As origens da cidade de Roma são caracterizadas por várias lendas. Além da lenda da amamentação dos fundadores da cidade por uma loba, existe ainda a lenda do Rapto das Sabinas, que teria garantido a reprodução da população romana na aurora de seu surgimento.
Pouco tempo depois de fundar a cidade de Roma, Rômulo, seu primeiro rei, viu-se frente à dificuldade de fazer com que a jovem população da cidade gerasse descendentes. Isso em virtude de haver um número muito reduzido de mulheres em Roma. Apesar de ser uma população jovem, e militarizada, a falta de esposas colocava em risco o futuro de Roma.
Para sanar esse problema, Rômulo estabeleceu contatos com as cidades e povos vizinhos, inclusive os Sabinos, para que mulheres fossem cedidas a Roma, demonstrando uma possível prática comum entre povos naqueles momentos da Antiguidade. Porém, todos os pedidos feitos pelos romanos foram negados.
Com a recusa, os romanos não viram outra saída a não ser resolver à força a situação que os afligia. Apesar da indignação e ira da jovem população romana, e dele próprio, Rômulo conseguiu dissimular seus sentimentos. Organizou um festival em homenagem a Netuno Equestre e convidou os povos e cidades vizinhas para se dirigirem a Roma e participarem das festividades.
Homens, mulheres e crianças foram recebidos nas casas romanas e alimentados pelos anfitriões. Durante os jogos que compunham o festival, veio a surpresa: com um sinal feito por Rômulo – e previamente combinado –, os jovens romanos atacaram e raptaram as mulheres presentes à cidade, principalmente as donzelas. Algumas delas, as mais belas, foram sequestradas por plebeus e entregues a patrícios que os contrataram para essa tarefa.
Outra tela referente ao Rapto das Sabinas, esta de Nicolas Poussin (1594-1665). É possível ver Rômulo, fundador de Roma, no canto superior esquerdo
O fato de estarem presentes as mulheres sabinas, levou a lenda a ser denominada de Rapto das Sabinas.
Mas o ocorrido não se encerrou por aí. Os homens das cidades e povos vizinhos enfureceram-se com a ação dos romanos e resolveram contra-atacar. Só que tal ação não ocorreu de forma unificada.
No início, os romanos conseguiram derrotar os primeiros ataques. Os sabinos foram os que adotaram uma tática para entrar na cidade de Roma. Conseguiram o apoio de uma mulher romana, que estava interessada em trair sua cidade em troca do ouro que os sabinos carregavam em seus braços. Tal mulher não conseguiu o ouro, pois foi morta pelos sabinos.
No interior da cidade, romanos e sabinos iniciaram uma guerra. Vendo a deflagração dos conflitos, as mulheres sabinas, que haviam sido desposadas, estando grávidas e com filhos de seus raptores, decidiram intervir na contenda e pôr fim à matança. Alegaram que não queriam que o parricídio marcasse o futuro de seus filhos e netos. O apelo surtiu efeito, pois seus maridos e parentes, cada qual no seu lado da disputa, decidiram pelo fim da guerra comovidos pelo que ouviram.
Um tratado de paz foi estabelecido. Os sabinos foram aceitos na cidade de Roma como parte da população. Seus chefes passaram a fazer parte dos cargos de chefia da cidade.
A população de Roma duplicou. O futuro de esplendor estava garantido à cidade.
Escultura de Giambologna (1529-1608), Rapto das Sabinas. Sua obra-prima, feita em uma única peça de mármore, destaca-se pelo realismo de suas formas
As principais fontes da lenda do Rapto das Sabinas podem ser encontradas em Plutarco e em Tito Lívio. O episódio serviu ainda como tema para o trabalho de inúmeros artistas. Pintores, escultores e literatos compuseram magníficas obras para retratar essa ação de força e violência dos romanos contra as mulheres sabinas.