Um dos maiores problemas que o mundo passou a enfrentar no fim do século XX e início do século XXI foi o terrorismo internacional praticado por grupos radicais islâmicos.
É preciso esclarecer que, durante o período da Guerra Fria, alguns grupos constituídos por indivíduos ligados ao Islamismo, sobretudo na Palestina, como a OLP (Organização para Libertação da Palestina) e seus derivados FPLP (Frente Popular para Libertação da Palestina) e o Setembro Negro, também se valiam de práticas terroristas, mas as causas defendidas tinham mais proximidade com o nacionalismo e o separatismo palestino do que propriamente com as interpretações radicais da tradição islâmica.
Já grupos terroristas que nasceram depois, como a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e o Boko Haram, têm como fundamento para as suas ações interpretações bem específicas da tradição islâmica, tanto do Corão, livro sagrado, quanto dos relatos sobre a vida do profeta Maomé, conhecidos como Suna, e da lei islâmica derivada do Corão, a Sharî'ah. Em vez de causas políticas nacionalistas, territorialistas ou separatistas, o radicalismo islâmico que prega o terrorismo internacional tem a pretensão de subjugar todos os povos que não têm por orientação político-religiosa a fé islâmica. As origens de tais posições podem ser encontradas no wahabismo e na Irmandade Muçulmana.
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Wahabismo, Irmandade Muçulmana e o “jihadismo”
A principal raiz do radicalismo islâmico, ao menos da matriz sunita, pode ser localizada no pensamento de Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703-1792). al-Wahhab era um erudito sunita ligado ao fundador da dinastia Saud, que fundou o reino da Arábia Saudita. O wahabismo, como ficaram conhecidas as ideias de al-Wahhab, foi a primeira interpretação da tradição islâmica que passou a pregar uma conduta mais rígida, livre de interferências de outras culturas e de intercâmbio com outros valores, sobretudo os valores ocidentais.
Essa interpretação ganhou terreno na Arábia Saudita e foi gradualmente se espalhando para outros territórios, primeiro em meios intelectuais, depois entre as pessoas comuns. Uma das organizações que mais absorveram e levaram ao extremo os pressupostos do wahabismo foi a Irmandade Muçulmana, criada nos anos 1920, no Egito, e que teve como principal líder Sayyd Qutb. Foi com membros da Irmandade Muçulmana que terroristas como Osama Bin Laden tiveram a sua doutrinação radical.
A principal expressão violenta dessa doutrinação é chamada de jihad, que, no Islã tradicional, é conhecida como “esforço ou combate espiritual”, “ascese”. Na interpretação radical, a jihad passou a ser encarada como a “guerra santa contra todos os infiéis”, isto é, todos aqueles que não professam a fé islâmica. Os atos terroristas são justificados pelos radicais como ações jihadistas.
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O caso do aiatolás do Irã – radicalismo xiita
É importante abrir um parêntese, quando o assunto é o radicalismo (ou fundamentalismo) islâmico, para o caso dos aiatolás do Irã, que assumiram o poder no país em 1979 com a Revolução Iraniana, que deu origem à República Islâmica do Irã. Enquanto o radicalismo dos terroristas ligados ao wahabismo e à Irmandade Muçulmana é de origem sunita, o fundamentalismo dos aiatolás iranianos é de matriz xiita, isto é, que leva em consideração, além do Corão e da lei islâmica, os símbolos relacionados com a linhagem familiar de Maomé, como os túmulos do profeta e de sua filha, Fátima (além da própria pessoa deles – há um dia de veneração à Fátima no Irã), entre outras coisas que os sunitas não consideram.