O haicai é um poema de forma fixa. Esse gênero de texto surgiu no Japão, no século XVII, e seu criador foi o poeta Matsuo Bashô. O haicai tem apenas uma estrofe de três versos. Nesse terceto, o primeiro e o terceiro versos são redondilhas menores, já o segundo verso é uma redondilha maior. O haicai tem conteúdo objetivo e, preferencialmente, bucólico.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o haicai
- 2 - O que é haicai?
- 3 - Estrutura do haicai
- 4 - Características do haicai
- 5 - Haicai no Brasil
- 6 - Haicai japonês
- 7 - Como se faz um haicai?
- 8 - Exemplos de haicai
- 9 - Origem e história do haicai
Resumo sobre o haicai
- O haicai é um poema de origem japonesa composto por três versos apenas.
- Os versos um e três são redondilhas menores, já o verso dois é uma redondilha maior.
- O haicai japonês ou tradicional não tem rimas e apresenta kigo e cesura.
- O principal autor do haicai japonês é o poeta Matsuo Bashô.
- Afrânio Peixoto e Guilherme de Almeida foram os introdutores do haicai no Brasil.
O que é haicai?
Haicai é um tipo de poema curto e objetivo, formado por três versos.
Estrutura do haicai
A seguir, os principais aspectos ligados à estrutura do haicai:
- Não apresenta título.
- Tem apenas uma estrofe.
- Não tem rimas.
- A estrofe do haicai é um terceto.
- Os versos do terceto são constituídos por redondilhas.
Tradicionalmente, os versos um e três são formados por redondilha menor (verso de cinco sílabas), já o verso dois é uma redondilha maior (verso de sete sílabas).
Características do haicai
Por ser um poema curto ou condensado, o haicai é objetivo, simples e com um eu lírico antissentimental ou impessoal. Busca transmitir serenidade e equilíbrio. Aparenta ser uma produção casual, não intelectual. Nesse gênero de texto, é recorrente a construção de imagens bucólicas e a temática da solidão.
Dois elementos típicos do haicai tradicional são o kigo e a cesura. Assim, o poema deve apresentar um kigo, isto é, um termo que indique a estação do ano em que o haicai foi criado. Já a cesura é um termo, localizado no fim do primeiro ou do segundo verso, que gera uma quebra sintática. Com a cesura, o poema, mesmo sintético, não se confunde com uma frase ou verso único.
Por fim, o haicai deve apresentar um vocábulo que provoque alguma emoção no leitor e na leitora.
Haicai no Brasil
O haicai é um gênero de texto poético que começou a ser produzido no Brasil no século XX, durante o modernismo. O principal introdutor do haicai no Brasil foi o poeta Guilherme de Almeida (1890-1969). Além dele, outros autores brasileiros escreveram haicais, como:
- Afrânio Peixoto (1876-1947);
- Pedro Xisto (1901-1987);
- Helena Kolody (1912-2004);
- Millôr Fernandes (1923-2012);
- Paulo Leminski (1944-1989);
- Alice Ruiz (1946-).
Contudo, os haicaístas brasileiros não seguem à risca as características do haicai tradicional ou japonês. Desse modo, o haicai brasileiro mantém apenas a estrutura fixa (poema de três versos) caracterizadora do gênero. Essa liberdade de criação não impede que eles façam também haicais à moda japonesa.
Haicai japonês
O haicai japonês é o haicai original ou tradicional. Segundo o crítico literário Paulo Franchetti, o filósofo francês Paul-Louis Couchoud (1879-1959) afirma que o haicai “é uma poesia japonesa em três versos, ou antes em três pequenas partes de frase, a primeira de cinco sílabas, a segunda de sete, a terceira de cinco: dezessete sílabas ao todo. É o mais elementar dos gêneros poéticos”.
Portanto, além da estrutura fixa, com versos formados por redondilhas, o haicai japonês não apresenta título nem rimas. Tem temática bucólica, kigo e cesura.
Como se faz um haicai?
Para fazer um haicai, você precisa escrever um poema com apenas três versos. O primeiro e o terceiro versos devem ter cinco sílabas poéticas cada um, e o segundo verso precisa ter sete sílabas poéticas. Nos padrões brasileiros, se você fizer um poema com essa estrutura, ele é um haicai.
No entanto, se você quiser fazer um haicai ao estilo japonês, além de manter a estrutura indicada acima, seu poema não pode ter título nem rimas. A temática deve ser bucólica ou campestre. O poema precisa apresentar o kigo, ou seja, uma palavra que indique a estação do ano em que a obra foi produzida. Já a cesura é uma palavra que encerra o raciocínio no primeiro ou segundo verso, provocando uma descontinuidade.
Exemplos de haicai
→ Exemplos de haicai de Matsuo Bashô
Nem flores nem lua
E ele tomando sakê
Sozinho!
BASHÔ, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução de Kimi Takenaka e Alberto Marsicano. São Paulo: Iluminuras, 1997.
Vai-se a primavera
queixas de pássaros, lágrimas
nos olhos dos peixes.
BASHÔ, Matsuo. Sendas de ôku. Tradução de Olga Savary. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1986.
→ Exemplo de haicai de Paulo Leminski
duas folhas na sandália
o outono
também quer andar
LEMINSKI, Paulo. Caprichos & relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1983.
→ Exemplo de haicai de Alberto Marsicano
Poema sem palavras
Harpa sem cordas
Portal sem portas
GUTTILLA, Rodolfo Witzig (org.). Haicais tropicais. São Paulo: Boa Companhia, 2018.
Acesse também: 10 haicais de Paulo Leminiski
Origem e história do haicai
O haicai surgiu no Japão e é originário do tanka, um poema japonês formado por 31 sílabas, assim distribuídas:
- hokku: terceto com cinco sílabas (versos um e três) e sete sílabas (verso dois);
- agéku: dístico com sete sílabas em cada verso.
Assim, no século XVII, o poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694) separou o hokku do tanka. Surgiu então o haiku ou haikai. No século XIX, esse gênero de texto poético chegou ao Ocidente. Mais tarde, teve como seu principal divulgador o poeta estado-unidense Ezra Pound (1885-1972).
Fontes
FRANCHETTI, Paulo. O haicai no Brasil. Alea, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, jul./ dez. 2008.
LUNARDELLI, Mariangela Garcia. Haicais brasileiros: um estudo do gênero discursivo e uma proposta para o Ensino Médio. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE GÊNEROS TEXTUAIS, 5., 2009, Caxias do Sul. Anais [...]. Caxias do Sul: UCS, 2009.
MACHADO, Daniel dos Santos. Haicai, uma análise da produção em língua portuguesa: tema, forma e conteúdo. 2011. Dissertação (Mestrado em Recepção e Prática de Leituras) – Instituto de Letras, Universidade de Brasília, Brasília, 2011.