Eufemismo é uma figura de linguagem caracterizada pelo uso de expressões que tornam o enunciado menos agressivo e mais delicado. É uma figura muito utilizada para falar de conteúdos considerados fortes, polêmicos ou tabus sociais, usando termos menos provocativos e mais suaves. Por isso, é um recurso estilístico empregado em contextos que exigem moderação e costuma ser associado à polidez.
A palavra “eufemismo” tem origem no grego “eufemísmos” e significa “emprego de uma palavra favorável no lugar de uma de mau augúrio”. Os vocábulos “eu” (bem) e “femi” (falar) passam a ideia de “falar de modo agradável”.
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Uso do eufemismo
Palavras ou termos considerados polêmicos ou chocantes, que exigem delicadeza ao serem tratados, podem ser adaptados por meio do eufemismo, que atenua o sentido daquilo que vai abordar. Assim, há graus no uso do eufemismo. Isso pode ser notado dependendo do quanto ele atenua o sentido a partir da substituição que foi feita.
Quando é preciso noticiar a morte de alguém, é muito comum o uso do eufemismo. Observe as nuances a partir destes diferentes enunciados:
- Ela morreu.
- Ela faleceu.
- Ela não está mais entre nós.
- Ela partiu desta para uma melhor.
Perceba que do primeiro enunciado ao último, a notícia da morte é passada de maneiras distintas.
No primeiro, o verbo “morrer” traz alta carga negativa, trazendo a notícia de maneira objetiva e imediata, o que pode ser extremamente chocante para quem recebe a notícia.
No segundo enunciado, o verbo “falecer” está sonoramente mais distante da palavra “morte” e abranda um pouco o seu significado.
No terceiro e no quarto enunciados, o eufemismo é muito mais intenso, buscando afastar ao máximo possível a ideia de “morte”. São construções de certo modo ambíguas e que remetem a diferentes conceitos até que quem recebe a notícia chegue, aos poucos, à ideia de morte. O último enunciado tenta abrandar o significado ao ponto de dizer que ela partiu para “uma melhor”.
Exemplos de uso do eufemismo
Observe abaixo mais alguns exemplos de eufemismo em diferentes contextos:
“Soube que você não é muito meu fã e vim conversar pessoalmente para resolver isso.”
Na fala acima, em vez de dizer diretamente que a pessoa não gosta de si próprio, o enunciador usa um eufemismo para remeter a essa ideia e poder resolver os problemas com seu interlocutor.
“Há tempos, no Passeio Público, tomei-lhe de empréstimo um relógio. Tenho a satisfação de restituir-lho com esta carta. A diferença é que não é o mesmo, porém outro, não digo superior, mas igual ao primeiro.”
Neste trecho de Memórias póstumas de Brás Cubas, do escritor Machado de Assis, a personagem comenta sobre um relógio que tomou emprestado. Parece se tratar de uma fala literal, mas o restante do trecho mostra que se trata da confissão de um furto, feita de maneira mais branda.
“Eu não sou fofoqueiro! Sou apenas um comunicador eficiente...”
Nessa fala, o enunciador tenta suavizar a sua fama de fofoqueiro explicando que é “eficiente ao se comunicar” com os outros.
“Proteja o que você tem de mais importante: faça um seguro conosco!”
É muito comum que propagandas de seguros de vida usem o eufemismo para convencer o consumidor a adquirir esse produto. Ao invés de usar imagens e conceitos negativos, como a morte, utilizam-se mensagens positivas e que não remetam imediatamente à ideia de morte ou de perda, e sim de segurança e de algo que é valioso.
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Exercícios resolvidos
Questão 1 – (Enem)
O nome do inseto pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante certidão de nascimento. De repente, no fim do século XVII, os poetas de Lisboa repararam que não podiam cantar o inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de metáforas, pois possuía um nome “indecoroso” que não podia ser “usado em papéis sérios”: caga-lume. Foi então que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a nova palavra, pirilampo, a partir do grego pyr, significando “fogo”, e lampas, “candeia”.
(FERREIRA, M.B. Caminhos do português: exposição comemorativa do ano europeu das línguas. Portugal: Biblioteca Nacional, 2001)
O texto descreve a mudança ocorrida na nomeação do inseto, por questões de tabu linguístico. Esse tabu diz respeito à
A) recuperação histórica do significado.
B) ampliação do sentido de uma palavra.
C) produção imprópria de poetas portugueses.
D) denominação científica com base em termos gregos.
E) restrição ao uso de um vocábulo pouco aceito socialmente.
Resolução
Alternativa E. O vocábulo pouco aceito socialmente para os costumes da época (“caga-lume”) levou o dicionarista a criar um novo termo mais aceito socialmente, utilizando assim de um eufemismo para contornar o tabu linguístico citado na questão.
Questão 2 – (Vunesp)
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pelo prazer de chorar e pelo “estamos aí”
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague
Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague
(www.chicobuarque.com.br)
O eufemismo consiste em atenuar o sentido desagradável de uma palavra ou expressão, substituindo-a por outra, capaz de suavizar seu significado.
(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013. Adaptado.)
Transcreva o verso em que se verifica a ocorrência de eufemismo. Justifique sua resposta.
Resolução
O verso é “E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir”. A expressão “paz derradeira” que vai “redimir” o eu lírico é uma alusão à ideia de morte, caracterizando o uso do eufemismo.