Crase

A crase é a fusão da preposição “a” com o artigo definido feminino “a(s)” ou com os pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo”, marcada pelo acento grave.

Texto sobre o que é crase.
A crase é representada pelo acento grave (`).

A crase é uma fusão da preposição “a” com o artigo definido feminino “a” ou “as”, ou com a letra “a” do início de alguns pronomes. A crase é representada pelo acento grave (`). É um dos tópicos mais recorrentes nas dúvidas de gramática da língua portuguesa. Ela aparece com frequência em textos formais e informais, e conhecer seu uso correto é fundamental para escrever adequadamente.

Leia também: Qual o correto: “as vezes” ou “às vezes”?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre crase

  • A crase é a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a”.
  • Usa-se crase antes de palavras e expressões femininas e expressões de tempo.
  • Não se usa crase antes de palavras e expressões masculinas, verbos e alguns pronomes.

O que é crase?

A crase é a fusão de duas vogais idênticas: a preposição “a” com o artigo definido feminino “a” ou “as”. Ela é representada pelo acento grave (`) e ocorre antes de palavras femininas, indicando essa junção. Seu uso está relacionado tanto à regência verbal quanto à nominal.

preposição + artigo
a + a = à

Exemplos:

Eu vou a + a casa de minha avó amanhã.
Eu vou à casa de minha avó amanhã.

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Quando usar crase?

A crase deve ser utilizada quando há a combinação da preposição “a” com o artigo definido feminino “a” ou “as”. Veja algumas situações:

→ Antes de palavras do gênero feminino

Quando uma palavra é do gênero feminino, vem antecedida pelo artigo definido “a”. Assim, pode haver crase se esse artigo definido vier antecedido pela preposição “a”. Veja:

Contei meu segredo à minha terapeuta. (contar a + a minha terapeuta)

Note que, se passarmos a expressão para o masculino, “à” é substituído por “ao”.

Contei meu segredo ao meu terapeuta. (contar a + o minha terapeuta)

Da mesma forma, é possível passar a expressão para o plural:

Exemplo:

Contei meu segredo às minhas amigas. (contar a + as minhas amigas)

Atenção! Se a palavra no plural não acompanhar artigo, a preposição “a” aparece sozinha, então não há crase.

Exemplo:

Contei meu segredo a amigas próximas. (contar a + amigas próximas)

→ Em expressões de tempo

A crase é usada em expressões que indicam horas específicas ou períodos específicos do dia quando a preposição usada for “a”.

Exemplos:

Minha apresentação será às 15 horas. (a + as 15 horas)
Às tardes de quarta-feira, elas se reuniam em um clube de leitura. (a + as tardes)

Atenção! Quando a expressão acompanhar outra preposição que não seja “a”, não é necessário crase.

Nossa loja fica aberta até as 20 horas. (até + as 18 horas)

→ Em pronomes demonstrativos iniciados por “a”

A crase pode ocorrer seguindo as mesmas regras antes de alguns pronomes demonstrativos iniciados pela vogal “a”: “aquilo”, “aquele” e suas flexões.

preposição + pronome

Exemplos:

Chegamos àquela conclusão por nós mesmos. (a + aquela conclusão)
Eu não estava acostumado àquilo! (a + aquilo)
Responder àqueles rapazes imaturos era perda de tempo. (a + aqueles rapazes)

→ Locuções compostas

Algumas locuções compostas por palavras do gênero feminino pedem crase:

  • à maneira de
  • à medida que
  • à moda de
  • às pressas

Exemplos:

À medida que nos aproximávamos da verdade, o casal se mostrava mais incomodado.
Terminei às pressas o meu dever de casa para tentar chegar a tempo.

→ Videoaula sobre uso obrigatório da crase

Quando não usar crase?

Há algumas situações que não admitem crase, já que não há artigo definido feminino.

→ Antes de palavras do gênero masculino

Palavras do gênero masculino não podem ser antecedidas pelo artigo “a” ou “as”.

Entreguei ao meu chefe todos os relatórios.
Cheguei atrasado ao torneio e perdi o jogo.

→ Antes de palavras que não levam artigo

Verbos, pronomes pessoais, pronomes de tratamento, pronomes indefinidos e pronomes relativos não levam crase, pois não são antecedidos por artigo definido.

Quanta novidade a ser descoberta...
Era a ela que eu devia respostas.
Discutíamos sem parar e não chegávamos a nenhum lugar.
Esse não era o restaurante a que eu me referia antes.

Atenção! Pode haver crase antes de pronomes relativos quando uma palavra estiver omitida na frase.

Meus irmãos preferiam aquela matéria à que eu preferia. (preferiam aquela matéria a + a [matéria] que eu preferia)

Veja também: Outros casos de combinação e contração de preposições

Casos de crase facultativa

A crase é facultativa antes nomes próprios femininos ou antes de pronomes possessivos. Isso porque esses são casos em que o acompanhamento do artigo feminino é opcional. Veja:

Não posso confessar à Letícia o que sinto por ela... (confessar a + a Letícia)
Não posso confessar a Letícia o que sinto por ela... (confessar a + Letícia)

Não vou contar à nossa mãe o que você fez... (contar a + a nossa mãe)
Não vou contar a nossa mãe o que você fez... (contar a + nossa mãe)

5 dicas sobre o uso da crase

Lembre-se de algumas dicas para tirar sua dúvida sobre o uso da crase:

  1. Substitua a expressão na frase por outra masculina: se for usado “ao”, então há crase no feminino: “à”.
  2. Veja se a palavra seguinte é um verbo: verbos não têm gênero; portanto, não são acompanhados de artigo, de modo que a preposição “a” não leva crase.
  3. Cuidado com pronomes: lembre-se de que muitos não podem ser antecedidos por crase por não serem acompanhados de artigo, como os pronomes pessoais, indefinidos ou de tratamento. No entanto, outros podem, dependendo do contexto, como alguns pronomes demonstrativos ou possessivos.
  4. Observe locuções formadas por palavras no feminino: muitas delas podem ser acompanhadas de artigo e, portanto, de crase.
  5. Atenção ao singular e ao plural: lembre-se de que a crase ocorre quando há artigo, e este sempre concorda em número (singular ou plural) com a palavra seguinte.

Saiba mais: Quais são as locuções pronominais?

Exercícios resolvidos sobre crase

Questão 1

(Furb 2023)

O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Comissão aprova projeto que proíbe distribuição de animais em eventos

O projeto ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois seguirá para o Plenário

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que proíbe a distribuição de animais vivos a título de brinde, promoção, rifa, sorteio ou afins em quaisquer tipos de eventos, bem como a participação deles em atividades circenses, presenciais ou remotas. O projeto ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois seguirá para o Plenário.

O texto insere dispositivos na Lei de Crimes Ambientais e a pena prevista será de detenção, de três meses a um ano, e multa. Essa mesma sanção já é aplicada nos casos de crimes como praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.

Foi aprovado o substitutivo elaborado pelo relator, deputado Delegado Matheus Laiola (União-PR), ao Projeto de Lei 9911/18, do ex-deputado Ricardo Izar (SP) e outros. O relator incorporou texto apensado (PL 4103/20) para vedar animais e atividades circenses, juntando as duas iniciativas em texto com nova redação.

“Não podemos permitir, em pleno 2023, que animais passem por essas situações degradantes para serem utilizados para entretenimento humano”, disse Delegado Matheus Laiola no parecer aprovado. “Precisamos ter uma verdadeira ética de respeito à vida, o que inclui a dos animais”, continuou o relator.

“A distribuição de animais a título de brinde, promoção ou sorteio perpetua o equivocado conceito de que seres vivos, sabidamente dotados de complexos atributos cognitivos e psíquicos, possam ser reduzidos a meras coisas ou objetos de natureza descartável”, disse Ricardo Izar, autor da proposta.

Retirado de: AGÊNCIA CÂMARA. Comissão aprova projeto que proíbe distribuição de animais em eventos. Revista Exame. Disponível em: aodee-aanmmi--emeeventoos/missao-aprova-projeto-que-proibe-distribuicao-de-animais-em-eventos/
Acesso em: 04 set., 2023.

Analise o trecho a seguir:

Sempre que tratamos do direito de um animal __ não ser maltratado, abusado, mutilado ou mesmo ser morto criminosamente, surge a questão de se pretender equiparar animais __ pessoas, o que é um enorme erro, fruto de séculos de indiferença ___ sorte dos animais, o que remonta __ Idade Antiga, quando filósofos gregos, como Aristóteles e Platão, definiram que aqueles seres vulneráveis foram criados para servir ao homem e, por isso, não havia nenhum limite para o exercício desse poder, em que pese o pensamento dos filósofos vegetarianos Pitágoras e Plutarco, que acabaram vencidos em suas ideias. ___ situação se manteve na Idade Média, com Tomás de Aquino e Agostinho, apesar dos apelos de Francisco de Assis, tido como padroeiro dos animais (CARNEIRO, 2020).

Assinale a alternativa que correta e respectivamente preenche as lacunas no excerto:

A) a − a − à − à − a

B) a − às − a − à − à

C) à − às − à − a − a

D) à − às − a − a − a

E) a − à − a − a – à

Resposta

Alternativa A

As ocorrências são: “direito a não ser maltratado” (preposição), “equiparar animais a pessoas” (preposição), “séculos de indiferença à sorte dos animais” (preposição e artigo), “remonta à Idade Antiga” (preposição e artigo), e “A situação se manteve” (artigo).

Questão 2

(Cetap 2021)

O acento grave indicativo de crase estaria empregado com acerto em:

A) Atravessou a pé o viaduto para não ser apelidado de “amarelão”.

B) Engoliu gota a gota a ofensa do grupo.

C) O apoio a amiga ofendida aqueceu o coração.

D) A garota pagou a dívida, vexada.

Resposta

Alternativa C

Há junção da preposição (“apoio a”) com o artigo (“a amiga”): “apoio à amiga”.

Fontes

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.

Por: Guilherme Viana

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