Estilos de época, escolas literárias...independentemente do nome atribuído às produções literárias que compuseram o cenário de nossas letras, sempre iremos nos deparar com afinidades e contraposições ideológicas. Dito isso, façamos uma viagem no tempo, a começar pelo período introdutório do Modernismo, cuja proposta se fez como forma de desapego aos moldes formais. Depois veio a geração de 1930, cuja intenção se voltou para questões de cunho crítico-social, dada a realidade que demarcara o contexto brasileiro. Por último, tem-se a geração de 1945, cuja proposta se voltou para a forma, deixando o conteúdo em segundo plano.
Como forma de contextualização, nada melhor do que relembrar os acontecimentos históricos que demarcaram a época na qual houve tais manifestações artísticas, sob a autoria de ninguém menos que João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, entre tantos outros. Começando pelo cenário mundial, o clima era demarcado pelo período pós-guerra, finda a Segunda Guerra Mundial. Iniciava-se, assim, a chamada Guerra Fria, representada por duas grandes potências – de um lado, os Estados Unidos (regidos pelo sistema capitalista); de outro, a União Soviética (regida pelo socialismo).
Em solo brasileiro, Getúlio Vargas era destituído do poder pelos mesmos militares que antes o apoiavam, mesmo tendo retornado depois, em 1951, por meio do voto direto. Para reger a nação entrava Eurico Gaspar Dutra, época em que o país ingressou na Guerra Fria ao lado do bloco ocidental, que tentava conter o avanço comunista. Já em 1955, depois de Vargas ter retornado ao poder, teve início uma política desenvolvimentista, liderada por Juscelino Kubitscheck, pautada pelo lema “cinquenta anos em cinco”. Paralelamente ao propósito firmado pelo desenvolvimento industrial, cresciam também as desigualdades sociais e as dívidas do país com o exterior. Foi quando Jânio Quadros tornou-se, então, presidente do Brasil.
Mediante tantas transformações de cunho político, as de cunho cultural não poderiam ficar à margem dos acontecimentos. Daí o surgimento do Teatro Brasileiro de Comédia, revelando grandes talentos; e o desenvolvimento da arte cinematográfica, representada por Dercy Gonçalves, Grande Otelo e demais atores. O rádio apresentava importantes figuras, como, por exemplo, Emilinha Borba, Cauby Peixoto, Ângela Maria e o inesquecível Elvis Presley. Não deixando de mencionar a Bossa Nova, concebida como instrumento de exportação, na figura de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Como antes dito, a preocupação com a forma se sobrepôs à dedicação voltada para aspectos oriundos da realidade social. Assim, sob essa perspectiva, tanto a prosa quanto a poesia foram magnificamente cultuadas, demarcadas pelo traço pessoal de cada artista. Entre eles, destacamos:
* João Guimarães Rosa: com suas inovações temáticas e linguísticas;
* João Cabral de Melo Neto: com seu projeto arquitetônico da linguagem, era comparado a um engenheiro (colocando tijolo sobre tijolo), pois colocava palavra sobre palavra, sempre centrado e bastante racional;
* Clarice Lispector: estava voltada para uma sondagem interior acerca dos personagens que criava, como numa espécie de profunda investigação psicológica, dando prosseguimento à prosa intimista antes iniciada pela geração de 1930.
Na pintura e escultura temos a representação realista das figuras, exacerbada pelo hiper-realismo, o que as diferenciava das abstrações características da arte moderna.