A Guerra Russo-Japonesa foi um conflito armado entre o Japão e a Rússia em 1904 e 1905. Os dois países disputavam o controle da Manchúria, na China. O confronto contribuiu para aumentar o prestígio do Japão internacionalmente, porém resultou em uma euforia nacionalista e imperialista no país. A guerra gerou um saldo de aproximadamente 150 mil mortos entre os dois países.
Imperialismo Japonês
As ambições imperialistas do Japão surgiram após o grande processo de modernização que o país sofreu na Restauração Meiji. O desenvolvimento econômico e industrial do país e o temor pela presença estrangeira na China fizeram que o Japão passasse a defender posturas imperialistas em territórios chineses. O objetivo era garantir locais que fornecessem matéria-prima e que fossem mercados consumidores para as mercadorias japonesas.
Após a Primeira Guerra sino-japonesa, o Japão garantiu o controle sobre Taiwan, Península da Coreia e sudeste da Manchúria, a chamada península Liaotung (os japoneses chamavam de península de Kwangtung). A presença japonesa na Manchúria mobilizou a Rússia, que, junto de França e Alemanha, forçou o Japão a abrir mão do controle sobre a região. Como o Japão temia um conflito com as três nações, pois estava desgastado economicamente, aceitou a contragosto e abriu mão da Manchúria.
Antecedentes: rivalidade entre Japão e Rússia
A atuação russa contra o Japão, forçando-o a recuar da região, resultou em um forte ressentimento entre os japoneses. A partir de 1902, o Japão passou a contar com o apoio britânico, haja vista que a Grã-Bretanha via o Japão como importante aliado para conter o avanço da influência russa sobre a Ásia.
A recuperação econômica e a aliança com a Grã-Bretanha motivaram o Japão a um confronto com a Rússia para garantir o controle de Liaotung. O Japão optou pela guerra, principalmente, porque a influência russa na região havia aumentado consideravelmente, inclusive com a Rússia controlando o porto mais importante, Port Arthur. Apesar disso, a Rússia era vista como uma potência e, mesmo no Japão, havia muitos que não concordavam com a guerra, conforme relata Edward Behr:
Mesmo no Japão havia dúvidas: os constitucionalistas, o primeiro partido político importante do país, eram contra a guerra, e o próprio imperador Meiji assegurou-se contra uma derrota humilhante ao obter dos Estados Unidos a garantia de que impediria a Rússia de puramente invadir o Japão|1|.
Guerra entre Rússia e Japão
A guerra entre Rússia e Japão começou em 8 de fevereiro de 1904, quando o Japão atacou a frota russa localizada próximo a Port Arthur. O ataque surpresa foi realizado sem uma formalização de guerra do Japão contra a Rússia. A formalização só aconteceu no dia 10 de fevereiro. A partir daí, os japoneses bloquearam Port Arthur para impedir a chegada de reforços por mar e iniciaram a invasão de Liaotung por terra.
O exército russo, em número de soldados, era maior que o exército japonês, porém boa parte do exército russo estava posicionada na Rússia europeia, ou seja, a muitos quilômetros de distância. Além disso, o exército japonês havia passado por uma forte modernização e estava mais bem equipado para a guerra em comparação com o exército russo.
Os russos tentaram furar o bloqueio de Port Arthur sem sucesso. Enquanto isso, os japoneses passaram ao cerco de Port Arthur com o objetivo de apressar a rendição dos russos. Estes tentaram romper o cerco na batalha de Mukden, mas foram derrotados. No mar, ao tentar contra-atacar o bloqueio sobre Port Arthur, foram derrotados na batalha de Tsushima. Ali, boa parte da frota oriental dos russos foi destruída.
A guerra exerceu forte pressão sobre a já empobrecida população russa e resultou em dificuldades econômicas e em insatisfação popular. Espalharam-se pela Rússia movimentos contra o governo do czar (imperador) Nicolau II. As rebeliões alcançaram, inclusive, o exército com a rebelião dos marinheiros do Encouraçado Potemkin.
As derrotas, a falência econômica e as rebeliões internas levaram Nicolau II a se render e a aceitar negociar a paz com o Japão. Os dois países assinaram o Tratado de Portsmouth, no qual a Rússia reconheceu a derrota e os direitos do Japão sobre Liaotung, Port Arthur e a Coreia.
Pós-guerra
Selo soviético retratando o encouraçado Potemkin, onde ocorreu a rebelião dos marinheiros em 1905 **
A Guerra Russo-Japonesa evidenciou a decadência do czarismo (monarquia russa) com as rebeliões de 1905. Essas rebeliões ficaram conhecidas como um “ensaio geral” do movimento revolucionário que eclodiria na Rússia em 1917 e resultaria na tomada de poder dos bolcheviques. Além disso, o conflito resultou na falência econômica da Rússia.
A guerra também deixou o Japão em estado econômico delicado. As perdas humanas para o Japão foram maiores que as dos russos. Por fim, a vitória japonesa na guerra foi propagandeada por grupos nacionalistas de extrema-direita durante toda a década de 1910, 1920 e 1930 para promover o imperialismo japonês na Ásia por meio do militarismo, o que resultou em agressões japonesas contra vários países da Ásia.
|1| BEHR, Edward. Hiroíto – por trás da lenda. São Paulo: Globo, 1991, p. 36.
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