Vários intelectuais lutaram nas guerras modernas ou foram vítimas delas mesmo sem terem ido para o front de batalha. Casos muito conhecidos são os dos escritores J. R. R. Tolkien, Erich Maria Remarque e Ernst Jünger. Entre esses intelectuais, um dos mais importantes historiadores do século XX também se destacou. Trata-se do francês Marc Bloch.
Marc Bloch lutou, como os outros autores citados acima, na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), defendendo o seu país, a França. Bloch, à época, recebeu uma condecoração por valentia e bravura. Mas foi no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que Bloch acabou ganhando maior destaque, porém de forma trágica.
No ano de 1940, Bloch, com 54 anos, alistou-se no exército francês para defender novamente seu país contra a ofensiva nazista. Nesse momento, ele já era um historiador consagrado e havia fundado, junto ao amigo e também historiador Lucien Febvre, a revista dos Annales (Anais) de Historiografia, em 1929, além de ter se destacado no campo da história medieval com obras clássicas tais como “A sociedade feudal” e “Os reis taumaturgos”.
Em 1940, Bloch participou da batalha de Dunquerque, na França, participação essa que lhe rendeu outra condecoração por valentia e bravura. Entretanto, como é sabido, parte da França aderiu ao jugo dos nazistas, formando a conhecida França de Vichy, governada pelo Marechal Pétain. Marc Bloch acabou não conseguindo desvencilhar-se da perseguição nazista em seu país, sobretudo por ser, além de opositor à adesão de Petáin ao nazismo, de ascendência judaica.
Segundo informações do historiador Norman Davies, em sua obra A Europa em Guerra, as provações de Marc Bloch: “... começaram quando regressou à casa, em Fougres, no Creuse, e lhe pediram que se registrasse de acordo com os termos do Statut des Juifs (Estatuto dos Judeus) de Vichy. O professor sempre dissera que não era judeu, mas “um francês de ascendência judaica”, um Israélite; e, apesar de ter recebido uma dispensa assinada pelo próprio Pétain, Bloch achou todo aquele episódio profundamente desagradável. Decidiu, então, alistar-se na Resistência e passou a levar uma vida dupla, assumindo um pseudônimo de “Narbonne”. Acabou por ser denunciado por um vizinho, foi preso, torturado e morreu num campo, fuzilado pela Gestapo. (Davies, Norman. A Europa em Guerra (1939-1945). Lisboa: Edições 70, 2008. pp. 334-335.)
Como disse Davies, Bloch, que não se conformava com a subserviência de Vichy ao nazismo, acabou se juntando à Resistência Francesa, organização civil-militar liderada pelo general Charles de Gaulle que empreendeu um permanente enfrentamento a Vichy e à Alemanha nazista. Todavia, sua captura e execução não demoraram. A França (e todo o mundo) perdeu, em 1944, um dos mais importantes historiadores, que poderia ainda ter continuado suas atividades por décadas.
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