As figuras de linguagem são representadas por palavras ou expressões com sentido conotativo. Elas são muito comuns em textos literários. Mas também podem aparecer, com menos frequência, em textos não literários (em que prevalece a denotação). As figuras de linguagem podem ser de palavras, de pensamento, de sintaxe ou de harmonia.
Leia também: Recursos estilísticos e as formas de expressar o sentido figurado
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre figuras de linguagem
- 2 - Videoaula sobre figuras de linguagem
- 3 - O que são figuras de linguagem?
- 4 - Quais são as figuras de linguagem?
- 5 - Exercícios resolvidos sobre figuras de linguagem
Resumo sobre figuras de linguagem
- As figuras de linguagem são um fenômeno linguístico associado à conotação das palavras.
- Existem os seguintes tipos de figuras de linguagem:
- de palavras ou semântica;
- de pensamento;
- de sintaxe ou construção;
- de som ou harmonia.
Videoaula sobre figuras de linguagem
O que são figuras de linguagem?
As figuras de linguagem se referem a expressões conotativas, isto é, com sentido figurado. Portanto, não são denotativas, ou seja, não apresentam o sentido original, habitual ou literal. Elas são muito usadas em textos literários, mas também ocorrem, com menor frequência, em textos utilitários.
As figuras de linguagem podem ser de:
- palavras ou semântica;
- pensamento;
- sintaxe ou construção;
- som ou harmonia.
Quais são as figuras de linguagem?
→ Figuras de palavras ou de semântica
Tipo |
Definição |
Exemplo |
Comparação |
É uma analogia que, obrigatoriamente, utiliza conjunção comparativa. |
Amar é como voar sem asas e sem rede de proteção. |
É uma comparação sem conjunção comparativa. Na metáfora impura, os elementos da comparação são explicitados. Na metáfora pura, um dos elementos da comparação não é explicitado, de forma que o sentido depende mais do contexto. |
Metáfora impura: Amar é voar sem asas e sem rede de proteção. Metáfora pura: E o conflito chegou ao fim quando a pomba pousou sobre nós. Nesse contexto, “pomba” é comparada com “paz”; porém, a palavra “paz” não está explicitada. |
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Ocorre quando há substituição de um elemento por outro, os quais estão, de alguma forma, relacionados: autor(a) e obra, possuidor(a) e possuído(a), lugar e produto, efeito e causa, continente e conteúdo, instrumento e agente, coisa e sua representação, inventor e invento, concreto e abstrato, parte e todo, qualidade e espécie, singular e plural, matéria e objeto, indivíduo e classe. Cada uma dessas relações, nessa ordem, está explicitada nos exemplos ao lado. |
Quando li Clarice Lispector pela primeira vez, fiquei fascinada. Fui ao barbeiro na sexta-feira. Bebi champanhe no Natal. Este diploma é resultado do meu suor. Bebi um copo de guaraná no almoço. O microfone correu atrás da famosa atriz. Entrou em seu porto seguro e deitou-se sobre a confortável cama. Vamos relaxar no jacuzzi. Dizem que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Os olhos passavam diante da pintura. Os mortais têm medo. A mulher é vítima da história. Durante o duelo, o ferro cravou-se no coração do adversário. Não era um Alain Delon, mas sempre estava acompanhado. |
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Catacrese |
Palavra utilizada de forma inapropriada por não respeitarmos seu sentido original. Assim, o sentido original é deixado de lado para dar lugar a um novo sentido ao termo ou expressão. |
“Mesada”, “quarentena”, “embarcar”, “pé da mesa”, “dente de alho” etc. |
Perífrase |
Trocar uma palavra ou expressão, relacionada a coisas ou animais, por outra que a caracterize. |
“Cidade luz” (em vez de “Paris”), “rei das selvas” (em vez de “leão”) etc. |
Antonomásia |
Trocar uma palavra ou expressão, relacionada a pessoas, por outra que a caracterize. |
“Rainha dos baixinhos” (em vez de “Xuxa”), “Poeta dos escravos” (em vez de Castro Alves) etc. |
Sinestesia |
Combinação ou expressão de dois ou mais dos cinco sentidos humanos, ou seja, visão, olfato, audição, paladar e tato. |
Os gritos provocavam arrepios naquele dia amargo. |
→ Figuras de pensamento
Tipo |
Definição |
Exemplo |
Expressa excesso, exagero. |
Mil vezes te traí, mil vezes você me perdoou. |
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Litotes |
Realiza a negação do contrário. |
Dirce não é pobre como dizem. Nesse caso, o enunciador diz que Dirce é rica, por meio da negação do adjetivo contrário a “rica”, ou seja, “pobre”: “não é pobre”. |
Eufemismo |
Suaviza a informação. |
“Tem excesso de peso” (em vez de “está gordo(a)”), “está na terceira idade” (em vez de “está velho(a)”), “faltou com a verdade” (em vez de “mentiu”) etc. |
Sugerir o contrário do que se afirma. |
Como você tem uma voz tão linda, ninguém quer ouvir você cantando. |
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Prosopopeia |
Atribuir características humanas a coisas ou seres irracionais. |
A mesa sorria diante das minhas lágrimas. O gato Garfield dançou e cantou no aniversário do Snoopy. |
Antítese |
Apresenta uma oposição. |
Tristeza e alegria visitavam nossos corações jovens. |
Paradoxo, oximoro ou oxímoro |
Além de oposição, apresenta também contradição. |
Minha tristeza é alegre quando você está comigo. |
Apóstrofe |
Interrupção do enunciado, por meio de expressão de caráter interpelativo ou invocativo. |
A vingança, ó ferozes sanguinários, vai dizimar toda a vida do planeta. |
Gradação |
Elementos expressos em uma sequência gradual de ideias. |
A fome, a sede e a dor tomaram conta do mundo. |
→ Figuras de sintaxe ou de construção
Tipo |
Definição |
Exemplo |
Elipse |
Termo implícito em um enunciado. |
No sábado, apenas cinco alunos na sala de aula. Ou seja: No sábado, [havia] apenas cinco alunos na sala de aula. |
Zeugma |
Elipse de uma palavra mencionada anteriormente no enunciado. |
Estudava mais no fim de semana do que nos dias úteis. Ou seja: Estudava mais no fim de semana do que [estudava] nos dias úteis. |
Anáfora |
Repetição de uma palavra ou expressão no início de versos ou orações. |
Comprei um carro. Comprei uma casa. Comprei uma empresa. Só não comprei seu coração. |
Repetição intencional de uma ideia para dar ênfase à mensagem. Porém, uma repetição não expressiva (literária ou enfática) é considerada vício de linguagem. |
A mim me pareceu ser amor, do bom. Corri com estes pés tão cansados! |
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Anacoluto |
Falta de conexão sintática entre o início do enunciado e a sucessão de ideias. |
O dinheiro não acho que você pode ficar rico. |
Silepse |
Concordância ideológica e não gramatical, isto é, com a ideia e não com o termo expresso. Assim, há silepse de gênero, de número e de pessoa. Cada uma delas, nessa ordem, está explicitada nos exemplos ao lado. |
Sua majestade é muito louco. O povo gritava, e eu não sabia se lhes acompanhava na gritaria. As irmãs estávamos em busca de nosso pai. |
Hipérbato |
Inversão da ordem direta (sujeito, verbo, complemento ou predicativo) de uma oração. |
À casa dos pais chegaram os irmãos ontem. Em vez da ordem direta: Os irmãos chegaram à casa dos pais ontem. |
Polissíndeto |
Repetição de conjunção coordenativa, principalmente de “e”. |
Ele acordava, e corria, e trabalhava, e comia, e dormia, sem pensar muito no futuro. |
→ Figuras de som ou de harmonia
Tipo |
Definição |
Exemplo |
Aliteração |
Repetição de consoantes ou sílabas, recurso muito usado na poesia. |
O trava-línguas: O rato roeu a roupa do rei de Roma. |
Assonância |
Repetição de vogais, recurso muito utilizado na poesia. |
Ainda era minha amiga da vida inteira. |
Onomatopeia |
Termo que imita o som produzido por certos seres. |
“Tique-taque”, “miado”, “cocoricó”, “bem-te-vi”, “tintim” etc. |
Paronomásia |
Palavras semelhantes, mas com grafia, som e significado distintos. Elas são usadas em um mesmo enunciado. |
O costureiro fez um cumprimento e depois mediu o comprimento dos braços da rainha. |
Saiba mais: Linguagem literária e linguagem não literária — qual a diferença?
Exercícios resolvidos sobre figuras de linguagem
Questão 1 (Enem)
Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
Carlos Drummond de Andrade.
Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a
A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
C) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
E) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.
Resolução:
Alternativa C.
O eu lírico faz uma ironia ao dizer que Montes Claros “já tem cinco favelas/ por enquanto, e mais promete”, ao mesmo tempo que parece elogiar a cidade, que cresceu, tem muitas indústrias, e ficou prima rica do Rio de Janeiro. No final, o eu lírico demonstra que está criticando a cidade e não a elogiando.
Questão 2 (Enem)
Oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa significados que se excluem mutuamente. Para Garfield, a frase de saudação de Jon (tirinha abaixo) expressa o maior de todos os oxímoros.
Nas alternativas abaixo, estão transcritos versos retirados do poema “O operário em construção”. Pode-se afirmar que ocorre um oxímoro em
A) “Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.”
B) “...a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.”
C) “Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.”
D) “...o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.”
E) “Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.”
MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
Resolução:
Alternativa B.
Existe uma contradição em “...a casa que ele fazia/ Sendo a sua liberdade/ Era a sua escravidão”. Afinal, “liberdade” e “escravidão” são palavras com sentidos opostos. Portanto, é contraditório a casa ser liberdade e escravidão ao mesmo tempo.
Fontes
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.