Dentro das funções da linguagem, a função poética é aquela que está centrada na própria construção da mensagem, no modo como se elabora e se transmite o seu conteúdo.
Leia também: Função emotiva – função da linguagem centrada no emissor da mensagem
Tópicos deste artigo
- 1 - O que é função poética?
- 2 - Características da função poética
- 3 - Exemplos de função poética
- 4 - Exercícios resolvidos
O que é função poética?
A função poética é uma das funções da linguagem. Nessa função, o enunciado centra-se principalmente na mensagem, em sua construção, em sua forma e em seus efeitos. É uma função ligada à estética e que permite uma interpretação mais livre de quem acessa o seu conteúdo.
É importante lembrar que, apesar do nome, a função poética não ocorre apenas na poesia. Ela pode ocorrer em diversos outros contextos verbais e não verbais, como em textos de prosa, publicitários, em músicas e na pintura. A função poética está presente em qualquer manifestação discursiva que se enquadre nas características dela.
Características da função poética
- A linguagem como expressão artística: a comunicação tem seu caráter essencialmente utilitário e prático diminuído, voltando-se mais para a expressão artística para gerar reflexões e sensações.
- Múltiplas interpretações: enunciados com função poética tendem a ter muitas possíveis interpretações. Na função poética, a mensagem não é necessariamente objetiva, podendo ser subjetiva.
- Uso de linguagem conotativa: as palavras muitas vezes são utilizadas em seu sentido figurado. A linguagem denotativa (sentido literal) não é essencial na função poética.
- Preocupação estética: a forma como a mensagem é transmitida é uma preocupação da função poética, o que inclui a estética da mensagem.
- Sonoridade é um diferencial: é comum que até mesmo o som seja importante para a escolha das palavras na construção do texto, gerando efeitos em sua interpretação.
- Uso de recursos estilísticos: figuras de linguagem tendem a ser muito utilizadas, já que se trata de uma função que explora os recursos sonoros e a estética do enunciado.
- A forma chama atenção por si só: devido às características anteriores, a própria forma do enunciado chama atenção por si só, de modo que ele não tem um significado apenas pelo seu conteúdo, mas também por sua forma.
Leia também: Verso e estrofe – noções conceituais
Exemplos de função poética
A marca Tok&Stok é um exemplo de função conativa, mas também de função poética se levarmos em conta alguns detalhes. Embora, por ser um nome de marca, tenha predominantemente função conativa (para atrair o destinatário à loja), há nesse nome também a função poética devido à sonoridade singular, que chama a atenção do possível consumidor.
Agora, leia este poema, de Fábio Bahia:
Nele, podemos notar que a leitura não é feita de maneira comum: o texto é um poema concreto, pois a distribuição das palavras assume a forma de uma ampulheta. Trata-se de outro caso nítido de função poética.
“Era o danado jagunço por sua fortíssima opinião e recatado rancor, ensimesmudo, sobrolhoso, sozinho sem horas a remedir o arraial, caminhando com grandes passos.”
(Tutameia, de Guimarães Rosa)
A palavra “ensimesmudo” é um neologismo criado pelo autor, misturando as palavras “ensimesmado” e “mudo”, bem como “sobrolhoso” é outro neologismo surgido com base em “sobrolho”, sinônimo de sobrancelha. A função poética manifesta-se por utilizar-se, nesse caso, da sonoridade das palavras para criar uma outra que resume uma ideia, reforçando o significado das outras palavras utilizadas para caracterizar a personagem nesse contexto.
Língua portuguesa
(Olavo Bilac)
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
O parnasianismo é uma das escolas literárias que mais buscam a perfeição estética de suas obras, como podemos ver na escolha das palavras, nas rimas e até no tamanho dos versos desse poema de Olavo Bilac, um dos poetas do movimento.
Veja também: Função referencial – função de linguagem que transmite mensagens informativas
Exercícios resolvidos
Questão 1 – (Cefet-MG) As funções da linguagem referem-se ao conjunto das finalidades comunicativas realizadas por meio dos enunciados da língua.
Preencha corretamente as lacunas do texto a seguir quanto a três funções da linguagem e suas finalidades comunicativas.
Primeiramente, destaca-se a função _______________ que, por meio de sugestões, ordens, apelos propostos pelo emissor, o receptor é estimulado a expressar alguma reação diante de uma mensagem. Em segundo lugar, tem-se a função _______________ em que o emprego de cada palavra é cuidadosamente pensado pelo emissor que prioriza a elaboração de seu texto ao expor a mensagem. E, por último, a _______________ cuja linguagem tem a função de confirmar que a interação entre emissor e receptor se faz presente e são estabelecidas as condições para o sucesso dessa interação, caracterizando o vínculo social.
A sequência que preenche corretamente as lacunas do texto é
A) emotiva / fática / poética
B) conativa / poética / fática
C) emotiva / poética / referencial
D) conativa / metalinguística / fática
E) fática / metalinguística / referencial
Resolução
Alternativa B. A função conativa foca no receptor, a função poética foca na mensagem, e a função fática foca no contato.
Questão 2 – (Enem – Adaptado)
Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[...]
O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
(BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.)
Predomina no texto a função poética, porque:
A) o autor procura testar o canal de comunicação.
B) há explicação do significado das expressões.
C) o leitor é provocado a participar de uma ação.
D) são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos.
E) chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.
Resolução
Alternativa E. Nota-se, pela estrutura do texto, a presença de diversas figuras de linguagem e recursos expressivos e sonoros. Assim, o aspecto formal do texto ajuda a passar uma mensagem, como ocorre na função poética.