A luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos começou a ter ampla repercussão mundial a partir da segunda metade do século XX. Essa luta teve vários focos, desde aqueles que optavam pela via da manifestação pacífica até outros que defendiam a luta armada e a criação de um Estado negro separatista.
Os vários movimentos negros que se engajaram nessa luta procuravam reverter de algum modo o estado de coisas que advinha do passado dos Estados Unidos. Esse passado, assim como o brasileiro, foi marcado pela escravidão negra, mas ao contrário do Brasil, quando veio o fim da escravidão, grande parte dos estados onde ela vigorava implementou leis de segregação racial.
Tópicos deste artigo
→ Passado escravista e segregação racial
O regime de trabalho escravista era predominante nos estados do Sul dos EUA, onde vigorou o modelo econômico agrário com base nas grandes propriedades de terra (plantations). A Guerra Civil Americana, que opôs o modelo dos estados do Norte (avessos à escravidão) aos estados do Sul, durando de 1861 a 1865, pôs fim à escravidão, haja vista que houve a vitória do Norte, liderado pelo então presidente Abraham Lincoln.
O problema é que no mesmo ano em que teve fim a guerra e o modelo escravista, começaram a aparecer fortes resistências à realidade da libertação dos negros nos estados sulistas. Um exemplo notório foi o do ex-combatente das tropas do Sul, Nathan Bedford Forreste, que, em 1865, fundou a Ku Klux Klan, um misto de seita religiosa e grupo paramilitar racista. Mesmo com as tentativas de sufocamento desse tipo de organização por parte do governo federal durante o período de reestruturação do país (fim da década de 1860), na década de 1870, políticas segregacionistas começaram a ser implantadas em vários estados do Sul.
Essas leis segregacionistas determinavam desde a proibição de casamento entre negros e brancos até a separação de repartições públicas, como escolas, restaurantes etc. Além disso, o direito a benefícios essenciais, como educação, saúde e emprego, era desproporcionalmente oferecido nos estados onde vigorava a segregação. Os negros viam-se privados de quase todos esses direitos básicos.
→ Movimentos pelos direitos civis dos negros
A partir da década de 1950, muitos movimentos pelos direitos civis começaram a aparecer nos EUA, não apenas vinculados à situação dos negros, mas também relacionados com a sexualidade e com o comportamento cultural. Esses movimentos tornaram-se amplamente expressivos a partir de 1960. Foi o caso do movimento hippie e do movimento gay.
Entre os movimentos pelos direitos civis dos negros, um dos pioneiros e mais expressivos foi a Conferência da Liberdade Cristã do Sul (SCLC – Southern Christian Leadership Conference), formada em 1957, em Montgomery, capital do estado do Alabama. O fundador dessa organização foi o pastor protestante da Igreja Batista Martin Luther King Jr.
Luther King tornou-se notável por sua proposta de ativismo pacifista, com estratégias de manifestação como boicotes e grandes passeatas. O ato mais famoso de King ocorreu no dia 28 de agosto de 1963, em Washington D.C., quando ele proferiu o famoso discurso “Eu tenho um sonho...” para milhares de pessoas que ocupavam a esplanada do Monumento a Washington.
Além da organização de King, outras se tornaram bastante conhecidas nos anos 1960 e 1970, como o nacionalismo separatista de Malcom-X, que defendia a criação de um Estado Negro separado dos Estados Unidos. Havia ainda o movimento Black Power, termo que deriva de um livro do escritor negro Richard Wright, mas cujas raízes remontam ao início do século XX. Podemos citar também o Partido dos Panteras Negras, organização de resistência policial da Califórnia que se tornou radical, com elementos de guerrilha urbana e ideologia comunista.
O fato é que, mesmo com a enorme pressão que esses movimentos faziam sobre as autoridades dos EUA à época, as transformações demoraram a ocorrer. No auge do movimento, no ano de 1963, aconteceram repressões de grande repercussão, com a que segue descrita abaixo:
Em abril de 1963, Luther King organizou uma série de protestos não violentos em Birmingham, Alabama. Em frente às câmaras de televisão nacional, o chefe de polícia da cidade supervisionou pessoalmente ataques contra a manifestação, prendendo centenas de pessoas e usando cachorros de ataque, gás lacrimogêneo, aparelhos de choque elétrico e jatos de água contra os manifestantes, inclusive crianças e idosos. A cobertura de eventos como esse na mídia chocou a nação e teve impacto importante no apoio crescente de brancos e negros em favor de direitos civis e no próprio governo, que foi forçado a agir.1
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1PURDY, Sean. “O Século Americano”. In: KARNAL, Leandro [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 245.
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