A Páscoa judaica recorda a passagem do povo judeu da escravidão que vivia no Egito Antigo para a liberdade, rumo à terra prometida por Deus a eles, há 3500 anos. A história da Páscoa judaica está registrada na Bíblia, no livro do Êxodo. Os primeiros capítulos do livro trazem as instruções de Deus dadas a Moisés, e repassadas aos demais judeus, de como deveria ser celebrada a primeira Páscoa.
Como celebração e recordação daquele tempo, os judeus comemoram sua Páscoa com cerimônias nas sinagogas e jantares em casa com alimentos que recordam tal passagem.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Significado da Páscoa (Pessach)
- 2 - História da Páscoa judaica
- 3 - Como a Páscoa era celebrada pelos judeus
- 4 - Como a Páscoa é celebrada hoje pelos judeus
- 5 - O que se come na Páscoa dos judeus?
- 6 - Resumo sobre a Páscoa judaica
Significado da Páscoa (Pessach)
A palavra páscoa vem do hebraico, pessach, que significa “passagem”. Judeus e cristãos celebram essa festividade recordando momentos importantes de suas histórias religiosas. Para os judeus, a Páscoa significa a recordação do momento em que seus antepassados viviam como escravizados no Egito Antigo e Moisés foi chamado por Deus para libertá-los, levando-os em missão até Canaã, a terra prometida.
Os primeiros cristãos tiveram suas origens no judaísmo. Jesus Cristo e seus discípulos eram judeus e cumpriam as leis que Moisés recebera de Deus no Monte Sinai e que deveriam ser seguidas pelas gerações seguintes. Jesus, contudo, criticava a severidade dos sacerdotes judeus que cumpriam as leis de Moisés não para agradar a Deus, mas para serem vistos e aplaudidos em praça pública. Antes de ser crucificado, Jesus Cristo participou das celebrações da Páscoa judaica.
A Páscoa cristã empresta da judaica o sentido de passagem, mas não a passagem da escravidão egípcia para a liberdade de Canaã, mas sim a da morte para a vida — a libertação dos pecados que levam à queda humana para uma vida nova, revelada após a ressurreição de Jesus três dias depois de sua morte na cruz.
Com a expansão cristã pelo mundo, principalmente após o Império Romano adotar essa religião como a oficial, a Páscoa cristã se tornou mais conhecida e mais celebrada. Isso não significa que os judeus desistiram de celebrar a Pessach. A tradição continua até os dias de hoje.
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História da Páscoa judaica
José, filho de Jacó (considerado patriarca da nação de Israel), era assessor do faraó e interpretava seus sonhos. Enquanto José esteve no poder, os judeus puderam viver livremente no Egito e se multiplicavam. Com a sua morte e a subida de um novo faraó, a situação se tornou desfavorável para os judeus, conforme o livro do Êxodo (1, 8-10):
“Então um rei, que não havia conhecido José, levantou-se sobre o Egito. Ele disse ao seu povo: ‘Eis que o povo dos filhos de Israel é numeroso e forte demais para nós. Vamos, pois, tomar sábias medidas contra ele, a fim de que pare de multiplicar-se. Em caso de guerra, poderia juntar-se aos nossos inimigos, combater contra nós e sair da terra.”
Nesse período, os egípcios já tinham entrado em confronto com outros povos e havia ameaça de outras invasões estrangeiras. Como os judeus não nasceram no Egito, o novo faraó enxergava aquele povo que se multiplicava como ameaça, por isso tomou medidas contra os judeus, como a escravidão.
“Os egípcios escravizaram, pois, os filhos de Israel com brutalidade e amarguraram-lhes a vida por meio de uma dura servidão, com a fabricação de argamassa e tijolos, com trabalhos no campo e com todo tipo de servidão que brutalmente lhes.” (Ex 1, 13-14)
É nesse contexto de escravidão que Deus chama Moisés para ter um encontro com o faraó e libertar os judeus.
“E agora, visto que o clamor dos filhos de Israel chegou a mim e eu vi a carga que os egípcios fazem pesar sobre eles, vai, pois! Eu te envio ao Faraó. Faze sair do Egito meu povo, os filhos de Israel.” (Ex 3, 9-10)
Moisés se dirigiu até o faraó e lhe fez o pedido de Deus. Entretanto, o faraó se mostrou irredutível, apesar das demonstrações de que o poder de Deus estava com Moisés, como a transformação do seu cajado em dragão ao ser jogado no chão.
A manifestação mais conhecida de Deus contra o faraó são as 10 pragas:
- as águas dos rios se converteram em sangue;
- flagelo das rãs;
- invasão de mosquitos;
- insetos sobre o palácio do faraó;
- peste sobre o gado;
- furúnculos nos homens e nos animais;
- queda de granizo;
- ataque de gafanhotos;
- trevas;
- morte dos primogênitos.
Mesmo com todos esses flagelos sobre o Egito, o faraó não permitiu a libertação dos judeus.
A primeira Páscoa judaica aconteceu entre o fim das pragas sobre o Egito e a travessia do Mar Vermelho. Deus orientou Moisés a avisar para os judeus se prepararem, pois o anjo exterminador viria em ataque sobre o Egito, matando todos os primogênitos que estivessem em casas sem o sinal de sangue nas portas.
Deus disse a Moisés que era o início de um novo tempo: “Este mês será para vós o início dos meses, será para vós o primeiro mês do ano.” (Ex 12, 1-2). Em seguida, Deus repassa ao povo judeu as instruções para a primeira Páscoa. Os judeus deveriam pegar um animal do seu rebanho, alimentar-se da sua carne e aspergir seu sangue na porta de suas casas.
Logo após a passagem do anjo exterminador, o faraó e os egípcios lamentaram a morte dos primogênitos. Somente após esse massacre, o faraó consentiu em libertar o povo judeu:
“Levantai-vos! Saí do meio de meu povo, vós e os filhos de Israel. Ide e servi ao Senhor como tínheis pedido. Quanto a vossas ovelhas e bois, levai-os igualmente como tínheis pedido, e ide embora! Depois, despedi-vos de mim!” (Ex. 12, 31-32)
Apesar desse consentimento, o faraó decidiu perseguir os judeus e impedi-los de fugir. Apesar do temor dos judeus, Moisés, à beira do Mar Vermelho, ergueu seu cajado conforme ordem de Deus e as águas do mar se abriram, permitindo a travessia do povo até o outro lado. Após a passagem, Moisés ergueu o cajado, e as águas do Mar Vermelho se fecharam, afogando os egípcios que tentaram fazer a mesma travessia.
Com a libertação da escravidão, os judeus celebraram a vitória e, a partir daquele momento, a Páscoa.
Como a Páscoa era celebrada pelos judeus
Conforme o livro do Êxodo, a primeira Páscoa dos judeus foi celebrada quando ainda estavam no Egito sendo escravizados. As instruções dessa celebração foram transmitidas por Deus aos judeus por meio de Moisés. Um animal primogênito foi sacrificado, sua carne consumida, e o que sobrou foi queimado. Além da carne, os judeus comeram pão sem fermento e ervas amargas. Cada judeu deveria aspergir o sangue sacrificado nas portas para que nenhum mal acontecesse quando o anjo atravessasse o Egito.
Os judeus instituíram ritos para celebrar a sua Páscoa. Durante sete dias, eles não comiam pães fermentados, celebrando a Festa dos Pães Ázimos. Nos tempos de Jesus, essa festa era celebrada tendo a sua participação. Além disso, os judeus deveriam ir ao templo em Jerusalém fazer sacrifícios de animais primogênitos. De várias regiões, os judeus se dirigiram para Jerusalém em caravanas a fim de cumprir os preceitos da Páscoa.
Durante o nazismo na Alemanha, nas décadas de 1930 e 1940, os judeus foram perseguidos e privados de celebrar publicamente a Pessach. Essa cerimônia era feita às escondidas para não despertar a atenção dos nazistas ou de alguém que pudesse denunciá-los. Em 1943, os judeus iniciaram um levante para combater o domínio nazista. A última batalha do levante judeu em Varsóvia foi em 19 de abril daquele ano, no dia da Páscoa judaica. Os judeus foram derrotados e os nazistas destruíram o gueto.
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Como a Páscoa é celebrada hoje pelos judeus
Os judeus celebram sua Páscoa em suas sinagogas fazendo orações e cumprindo o rito pascal. Além dessas celebrações, eles se reúnem para jantar em família e recordar a libertação dos seus ancestrais do julgo egípcio. Esse jantar é chamado de Sêder. Durante a refeição, é lido o livro Hagadá, que conta a história da libertação dos judeus.
Tanto os alimentos como as celebrações da Páscoa judaica estão ligados à passagem da escravidão para a liberdade. Recorda-se o sofrimento dos ancestrais que viveram como escravizados no Egito, as instruções que Deus repassou a Moisés para que a primeira Páscoa fosse celebrada e a esperança de que dias melhores virão para o povo judeu.
A Páscoa judaica é comemorada conforme o calendário judeu, que segue os ciclos da Lua e do Sol. Em alguns anos, as Páscoas cristã e judaica se coincidem. Os judeus comemoram sua Páscoa anualmente, no dia 14 de nissan.
O que se come na Páscoa dos judeus?
Durante a celebração pascal, os judeus comem alimentos específicos que recordam os que foram consumidos pelos seus antepassados. A seguir, alguns deles:
- Matsá: pão sem fermento. Isso se deve à pressa dos judeus em sair do Egito, levando o pão sem fermento, pois não havia tempo para a total fermentação da massa.
- Zeroá: pedaço de osso com carne tostado para recordar o sacrifício exigido por Deus.
- Maror: uma raiz amarga que lembra o período difícil da escravidão vivida no Egito.
- Charosset: uma mistura de massa, uva e nozes que recorda a argamassa usada pelos judeus para construir suas casas.
- Água salgada: recorda o sofrimento dos judeus enquanto escravizados no Egito.
- Beitzá: ovo cozido que simboliza a esperança do povo judeu em reconstruir o Templo de Salomão.
Resumo sobre a Páscoa judaica
- A Páscoa judaica significa a passagem do povo judeu da escravidão que vivia no Egito para a libertação na terra prometida, há 3500 anos.
- Sua história está registrada nos primeiros capítulos do livro do Êxodo, que recorda o sofrimento do povo judeu escravizado, as ações de Deus contra o faraó e a primeira celebração pascal, que deu início à libertação.
- Era celebrada pelos judeus conforme as ordens que Deus deu a Moisés, pouco tempo antes da libertação no Egito, por meio de refeição com carne de animal primogênito cujo sangue deveria ser aspergido nas portas das casas para que o anjo exterminador os poupasse da morte.
- Atualmente, os judeus mantêm a tradição milenar de recordar a libertação no Egito por meio de celebrações e jantares em casa, consumindo alimentos sem fermento e amargos, que trazem à tona o sofrimento dos ancestrais e a esperança de vida melhor.