Tópicos deste artigo
- 1 - O que foi a Noite dos Cristais?
- 2 - Planejamento do ataque
- 3 - Noite dos Cristais em ação
- 4 - Holocausto
- 5 - Resumo
O que foi a Noite dos Cristais?
Noite dos Cristais é o nome dado ao pogrom realizado em todo o território da Alemanha na virada do dia 9 de novembro para o dia 10 de novembro de 1938. A palavra pogrom faz menção a um ataque violento coordenado contra um determinado grupo de pessoas. No caso da Noite dos Cristais, o ataque contra os judeus alemães foi promovido a mando do Partido Nazista.
Esse pogrom recebeu o nome “Noite dos Cristais” em virtude da quantidade infindável de cacos de vidros que se espalharam pelas calçadas das cidades alemãs como resultado da destruição das vidraças das lojas de judeus pelos nazistas.
Esse episódio é entendido por muitos historiadores como o marco que deu início ao Holocausto na Europa. Apesar de medidas antissemitas serem tomadas no país desde 1933, esse pogrom deu início a grandes ações violentas contra os judeus na Alemanha e desencadeou o aprisionamento em massa desse povo nos campos de concentração.
Planejamento do ataque
A Noite dos Cristais foi organizada pelo Partido Nazista em represália à morte do diplomata alemão Ernst vom Rath em Paris. O diplomata foi vítima de um atentado realizado por Herschel Grynszpan, um estudante de 17 anos. Herschel era polonês, mas havia crescido na Alemanha, e estava revoltado pelo fato de seus pais, que eram judeus, terem sido expulsos da Alemanha pelo Partido Nazista.
Assim, o estudante encaminhou-se para a embaixada alemã com um revólver. O objetivo era matar o embaixador alemão na França, mas acabou vitimando Ernst vom Rath, um funcionário da embaixada. O episódio foi rapidamente utilizado pelo Partido Nazista como propaganda para reforçar o antissemitismo na Alemanha.
O atentado aconteceu no dia 8 de novembro de 1938 e, nesse mesmo dia, ataques contra judeus foram organizados de maneira localizada e sem nenhuma ordem vinda do partido. O historiador Ian Kershaw aponta que Hessen foi um dos locais no qual houve ataques contra os judeus de maneira espontânea|1|.
Hitler e Goebbels, ministro da Propaganda Nazista, aproveitaram a situação para ampliar os atos de violência contra os judeus a fim de que acontecessem em toda a Alemanha. Assim, ambos decidiram que o episódio seria utilizado como pretexto para atacar os judeus alemães. As ordens de Hitler e de Goebbels foram simples: ataques contra judeus deveriam acontecer em todo o país, mas não deveriam passar a impressão de que as ordens haviam vindo da cúpula nazista.
Imagem do funeral do diplomata Ernst vom Rath, morto por um judeu de 17 anos em Paris.*
Ian Kershaw fala que Goebbels “deixou bastante claro, sem dizer de maneira explícita, que o partido deveria organizar e realizar ‘manifestações’ contra os judeus em todo o país, mas fazer com que parecessem expressões espontâneas da ira popular”|2|. A partir dessa orientação, funcionários do Partido Nazista começaram a enviar ordens de ataques e a orientar líderes das tropas de assalto (SA) sobre os procedimentos que deveriam ser tomados.
As ordens dadas por Goebbels destacavam o que deveria e o que não deveria ser feito de maneira alguma. O alvo prioritário eram as sinagogas, mas também poderiam acontecer ataques contra outras propriedades que pertencessem aos judeus. Segundo o historiador Richard J. Evans, as ordens enviadas pelo comando nazista destacavam que
[…] a pilhagem não devia ser permitida, estrangeiros não deviam ser tocados mesmo que fossem judeus, e deveria se tomar cuidado para garantir que prédios alemães perto de lojas ou sinagogas judaicas não fossem danificados. […] Rudolf Hesse reforçou o último ponto, acrescentando […] que não deveria ser ateado fogo a lojas judaicas devido ao perigo para os prédios alemães vizinhos|3|.
Com as ordens claras, grupos de nazistas, muitos vinculados às tropas de assalto, organizaram-se e partiram para o ataque contra os judeus. As gangues nazistas foram, em sua maioria, sem uniformes, já que a ordem era fazer com que o pogrom parecesse uma ação espontânea desvinculada do partido.
Noite dos Cristais em ação
A Noite dos Cristais foi, até aquele momento, o ato de maior violência que havia acontecido na Alemanha sob o comando dos nazistas. Além do Partido Nazista ter incitado seus seguidores a cometer atos de violência, historiadores afirmam que, durante a madrugada, os policiais receberam ordens para não impedir as ações violentas contra os judeus e também para prender tantos judeus homens quanto fosse possível. Os bombeiros também receberam ordens claras de não impedir os incêndios em propriedades judaicas, deveriam somente evitar que propriedades de “arianos” fossem destruídas.
Muitos dos que participaram dos ataques estavam nas comemorações que eram realizadas no país pelos quinze anos do putsch da cervejaria, tentativa de golpe dos nazistas na Baviera, em 1923. Os atos de violência foram gigantescos. Sinagogas foram incendiadas por todo o país, lojas de judeus foram vandalizadas e saqueadas. Por fim, casas habitadas por judeus foram invadidas, destruídas, e muitos moradores foram violentamente agredidos.
Ian Kershaw faz uma descrição perfeita das violências cometidas contra os judeus durante esse pogrom:
As calçadas das grandes cidades estavam coalhadas de cacos de vidro das vitrines das lojas; a mercadoria, quando não pilhada, foi espalhada pelas ruas. Apartamentos privados foram vandalizados, móveis demolidos, espelhos e quadros quebrados, roupas rasgadas, objetos de estimação gratuitamente destruídos […]. O sofrimento humano das vítimas era incalculável. Espancamentos e maus-tratos bestiais, até de mulheres, crianças e idosos, foram comuns|4|.
A Noite dos Cristais foi encerrada no dia 10 de novembro, quando Goebbels emitiu ordem colocando fim ao ataque. Os estragos do pogrom contra os judeus foram gigantescos, a começar pelas vidas humanas. O relatório oficial dos nazistas afirmava que 91 judeus haviam sido mortos durante a ação. Richard J. Evans afirma, porém, que, somado com aqueles que cometeram suicídio, o pogrom nazista pode ter causado a morte de até duas mil pessoas|5|.
A destruição material também foi grande. Richard J. Evans fala que mais de mil sinagogas foram destruídas. Além disso, de 7 mil a 9 mil lojas judaicas foram arruinadas em todo o país, e inúmeras residências foram devastadas. O saldo da destruição material foi calculado em 39 milhões de reichsmarks|6|.
Por fim, 30 mil judeus (todos homens) foram presos e enviados para os campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen|7|.
Holocausto
A política dos nazistas em relação aos judeus sempre foi pautada pela violência. Desde 1933, medidas começaram a ser tomadas com o objetivo de expurgar os judeus da sociedade alemã e forçá-los a abandonar o país. Apesar de terem ocorrido inúmeras demonstrações de violência, a Noite dos Cristais é marcante, pois foi um ataque organizado pelo próprio governo da Alemanha.
A partir desse momento, a política alemã em relação aos judeus caminhou a passos largos para o Holocausto. É importante lembrar que o Holocausto foi o genocídio de judeus cometido pelos alemães ao longo da Segunda Guerra Mundial.
As ações contra os judeus intensificaram-se com a Solução Final, que visava ao extermínio dos judeus na Europa. Assim, seis milhões de judeus foram mortos, vítimas de grupos de extermínio e de campos de concentração.
Resumo
A Noite dos Cristais foi um grande pogrom organizado pelo governo nazista em novembro de 1938. O ataque partiu de ordens diretas de Adolf Hitler e visava a sinagogas e propriedades judias em todo o país.
O pretexto para o ataque foi o assassinato do diplomata alemão Ernst vom Rath em Paris por um estudante judeu, mas o real objetivo era aterrorizar a comunidade judia da Alemanha como forma de forçá-la a abandonar o país.
Durante o pogrom, sinagogas, lojas e residências judias foram atacadas, e muitas foram destruídas completamente. Os judeus foram violentamente agredidos. A polícia alemã também realizou a prisão de 30 mil judeus e enviou essas pessoas para campos de concentração, dando início ao aprisionamento de judeus realizado na Segunda Guerra Mundial.
|1| KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 488.
|2| Idem, p. 489.
|3| EVANS, Richard J. Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2014, p. 655.
|4| KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 491.
|5| EVANS, Richard J. Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2014, p. 663.
|6| Idem, p. 656-657.
|7| KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 491.
*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock