A queda do Muro de Berlim foi um evento que começou no dia 9 de novembro de 1989 e deu início ao processo de reunificação da Alemanha (processo concluído no ano seguinte). O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria, e sua queda foi vista como um dos grandes símbolos do fracasso do bloco comunista em todo o leste europeu.
Acesse também: Saiba mais sobre a história da revolução que marcou o continente americano
Tópicos deste artigo
Resumo
-
O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria e esteve de pé durante 28 anos.
-
Foi construído em 1961 para conter o êxodo de habitantes da Alemanha Oriental.
-
A queda do Muro de Berlim está relacionada com a crise econômica e política que atingiu a Alemanha Oriental, na década de 1980.
-
A abertura das fronteiras da Alemanha Oriental foi anunciada pelo porta-voz do país, em novembro de 1989.
-
Milhares de pessoas reuniram-se no Muro de Berlim e começaram a derrubá-lo usando ferramentas, como pás e picaretas.
-
A queda do Muro de Berlim foi concluída com a reunificação das Alemanhas, em outubro de 1990.
Antecedentes históricos
O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria, o nome pelo qual conhecemos o conflito político-ideológico que dividiu o mundo durante grande parte do século XX. Nessa divisão, o mundo tinha duas grandes potências: os Estados Unidos, a frente do capitalismo; e a União Soviética, a frente do comunismo.
A Guerra Fria dividiu o mundo nesses dois grandes blocos, e, no caso da Alemanha, essa divisão ganhou uma dimensão maior. Isso porque ao final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, após ser derrotada, foi ocupada e dividida em quatro zonas de influência: uma francesa, uma britânica, uma norte-americana e uma soviética.
Essa ocupação fez com que a Alemanha fosse dividida em dois grandes blocos, um alinhado com o capitalismo e o outro com o comunismo. Surgiram, assim, a República Federal Alemã (RFA), mais conhecida como Alemanha Ocidental, e a República Democrática Alemã (RDA), mais conhecida como Alemanha Oriental, ambas com capital em Berlim.
No caso de Berlim, essa disputa ocorreu pela divisão da cidade, mesmo que ela estivesse encravada dentro do território comunista. Isso porque Berlim era uma cidade grande e estratégica da qual ninguém quis abrir mão, o que resultou na sua divisão em Berlim Ocidental (RFA) e Berlim Oriental (RDA). Essa divisão estendeu-se durante cinco décadas na história da Alemanha.
Uma vez que o quadro da Guerra Fria foi consolidado, os dois blocos começaram a tomar ações para impor-se sobre o outro. Os Estados Unidos, visando a conter o crescimento do bloco comunista na Europeu, organizou o Plano Marshall, no qual os países europeus receberiam grandes somas de dinheiro americano para serem reconstruídos da destruição causada pela Segunda Guerra Mundial.
O impacto do Plano Marshall na Alemanha foi visível, e o lado ocidental do país logo foi desenvolvido. A população da Alemanha Oriental, insatisfeita com a condução política e econômica de seu país, começou um grande êxodo para o lado ocidental. A perda de habitantes da Alemanha Oriental foi gigantesca e, entre 1948 e 1961, cerca de 2,7 milhões de pessoas haviam abandonado o país|1|.
Imagem do Muro de Berlim do lado ocidental tirada em 1988.**
Decididos a conter essa fuga de habitantes, os líderes da Alemanha Oriental e da União Soviética, Walter Ulbricht e Nikita Kruschev, respectivamente, resolveram construir um muro que isolasse Berlim Ocidental. O Muro de Berlim começou a ser construído na virada de 12 para 13 de agosto, junto a ele foi construída uma cerca de arame farpado. Os blocos de concreto começaram a ser colocados nos dias seguintes.
O Muro de Berlim, oficialmente, isolou Berlim Ocidental, e os cidadãos da Alemanha Oriental foram proibidos de entrar na porção ocidental de Berlim. Durante 28 anos, foi o grande símbolo da divisão do mundo em decorrência da Guerra Fria.
Queda do Muro de Berlim
O bloco comunista, após a Segunda Guerra, sustentou-se durante décadas, mas, na década de 1980, a economia comunista em geral colapsou. O colapso da economia comunista foi reflexo de políticas econômicas inadequadas que não passaram por reformas. O resultado disso foi sentido também na Alemanha Oriental por meio do aumento da dívida externa do país, escassez de mercadorias etc.
A ineficácia da economia comunista (e consequentemente da Alemanha Oriental) gerava uma insatisfação que era amplificada pela inexistência de reformas políticas, uma vez que esse desejo na população era represado pelo autoritarismo. Tentativas de reformas na Alemanha, Hungria e Checoslováquia foram duramente reprimidas pelos soviéticos em 1953, 1956 e 1968, por exemplo.
No final da década de 1980, uma série de movimentos de oposição começou a ser organizada na Alemanha Oriental, mas que foi duramente reprimida. Mas os acontecimentos que se passavam nos outros países do bloco comunista começaram a fazer com que a crise da Alemanha Oriental fosse agravada.
Economicamente, a situação já era muito ruim o que motivava as pessoas a alimentarem o desejo de abandonar o país. Esse desejo foi possível quando, em 1989, a Hungria abriu as suas fronteiras com os países do oeste, isto é, os países capitalistas. O reflexo disso, na Alemanha Oriental, foi considerável, uma vez que milhares de pessoas começaram a migrar para a Hungria para que de lá pudessem atravessar a fronteira com a Áustria e, então, solicitar asilo político na embaixada da Alemanha Ocidental.
Além disso, a Polônia, no mesmo ano, passou por uma grande reforma que possibilitou que o primeiro governo não comunista fosse eleito no país desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Isso também motivou milhares de alemães (da porção oriental) a buscar uma nova vida na Polônia. O crescimento do sentimento de insatisfação da população alemã com seu governo motivou grandes protestos em cidades como Berlim Oriental e Leipzig, as maiores cidades da Alemanha Oriental.
Em outubro e novembro de 1989, os protestos que aconteceram no país foram os maiores desde a década de 1950, e a crise do governo ficava evidenciada pela série de pedidos de demissão de membros do governo da Alemanha Oriental. As tentativas de repressão do governo comunista da Alemanha fracassaram.
O fluxo de alemães (da porção oriental) que procurava nações vizinhas do bloco comunista para alcançar a Alemanha Ocidental cresceu tanto que o governo da RDA, na época governada por Egon Krenz, decidiu decretar uma lei que abriria as fronteiras do país. Essa decisão foi anunciada pelo porta-voz do governo da RDA, Günter Schabowski.
O porta-voz da Alemanha Oriental anunciou por meio de coletiva de imprensa a nova lei de mobilidade de cidadãos, que decretava que não existiriam mais restrições na fronteira da Alemanha Oriental. O porta-voz também afirmou, equivocadamente, que a lei entraria em vigor em caráter imediato, o que motivou uma multidão a se aglomerar nos postos de fronteira da Alemanha Oriental.
A aglomeração de pessoas ao redor do Muro de Berlim foi por volta de 100 mil pessoas, o que forçou Krenz a ratificar a lei. O anúncio foi realizado na manhã de 9 de novembro de 1989, e, na virada de 9 para 10 de novembro, as pessoas que se reuniram começaram a derrubar o muro que separava os dois lados de Berlim.
A simbologia da queda do Muro foi tão grande, que o debate a respeito da reunificação das Alemanhas, separadas desde a década de 1940, ganhou força. O chanceler da Alemanha Ocidental e membro de um partido de centro-direita, Helmut Kohl, foi quem conduziu politicamente o processo de unificação. Esse processo foi formalmente finalizado em 3 de outubro de 1990, e as fronteiras foram totalmente abertas em 1º de julho de 1991.
A derrubada do muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas causaram uma grande comoção nacional e foram comemoradas nas ruas de todo o país.
Acesse também: Veja mais sobre o conflito que contribuiu para colapsar a economia soviética
Consequências
As duas grandes consequências da queda do Muro de Berlim foram:
-
Contribuiu para acelerar a queda do bloco comunista.
-
Contribuiu para a reunificação da Alemanha.
Após a queda do Muro de Berlim, o desafio foi o de modernizar a Alemanha Oriental e reconstruir a economia dessa porção do país. Existem especialistas que estudam hoje a chamada “barreira mental”, que corresponde aqueles alemães que, mesmo passadas três décadas da queda do muro, ainda defendem a sua reconstrução e a separação das Alemanhas.
|1| BRENER, Jayme. Leste europeu: a revolução democrática. São Paulo: Atual, 1990, p. 104.
*Créditos da imagem: Neftali e Shutterstock
**Créditos da imagem: 360b e Shutterstock