Eis que estamos diante de mais uma das particularidades que norteiam os fatos linguísticos. Desta vez, remetemo-nos ao caso relacionado à segunda pessoa indireta – característica esta demarcada pela utilização de pronomes que, apesar de indicarem o interlocutor (no caso, representado pela segunda pessoa), exigem o verbo na terceira pessoa.
Sendo assim, no intuito de nos tornarmos assíduos conhecedores dessa questão, constatemos os casos que integram tal ocorrência. São eles, portanto:
* Os pronomes de tratamento, tais quais aqui representados:
Tais pronomes indicam uma forma indireta de tratamento de um interlocutor, visto que representam a segunda pessoa do discurso, ou seja, aquela com quem falamos. Entretanto, toda concordância que com eles é realizada se dá por meio da terceira pessoa. Assim como nos demonstra o exemplo subsequente:
Todos esperam que Vossa Excelência cumpra com todas as suas promessas de campanha.
* Também integram este quadro os pronomes de tratamento: “senhor, senhora, você e vocês”, sendo que senhor e senhora são utilizados no tratamento cerimonioso, enquanto que você e vocês são empregados no tratamento familiar. Percebe-se que no Brasil o uso destes últimos se deve à substituição das formas “tu” e “vós”.
* Ainda em se tratando deles (você e vocês), podem ser usados exercendo a função de pronomes pessoais do caso reto (atuando como sujeito ou predicativo), ou de pronomes pessoais do caso oblíquo (atuando como complementos verbais e nominais). Exemplificados nos casos a seguir:
- Você agrada a todos. (sujeito)
- A mais bela de todas é você. (predicativo do sujeito)
- Todas as homenagens foram feitas a você. (complemento verbal)
- Temos toda confiança em você. (complemento nominal)
* Em referência ao padrão formal da linguagem, torna-se necessário mencionar que não existe a mistura dos pronomes “tu” e “você”, fato este amplamente disseminado na linguagem cotidiana, assim como neste exemplo que segue:
Se você quiser, posso te esperar.
Com vistas a possibilitar que tal discurso se torne adequado, obtém-se:
Se você quiser, posso esperá-lo.
* Os pronomes pessoais do caso oblíquo (representados por “o, a, os, as, lhe, lhes, se, si e consigo”) também são usados em combinação com “você”. Perceba:
Já lhe disse algumas vezes que você precisa se esforçar mais.
É difícil saber que vocês só se preocupam consigo mesmos.
* No que tange à linguagem informal, é notável o uso da expressão “a gente” no sentido de se referir à primeira pessoa do plural (nós), uma vez expressa por meio do verbo na terceira pessoa do singular. Vejamos, pois:
Na infância, a gente faz cada coisa!
Reformulando tal enunciado, no intuito de adequá-lo à linguagem padrão, obteríamos:
Na infância, nós fazemos cada coisa!