Jan Hus foi um dos principais precursores da Reforma Protestante, ao lado de John Wyclif e Erasmo de Roterdã. Adepto das ideias críticas ao catolicismo, formuladas por John Wyclif, Hus passou a pregar contra a doutrina católica na Boêmia, onde hoje se localiza a República Tcheca. Seu posicionamento radical contra o poder católico custou a ele a vida, perdida em uma fogueira, em 1415.
Nascido na Boêmia por volta do ano de 1371, tornou-se padre e destacou-se posteriormente nos estudos teológicos, galgando degraus na Universidade de Praga, até se tornar reitor, em 1409, por nomeação do rei da Boêmia, Venceslau IV. À época havia um conflito na Universidade entre alemães e tchecos, sendo as ideais de Hus adotadas por esses últimos contra os alemães.
A crítica de Hus incidia sobre a riqueza da Igreja Católica e a venda de indulgências por parte dos clérigos. Seguindo os ensinamentos de Wyclif, a autoridade dos ensinamentos das Escrituras contra a autoridade da tradição católica e da palavra do papa era também defendida por Jan Hus. Nesse sentido, ele pregava a existência de uma igreja pobre e a constituição de um mundo onde prevaleceria a justiça social, aproximando-se do mundo perfeito de Deus a partir de ações terrenas. Hus defendia ainda que todos os cristãos deveriam realizar a comunhão, o que naquele momento era prática exclusiva dos membros do clero.
A postura de Jan Hus levou a Igreja Católica a decretar seus ensinamentos como heréticos. O papa declarou um interdito a Praga, proibindo práticas cerimoniais religiosas enquanto Hus permanecesse na cidade. Com essas pressões, Venceslau IV tirou Jan Hus do cargo de reitor da universidade. Porém, essa medida não o impediu de continuar suas pregações. Em 1412, ele foi excomungado por insubordinação, em virtude de posicionamentos divergentes ao do arcebispo da cidade. Essa situação estava inserida no contexto do Cisma do Ocidente, quando a Igreja Católica chegou a ter três papas ao mesmo tempo.
Por outro lado, a dispersão das ideais de Hus entre a população da Boêmia levou à eclosão dos primeiros conflitos entre seus seguidores e os católicos, principalmente os de origem alemã.
Estátua em homenagem a Jan Hus, localizada em Praga
Em 1414, Jan Hus foi chamado a se apresentar ao Concílio de Constança, em terras alemãs. Nesse Concílio, a alta hierarquia da Igreja católica pretendia resolver os problemas decorrentes do referido Cisma. Ao se apresentar às autoridades católicas, foi exigido de Jan Hus o abandono de suas ideias críticas à Igreja. Ele recusou-se a refutar seus posicionamentos. Mesmo portando um salvo-conduto dado pelo imperador Segismundo, Hus foi condenado à morte na fogueira. Em 1415, foi cumprida sua sentença, sendo queimado vivo às portas da cidade de Constança.
Entretanto, os conflitos não se encerraram com sua morte. Seus seguidores, os hussitas, iniciaram uma guerra na região por cerca de 30 anos. A crítica religiosa transformou-se em luta social, como havia ocorrido na Inglaterra com John Wyclif e, posteriormente, ocorreria nos reinos alemães após a reforma luterana. A massa camponesa pobre passou a lutar contra o poder da nobreza alemã e da Igreja Católica, dando um caráter nacionalista a esse conflito social.
As forças hussitas lideradas principalmente por Jan Zizka enfrentaram as forças reais em vários momentos, conseguindo vitórias importantes. Porém, após intensas cruzadas contra os insurgentes, estes foram massacrados em 1434. Mas as ideias de Jan Hus continuaram a serem propagadas por discípulos radicais, como os taboritas, que criaram a Igreja Moraviana. Um século depois do massacre na Boêmia, os hussitas influenciariam Martinho Lutero, infligindo um forte golpe contra a Igreja Católica.