (2001) — infantojuvenil.
  • O homem duplicado (2002) — romance.
  • Ensaio sobre a lucidez (2004) — romance.
  • As intermitências da morte (2005) — romance.
  • As pequenas memórias (2006) — memórias.
  • A viagem do elefante (2008) — romance.
  • O caderno (2009) — diário.
  • O caderno 2 (2009) — diário.
  • Caim (2009) — romance.
  • Claraboia (2011) — romance.
  • O silêncio da água (2011) — infantojuvenil.
  • Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas (2014) — romance.
  • O lagarto (2016) — infantojuvenil.
  • Último caderno de Lanzarote (2018) — diário.

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Ensaio sobre a cegueira

No romance Ensaio sobre a cegueira, uma cegueira misteriosa começa a atingir os moradores de uma cidade. A primeira vítima é um homem que fica cego, de repente, enquanto seu carro está parado diante de um semáforo. Mais tarde, ele passa a ser chamado, pelo narrador, de o primeiro cego.

Quando vai ao oftalmologista, descreve sua cegueira como “uma cor branca uniforme”. Então, o médico acaba sendo contaminado e, em casa, de repente, fica cego. A partir daí, a epidemia se espalha, mas, misteriosamente, a mulher do médico, como é chamada pelo narrador, não é contaminada.

Cientes da epidemia de cegueira branca, as autoridades governamentais resolvem isolar os contaminados em um manicômio desocupado. O médico e sua esposa são os primeiros a serem transportados para lá. Apesar de enxergar, a mulher prefere fingir a cegueira para ficar ao lado de seu marido.

Ela tem a intenção de ajudar o marido e os outros cegos, mas pede para o médico não contar a ninguém que ela pode ver. Desse modo, ela é a única personagem que pode enxergar todo o horror que os cerca; pois, naquele meio, imperam o caos e a animalidade.

A sujeira toma conta do lugar, e o chão é coberto por “um contínuo tapete de excrementos mil vezes pisados”. Além disso, as pessoas presas ali deixam de lado os valores morais, de forma que o lugar se transforma em cenário de estupro e assassinato. E quando a epidemia se espalha para toda a cidade, a situação caótica é ampliada:

“[...], Chegou a altura de decidirmos o que devemos fazer, estou convencida de que toda a gente está cega, pelo menos comportavam-se como tal as pessoas que vi até agora, não há água, não há eletricidade, não há abastecimentos de nenhuma espécie, encontramo-nos no caos, o caos autêntico deve de ser isto, Haverá um governo, disse o primeiro cego, Não creio, mas, no caso de o haver, será um governo de cegos a quererem governar cegos, isto é, o nada a pretender organizar o nada, Então não há futuro, disse o velho da venda preta, Não sei se haverá futuro, do que agora se trata é de saber como poderemos viver neste presente, [...].”

Dessa forma, Ensaio sobre a cegueira tira da humanidade toda a sua casca de civilização para mostrar que, na verdade, somos todos animais, escravos de nossos instintos e do nosso egoísmo na luta pela sobrevivência e pela satisfação de nossos desejos. Assim, a obra nos faz pensar que essa realidade absurda — onde impera a vontade não só do mais forte, mas também do mais impiedoso — é, na verdade, o retrato do nosso cotidiano, ocultado por nossa confortável cegueira.

Frases de José Saramago

A seguir, vamos ler algumas frases de José Saramago, extraídas de seu romance Ensaio sobre a cegueira.

  • “Sem futuro, o presente não serve para nada, é como se não existisse.”
  • “Pode ser que a humanidade venha a conseguir viver sem olhos, mas então deixará de ser humanidade.”
  • “Não somos uns quantos milhares de homens e mulheres numa natureza imensa e intacta, mas milhares de milhões num mundo descarnado e exaurido.”
  • “Quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.”
  • “Perante a morte, o que se espera da natureza é que percam os rancores a força e o veneno.”
  • “É certo que se diz que o ódio velho não cansa.”
  • “Na morte a cegueira é igual para todos.”

Créditos das imagens

[1] JHC_photo / Shutterstock

[2] Companhia das Letras (reprodução)

Por: Warley Souza

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