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Quem foi Martinho Lutero?
Martinho Lutero nasceu em Eisleben, em 1483, e morreu na mesma cidade, localizada na Alemanha, em 18 de fevereiro de 1546. Lutero é considerado o pai da Reforma Protestante por ter sido o primeiro clérigo (foi da ordem dos agostinianos) a criticar contundente e abertamente a doutrina da Igreja Católica. O gesto realizado por Lutero, em 1517, de afixar na igreja do Castelo de Wittenberg 95 teses a respeito do tema da indulgência mudou a história religiosa e política da Europa e do mundo Ocidental como um todo.
→ Entrada para o monastério e contato com Roma
No primeiro capítulo da obra Martinho Lutero, um destino, o historiador francês Lucien Febvre diz o seguinte:
Na manhã de 17 de julho de 1505, um jovem laico transpunha a porta do convento dos agostinianos de Erfurt. Tinha 22 anos. Chamava-se Martinho Lutero. Surdo às objeções de um círculo familiar que vislumbrava para ele, como coroamento de estudos universitários bem iniciados, alguma carreira temporal lucrativa, ia buscar naquele claustro um refúgio contra os males e perigos do século. Tratava-se de um fato banal. Interessava, aparentemente, apenas ao aspirante ao noviciado, a sua parentela, a alguns amigos de condição modesta. Não trazia em si germe algum da Reforma Luterana. [1]
O jovem Lutero de 1505, apresentado por Febvre, passou a realizar intensos estudos no claustro da ordem dos agostinianos, além de dedicar-se às orações, meditações e penitências. Lutero dedicou-se ao estudo da tradição teológica da Igreja, tanto dos representantes da Igreja Primitiva, como Santo Agostinho, quanto da escolástica, como Santo Tomás de Aquino. Todavia, todo esse contato com a tradição da Igreja foi feito fora do centro da organização política da Igreja do início do século XVI, isto é, Roma.
Em 1510, Lutero teve que viajar para Roma a fim de tratar dos assuntos da ordem dos agostinianos. Ao contrário da imagem de um lugar onde foram martirizados tantos cristãos, entre eles as pedras fundamentais da Igreja Romana, Pedro e Paulo, e onde o papado afirmou sua autoridade espiritual sobre toda a Europa, Lutero encontrou o centro da corrupção eclesiástica. Em 1510, o Papa Júlio II lutava contra o aparelho corrupto montado por seu antecessor, Papa Alexandre VI, ou Rodrigo Borgia, que proporcionou uma invasão da estrutura do poder eclesiástico pelo poder político.
Como muitos católicos daquela época, Martinho Lutero ficou horrorizado com a decadência moral de muitos membros com altos postos na Igreja. O contato com Roma, que foi por ele denominada de “prostituta”, foi gérmen da transformação de Lutero em um reformador radical.
→ Questão das Indulgências e as 95 teses
O centro do problema da corrupção nas altas esferas da Igreja Católica foi identificado por Lutero na prática da venda de indulgências. A indulgência é definida pela Igreja Católica como “a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela ação da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1471). A Igreja concede, por sua autoridade espiritual, tais remissões (ou absolvições) ao pecador em questão, mas este, em troca, deve retribuir com penitências e obras, como o jejum.
Na transição da Idade Média para a Idade Moderna, o recurso das indulgências passou a ser usado como moeda de troca em prol de benefícios próprios de bispos e papas. Muitos nobres, senhores de terras, compravam suas indulgências em troca de ceder parte de suas posses para a Igreja, para ficarmos só com esse exemplo. Um dos exemplos de venda de indulgências denunciados por Lutero foi o do arcebispo de Mainz Alberto de Brandemburgo.
A ação mais contundente de Lutero, que deu início a uma série de contendas com teólogos, bispos e o próprio Papa, foi a fixação das 95 teses sobre a indulgência nas paredes da igreja do Castelo de Wittenberg. Nessas teses, Lutero não apenas criticava a corrupção da Igreja, como também procurava sustentar que era um erro da doutrina católica defender a concessão de indulgência e da prática penitenciária como meio de remissão temporal dos pecados.
No ano de 1520, Lutero publicou os seus principais panfletos que continuavam a discussão, intitulados: À Nobreza Cristã da Nação Alemã, Do Cativeiro Babilônico da Igreja e Da Liberdade do Cristão. Nesse mesmo ano, o Papa Leão X propôs a Lutero que se retratasse publicamente de seus escritos, o que foi recusado. No ano seguinte, a mesma proposta foi feita pelo imperador Carlos V, na chamada Dieta de Worms, a qual recusou novamente o reformador. Ainda no ano de 1521, Lutero foi excomungado da Igreja.
→ Exílio no Castelo de Wartburg e atividades intelectuais
Após a enorme repercussão de suas divergências com a Igreja e a consequente excomunhão, Lutero recebeu um salvo-conduto de Carlos V para retornar em paz para Wittenberg, já que muitos queriam prendê-lo ou matá-lo. Na volta para a cidade onde havia afixado suas teses, Lutero foi surpreendido por cinco cavaleiros encapuzados fortemente armados, que o sequestraram. Os cavaleiros estavam a mando de Frederico III, o Sábio, fundador da Universidade de Wittenberg e protetor de Lutero desde 1511. Lutero foi levado para o Castelo de Wartburg para não ser morto em Wittenberg e lá permaneceu sob identidade secreta até março de 1522. Foi durante essa estada no Castelo de Wartburg que Lutero trabalhou em sua tradução da Bíblia do latim para o alemão e na escrita de outras obras de cunho reformista.
→ Guerras camponesas e casamento com Catarina de Bora
Em 1524, influenciada por parte das críticas de Lutero, a seita dos anabatistas (composta por camponeses e a baixa nobreza dos cavaleiros) iniciou uma guerra contra a alta nobreza e os clérigos dos principados alemães e de outras regiões da Europa. O grande líder dos revoltosos era Thomas Muntzer. Lutero não apoiou as revoltas, apesar de sua imagem ter ficado associada ao movimento; ao contrário, o dissidente de Wittenberg apoiou a decisão dos príncipes alemães de retaliarem a revolta. Cerca de cinco mil camponeses foram mortos entre 1524 e 1525.
Ainda em 1525, Lutero casou-se com Catarina de Bora, uma ex-freira cisterciense, também alemã, de família nobre. Com Catarina, Lutero teve um total de seis filhos.
→ Morte
Lutero faleceu em 18 de novembro de 1546, na mesma cidade em que nasceu, Eisleben. Alguns estudiosos, por um tempo, acreditavam que pudesse ter sido suicídio. Hoje, entretanto, há um consenso de que a causa mais provável é apoplexia.
NOTAS
[1] FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, um destino. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Três Estrelas, 2012. p. 25.
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