Discorrendo acerca de alguns tropeços relativos à oralidade e à escrita

O uso de determinadas expressões interferem de forma direta na qualidade do discurso
O uso de determinadas expressões interferem de forma direta na qualidade do discurso

Antes de darmos início à nossa discussão, foquemos em um importante detalhe: qual a razão de tais tropeços?

A resposta para esta indagação refere-se a uma importante ocorrência da qual não há possibilidade de nos desvencilharmos – o fato de que estamos submetidos a um conjunto de normas predeterminadas, as quais nos conduzem a nos comportar de maneira adequada mediante situações específicas de interlocução. Para sermos um tanto quanto precisos, basear-nos-emos no exemplo em questão:


Ao final da palestra, ele resolveu sair com a gente. 


Ora, não precisamos ir muito além para entendermos que a expressão “a gente” confere um caráter mais informal ao discurso, bastante disseminado nas conversas do dia a dia. Sabemos também que, em se tratando do padrão formal da linguagem, o correto seria utilizarmos o pronome pessoal do caso oblíquo “conosco”, fato que resultaria em:


Ao final da palestra, ele resolveu sair conosco. 


Dessa forma, tem-se que tudo não se trata de uma adequação vocabular, a qual funciona mais ou menos assim:

Quando inseridos numa roda de amigos não há problema algum usarmos a expressão “a gente”, pois é bem possível que “conosco” causaria uma certa estranheza, não é verdade? Mas frente a uma entrevista de emprego, a tarefas desempenhadas no ambiente de trabalho, tais como um relatório, um e-mail enviado aos clientes, a uma palestra, enfim, tais situações exigem de nós uma competência vocabular à altura dos acontecimentos. Com estas sim, devemos ter um cuidado especial.

Por esta razão, o artigo que ora se evidencia tem por finalidade apontar algumas situações comunicativas impregnadas de alguns desvios que acabam comprometendo a performance linguística de qualquer usuário. Para tanto, observemo-las, tendo em vista a correta adequação à norma culta:


a) Faziam dois meses que não o víamos.

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Nesse caso, temos que a concordância que se atribui ao verbo “ser” encontra-se em desacordo, uma vez que este denota o sentido de existir, razão pela qual ele deverá sempre permanecer na terceira pessoa do singular – “fazia”.


b) Ao meu ver, os resultados estão indo de encontro às expectativas da clientela.

Aqui não se faz necessário o uso do artigo, somente da preposição. Tal pressuposto faz com que o discurso seja expresso da seguinte forma:


A meu ver, os resultados estão indo de encontro às expectativas da clientela.


c) Houveram muitos pedidos de desistência.

Em referência a este caso, vale ressaltar que o verbo haver também se caracteriza como impessoal, dada a ocorrência de ser substituído por existir. Assim, a flexão deste torna-se inconcebível mediante as regras gramaticais, fato que o faz permanecer no singular – “houve”.  


d) Aluga-se quitinetes para a temporada.

Atendo-nos ao propósito de modificarmos a referida oração para a voz passiva analítica, obtemos:
Quitinetes são alugadas para a temporada. Portanto, temos que “quitinetes” representa o sujeito da oração, motivo pelo qual o verbo deverá concordar com ele – alugam-se.


e) Já é duas horas, devemos, assim, prosseguir viagem.

O verbo ser, indicando horas, concorda normalmente com o predicativo. Assim sendo, o correto é flexionarmos o verbo: Já são duas horas...


f) Naquele evento havia menas pessoas que no outro.

A situação é de total pertinência, por mais que pareça absurda, pois há quem flexione o advérbio de intensidade, quando na verdade ele deve permanecer invariável: menos.

Não somente estas, mas também várias outras situações comunicativas ilustram a situação em evidência, carecendo, pois, de nossa total atenção quanto à forma pela qual as empregamos.

Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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