No ano de 1943, os momentos triunfantes vividos pelas tropas nazistas pareciam ter os seus dias contados. Naquele ano, as tropas antinazistas tinham conseguido depor Benito Mussolini, principal aliado de Hitler. O alvoroço causado por aquela notícia instigou o chefe de Estado alemão a promover a invasão de Roma, tentando restabelecer alguma liderança totalitária capaz de preservar os interesses em jogo durante a Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, o avanço das tropas alemãs sobre a Península Itálica poderia contar com a oposição de um influente líder religioso: o papa Pio XII. A opinião do chefe católico sobre a ação militar nazista ou o repúdio à matança de judeus poderia esmorecer a imagem e a força do governo nazista. Por isso, Hitler incumbiu o general Karl Wolff, comandante da SS, de uma missão quase absurda: capturar Vossa Santidade e levar os altos membros da Igreja para região norte da Itália.
Acreditando que o cumprimento de tal ordem acarretaria em um repúdio internacional contra Hitler e seus comandados, Wolff buscou uma outra solução para este impasse. Seu plano consistia em pressionar o Papa sem que fosse necessário privá-lo de sua liberdade e do controle sobre o Vaticano. Para isso, o general alemão contou com o auxílio de Rudolf Rahn, embaixador alemão na Itália, e Ernst Ulrich von Weizsäcker, embaixador alemão no Estado do Vaticano.
Naquela época, os alemães tinham sitiado o Vaticano e começaram a realizar a prisão sistemática de judeus erradicados na cidade de Roma. Com isso os três representantes do governo alemão disseminaram um factoide sobre a possibilidade de sequestro do papa. O objetivo dessa estratégia era intimidar o Papa Pio XII, incitando-o a não pronunciar uma única palavra contra os hitleristas. Em pouco tempo, a notícia chegou aos ouvidos da autoridade eclesiástica.
No dia seguinte, o secretário de Pio XII ligou para o embaixador Weizsäcker para uma reunião particular. Segundo relato do próprio diplomata alemão, o papa se dispôs a realizar um pronunciamento público em favor dos alemães, caso não cometessem nenhuma truculência contra o Vaticano. Em resposta, o representante alemão disse que repassaria a proposta às autoridades de Berlim para que fosse devidamente analisada.
Enquanto isso, o papa já preparava um possível plano de fuga contra a invasão dos alemães. Diversos documentos sigilosos foram escondidos em instalações secretas e membros da Cúria romana foram preparados para partir ao menor sinal de invasão. Sem o pronunciamento de Vossa Santidade, os soldados alemães promoviam a prisão sumária da população judia da Itália. O silêncio de Pio XII sobre o incidente acabou deixando-o conhecido como o “papa de Hitler”.
A pecha histórica lançada contra Pio XII encobria o dilema de uma figura pública que temia por sua vida e pela estabilidade do Estado católico. Além disso, nada garantiria a salvação judaica com o repúdio papal. A Alemanha começava a sentir as primeiras derrotas e, com isso, poderia tomar uma medida extremada e violenta contra o possível ataque político. Mediante tais pressões, PioXII acabou cumprindo sua parte no acordo agradecendo os alemães por terem preservado a Igreja.
Porém, no ano seguinte, as tropas russas invadiram a Itália e mataram trinta e dois soldados nazistas. Em troca, Hitler ordenou que para cada oficial alemão morto, os solados deveriam matar dez civis italianos. A proposta genocida do füher poderia, mais uma vez, incitar o papa a declarar oposição da nação católica contra os alemães. Com isso, o plano de sequestro poderia ser novamente sugerido. Pressionado, Pio XII convocou uma reunião secreta com o Karl Wolff.
Nesse novo encontro, a autoridade papal reclamou sobre as deportações e prisões feitas contra a população italiana. Além disso, afirmou que não abandonaria o Vaticano, independente da decisão tomada pelos comandantes nazistas. Em reposta, Wolff disse que não pouparia esforços para que essa delicada situação chegasse ao fim. Em sinal de agradecimento, o líder católico abençoou o general alemão. No mês seguinte as forças norte-americanas invadiram Roma e expulsaram todos os nazistas. Era o fim da querela entre Hitler e a Santa Igreja.