Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira) nasceu em 10 de setembro de 1930, em São Luís, no estado do Maranhão. Mudou-se para o Rio de Janeiro, escreveu para alguns periódicos e se tornou crítico de arte. Filiado ao Partido Comunista em 1964, foi preso quatro anos depois e viveu no exílio entre 1971 e 1977.
O poeta, que faleceu em 4 de dezembro de 2016, no Rio de Janeiro, fez parte da Geração de 1945. Ele também participou dos movimentos concretista e neoconcretista. Seus poemas, portanto, são marcados pelo cuidado formal, mas também por seu teor político. Suas obras mais conhecidas são os livros A luta corporal e Poema sujo.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Ferreira Gullar
- 2 - Biografia de Ferreira Gullar
- 3 - Características da obra de Ferreira Gullar
- 4 - Obras de Ferreira Gullar
- 5 - Poemas de Ferreira Gullar
Resumo sobre Ferreira Gullar
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O escritor brasileiro Ferreira Gullar nasceu em 1930 e faleceu em 2016.
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Além de poeta, foi crítico de arte, roteirista de tevê e diretor da Funarte.
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Ele fez parte da Geração de 1945, do concretismo e do neoconcretismo.
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Suas obras apresentam cuidado formal e crítica sociopolítica.
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Escreveu livros como A luta corporal, Poema sujo e Barulhos.
Biografia de Ferreira Gullar
Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira) nasceu em 10 de setembro de 1930, em São Luís do Maranhão. Era integrante de uma grande família, pois era o quarto filho entre os seus dez irmãos. Ele passou a se interessar pela poesia aos 12 anos de idade, após se apaixonar pela primeira vez.
Em 1945, publicou seu primeiro texto no jornal O Trabalho, em Caxias, município maranhense. Quatro anos depois, escrevia para o Diário de São Luís. Nesse mesmo ano, publicou, de forma independente, o seu primeiro livro — Um pouco acima do chão. Em 1950, foi vencedor do concurso do Jornal de Letras, com o poema “O galo”.
No ano de 1951, então no Rio de Janeiro, trabalhou na Revista do Instituto de Aposentadoria e Pensão do Comércio. Dois anos depois, se casou com a atriz Thereza de Aragão e se tornou redator da revista Manchete. Além disso, o poeta passou a escrever sobre arte e participou, em 1956, da Exposição Nacional de Arte Concreta, na cidade de São Paulo. Como crítico de arte, publicou artigos no Jornal do Brasil.
O poeta foi o principal criador, em 1959, do neoconcretismo, movimento que se opunha ao concretismo. Já em 1961, se mudou para Brasília, onde atuou como diretor da Fundação Cultural do Distrito Federal. Além disso, aderiu ao marxismo e, no ano de 1962, passou a fazer parte do Centro Popular de Cultura (CPC), o qual presidiu a partir do ano seguinte.
Sua filiação ao Partido Comunista ocorreu em 1964, no ano do golpe militar que instaurou uma nova ditadura no país. Gullar foi preso em 1968. Mas, em 1971, partiu para o exílio: União Soviética, Chile, Peru e Argentina. Voltou ao Brasil em 1977, após publicar, no ano anterior, o livro Poema sujo, o qual o poeta acreditou ser sua última obra, pois temia ser assassinado pelo regime.
Foi novamente preso ao chegar ao Brasil, mas libertado após pressão internacional. Então, trabalhou como roteirista para a TV Globo durante 20 anos. Já no ano de 1992, foi nomeado diretor da Funarte, cargo que ocupou até 1995. O poeta faleceu em 4 de dezembro de 2016, no Rio de Janeiro.
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Academia Brasileira de Letras
Ferreira Gullar foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 9 de outubro de 2014. Ele se tornou o sétimo ocupante da cadeira de número 37. Tomou posse em 5 de dezembro do mesmo ano e foi recebido por Antonio Carlos Secchin.
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Prêmios de Ferreira Gullar
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Molière (1966)
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Saci (1966)
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Jabuti (2007, 2011)
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Camões (2010)
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Características da obra de Ferreira Gullar
Ferreira Gullar foi um dos autores da Geração de 1945. Portanto, sua poesia é caracterizada pelo rigor formal, a preocupação com a estrutura do poema. Seus poemas trazem a realidade brasileira e seus problemas sociais. Assim, as obras do autor possuem teor político. Porém, seus versos apresentam um lirismo contido, sem exagero sentimental.
O poeta também aderiu ao concretismo e foi um dos criadores do neoconcretismo. Ambas as estéticas estão associadas a uma arte experimental, que valoriza a forma e o espaço. No entanto, o neoconcretismo apresenta obras mais interativas e se opõe à objetividade e universalidade concretistas.
Obras de Ferreira Gullar
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Um pouco acima do chão (1949)
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A luta corporal (1954)
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Poemas (1958)
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João Boa-Morte: cabra marcado pra morrer (1962)
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Quem matou Aparecida (1962)
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A luta corporal e novos poemas (1966)
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Por você, por mim (1968)
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Dentro da noite veloz (1975)
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Poema sujo (1976)
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Um rubi no umbigo (1978)
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Uma luz no chão (1978)
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Na vertigem do dia (1980)
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Crime na flora ou Ordem e progresso (1986)
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Barulhos (1987)
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A estranha vida banal (1989)
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Indagações de hoje (1989)
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Formigueiro (1991)
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Gamação (1996)
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Cidades inventadas (1997)
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Rabo de foguete (1998)
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Muitas vozes (1999)
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O touro encantado (2003)
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Relâmpagos (2003)
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Dr. Urubu e outras fábulas (2005)
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O homem como invenção de si mesmo (2012)
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Autobiografia poética e outros textos (2015)
Poemas de Ferreira Gullar
No poema “Despedida”, do livro Barulhos, o eu lírico fala da morte. Ele diz que deixará “o mundo com fúria”, mesmo que se retire (morra) docemente. E afirma que, no momento da partida, a lembrança dos olhos que ele amou, dos rostos, amigos, tardes e verões dirão para que ele fique, como raízes fundas se arrebentando:
Eu deixarei o mundo com fúria.
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.
De fato
nesse momento
estarão de mim se arrebentando
raízes tão fundas
quanto estes céus brasileiros.
Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
para que eu fique
para que eu fique.
Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.
Os versos não são regulares. No entanto, é perceptível o cuidado do autor com a estrutura do poema, fazendo inclusive o recuo de alguns versos. Além disso, o tema da morte pode até estar sendo tratado com alguma melancolia, porém não há exagero sentimental nesse poema.
Já no longo poema “Omissão”, também do livro Barulhos, é possível identificar o conteúdo político e metalinguístico. Nele, o eu lírico afirma ser estranho que um poeta político fale de “três ou quatro frutas que apodrecem” (possivelmente, em diálogo com o seu poema “Desastre”). Esse questionamento acaba servindo para a voz poética trazer à baila as questões políticas:
Não é estranho
que um poeta político
dê as costas a tudo e se fixe
em três ou quatro frutas que apodrecem
num prato
em cima da geladeira
numa cozinha da Rua Duvivier?
E isso quando vinte famílias
são expulsas de casa na Tijuca,
os estaleiros entram em greve em Niterói
e no Atlântico Sul começa
a guerra das Malvinas.
[...]
— é compreensível
que dês as costas às guerras das Malvinas
à luta de classes
e te precipites nesse abismo
de mel
que o clarão do açúcar nos cega
e diverte ser espectador da morte, que é também a nossa,
[...]
e não ouves o clamor da vida
aqui fora
na rua na fábrica na favela do Borel
não ouves
o tiro que matou Palito
e não ouves, poeta,
o alarido da multidão que pede emprego
[…]
Para conferir mais poemas do autor, leia: Cinco poemas de Ferreira Gullar.
Créditos da imagem
[1] Wikimedia Commons (reprodução)