Guerra entre Líbano e Israel

A Guerra entre Líbano e Israel foi retomada em outubro de 2023, depois que o Hezbollah se uniu ao Hamas em resposta às incursões israelenses na Palestina.

Guerra entre Líbano e Israel representada pela bandeira dos dois países.
A Guerra entre Líbano e Israel foi reiniciada em 2023, mas o conflito começou no século XX.

A Guerra entre Líbano e Israel é um novo conflito entre as duas nações, que foi reacendido em 2023, mas remete a tensões que datam desde a criação do Estado de Israel em 1948, algo que resultou na expulsão de muitos palestinos da região. O Hezbollah, um grupo paramilitar xiita libanês, se uniu ao Hamas em resposta às incursões israelenses na Palestina, reacendendo as hostilidades em 2023.

Após a morte do líder do Hezbollah em 2024, um cessar-fogo foi estabelecido, permitindo que o Líbano iniciasse uma reforma política. Contudo, a situação permanece tensa, com o Tribunal Penal Internacional exigindo a prisão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu por crimes de guerra contra o povo palestino – incluindo os civis libaneses.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre a Guerra entre Líbano e Israel

  • A guerra entre Líbano e Israel é um novo conflito entre as duas nações, iniciado em 2023.
  • Foi incitada pelo apoio do Hezbollah ao Hamas contra as incursões israelenses na Palestina.
  • Desde a fundação de Israel, em 1948, os conflitos entre sionistas e muçulmanos se tornaram frequentes, acentuados pela expulsão de palestinos e pela intervenção de potências globais durante a Guerra Fria.
  • A criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1964 e a violenta invasão israelense do Líbano em 1982 contribuíram com a ascensão do Hezbollah e o aumento dos movimentos antissionistas.
  • A Guerra Civil Libanesa (1975-1990) e a Guerra do Líbano (2006) reafirmaram as relações hostis entre os grupos envolvidos e estabeleceram o cenário para o novo conflito iniciado em 2023.
  • As incursões militares de Israel na Palestina iniciadas em 2023 resultaram em algo entre 50 e 64 mil mortes de civis palestinos.
  • Após a morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, acordos de cessar-fogo foram firmados em 2024, permitindo que o Líbano iniciasse reformas políticas sob a liderança do presidente Joseph Aoun.
  • O Tribunal Penal Internacional exige a prisão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu por crimes de guerra, destacando as tensões contínuas na região.

O que é a Guerra entre Líbano e Israel?

A guerra entre Líbano e Israel remete a um novo conflito entre esses dois Estados que se reacendeu no ano de 2023. O motivo mais evidente dessa guerra é o apoio que o grupo paramilitar xiita radical Hezbollah, consolidado no Líbano, deu ao Hamas contra as incursões israelenses na Palestina.

Os motivos dessa guerra não são aleatórios, já que a inimizade entre Líbano e Israel é antiga e complexa: seus atritos remetem a meados do século XX, contexto em que o Estado israelense foi fundado na Palestina e resultou, consequentemente, na expulsão e eliminação de diversos povos muçulmanos ali consolidados. Leia a seguir o contexto histórico e político que resultou na nova guerra entre Líbano e Israel no ano de 2023.

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Contexto histórico da Guerra entre Líbano e Israel

Desde a criação do Estado de Israel em 1948, na região da Palestina, Oriente Médio, os conflitos entre sionistas (defensores da criação de um Estado judaico na Palestina) e povos da religião muçulmana tornaram-se frequentes. O principal motivo de atrito entre as facções é oriundo da expulsão e eliminação de civis palestinos que haviam ocupado a região há milênios, forçados a se retirarem da atual região de Israel após a aplicação da criação de um Estado judaico promulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Desde então, inúmeras alianças e atritos entre os países do Oriente Médio foram estabelecidos e intensificados pela Guerra Fria. Tanto os governos norte-americanos e da Otan quanto dos soviéticos e do Pacto de Varsóvia fomentaram a indústria de guerra na região a fim de obter vantagens econômicas sobre a posse dos poços de petróleo.

O Líbano, nesse contexto, já havia conquistado sua independência sobre as colônias francesas, que haviam ocupado a região após a Primeira Guerra Mundial. Herança do agora extinto Império Turco-Otomano, assim como quase a totalidade do Oriente Médio, a população do Líbano possuía uma maioria muçulmana.

Ruínas da cidadela de Trípoli em texto sobre Guerra entre Líbano e Israel.
A cidadela de Trípoli, no Líbano, serviu de fortaleza para os soldados cristãos durante as Cruzadas (século XII).[1]

A nação libanesa quase nunca viveu tempos de paz – por volta do ano 8000 a.C., sua posição na costa do Mar Mediterrâneo significava um constante interesse de domínio por parte de diversas civilizações. A princípio, a região era dominada por cananeus, seguidos pela consolidação do povo fenício. Ainda na Antiguidade, o Líbano foi dominado por povos mesopotâmicos e, posteriormente, pelo Império Romano, transformado pela cultura bizantina até os momentos finais da Idade Média.

Com o advento da Idade Moderna, no século XV, o lugar foi ocupado pelos já citados turco-otomanos, que controlariam a região até o início do século XX. A independência do Líbano, no entanto, não significou estabilidade diplomática com os países vizinhos – desde a fundação do Estado de Israel, diversos grupos palestinos se sentiram violados com a expulsão de suas próprias terras.

Veja também: Israel x Palestina — da origem do conflito até as tensões mais atuais

Causas da Guerra entre Líbano e Israel

Um desses grupos, de origem libanesa, era a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Fundada em 1964, possuía adeptos palestinos por toda a Jordânia, Cisjordânia, Síria, Líbano e Faixa de Gaza. Desde então, passaram a atacar os israelenses, algo que resultou na classificação de terroristas por parte dos governos ocidentais com interesses econômicos na região e aliados de Israel, atualmente representados por Estados Unidos, França, Alemanha, Itália e Reino Unido. Após quase duas décadas de conflitos entre a OLP e Israel, este decidiu intervir invadindo o Líbano, que na época significava um dos principais focos de resistência antissionista.

Sob apoio de milícias cristãs libanesas de direita, que travavam uma guerra civil contra os muçulmanos, as forças armadas israelenses ocuparam quase metade do país em 1982, incluindo sua capital, Beirute. Durante a invasão, estima-se que cerca de 17 mil palestinos tenham sido mortos, muitos dos quais foram assassinados em um campo de refugiados de Beirute pela milícia de extrema-direita das Falanges Libanesas em conivência com o exército israelense, no episódio conhecido como Massacre de Sabra e Chatila.

Como resposta à invasão e crescente número de mortes do povo palestino, ainda na primeira metade da década de 1980 houve no Líbano a criação do grupo paramilitar xiita radical Hezbollah, apoiada pelo Irã, que em 1979 havia consolidado a Revolução Iraniana, de perfil teocrático. Doravante, as proporções dos conflitos apenas aumentaram entre os sionistas e os muçulmanos; o Hezbollah prosseguiu em seus ataques contra os israelenses e seus aliados, causando milhares de vítimas por meio de atentados a bomba.

Uma relativa paz só seria assinada entre Israel e a OLP (na ocasião, presidida por Yasser Arafat) em 1993, durante os Acordos de Paz de Oslo, na Noruega. Por meio desse pacto, acordou-se que Israel retiraria suas tropas do Líbano, bem como da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Em contrapartida, a OLP cessaria os ataques a Israel e aceitaria as resoluções da ONU referentes à Guerra dos Seis Dias, travada entre israelenses e árabes em 1967.

Entretanto, não houve negociações relevantes entre Israel e o Hezbollah. Um novo conflito ascendeu no ano de 2006, após um combate de pequena escala liderada pelo grupo libanês ao norte israelense. A incursão serviu de pretexto para uma nova missão exterminadora; o Líbano foi fortemente bombardeado por mais de um mês, resultando na morte de mais de 1.000 pessoas, a maioria civis.

Prédios e carro danificados em Tiro, durante a Guerra entre Líbano e Israel.
Escombros dos bombardeios causados pela Força Aérea Israelense na cidade libanesa de Tiro, em 2006.[2]

Infelizmente, não foi o último conflito de grandes proporções. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, iniciou em 2023 uma guerra total contra o povo palestino: estima-se que até o final de 2024, mais de 64 mil pessoas foram assassinadas (apesar de números mais “otimistas” apontarem aproximadamente 50 mil) apenas na Faixa de Gaza, das quais aproximadamente 60% eram crianças, idosos e mulheres.

O pretexto utilizado pelo governante para os assassinatos massivos foi a neutralização de líderes jihadistas do Hamas, grupo de resistência islâmica em Gaza que havia coordenado novos ataques a Israel em outubro daquele mesmo ano, causando a morte de cerca de 1.200 israelenses e o rapto de mais de 200 pessoas. A invasão israelense rendeu a Netanyahu um mandado de prisão por crimes de guerra emitido pelo Tribunal Penal Internacional.

No Líbano, o Hezbollah declarou apoio ao Hamas logo após o atentado, algo que reiniciou os conflitos em sua fronteira com Israel. Ambos os lados utilizaram mísseis e artilharia para se devastarem; apenas em 23 de setembro de 2023, mais de 500 libaneses morreram com os bombardeios. Desde essa nova incursão, aliás, dois adolescentes brasileiros foram vitimados: Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, e Mirna Raef Nasser, de 16, que se somam aos milhares de mortos no Líbano desde o novo confronto.

Combatentes do Hezbollah durante treinamento para a Guerra entre Líbano e Israel.
Combatentes do Hezbollah realizando treinamento ao sul do Líbano, em 2023.[3]

Novos acordos de cessar-fogo entre Israel e Líbano foram firmados em novembro de 2024, extraoficialmente à intervenção do Hezbollah. Em Gaza, por sua vez, um cessar-fogo foi acertado diretamente em janeiro de 2025 entre o governo israelense e o Hamas, apesar da fragilidade diplomática.

Principais conflitos entre Líbano, Israel e Hezbollah

→ Guerra Civil Libanesa (1975-1990)

Cristãos das Falanges Libanesas e muçulmanos da OLP iniciaram uma violenta guerra civil no Líbano, agravada pelo intenso fluxo de islamitas forçados a migrar do Estado de Israel para as fronteiras libanesas. Aproveitando-se do massacre, em 1978, Israel interveio a favor dos cristãos e invadiu metade do Líbano, cujo território só veio a ser desocupado ao início da década de 1990. Essa guerra foi o principal motivo da ascensão do Hezbollah, oficialmente estabelecido em 1985.

→ Guerra do Líbano (2006)

Iniciou-se com um ataque localizado do Hezbollah ao norte de Israel. Em retaliação, o governo israelense respondeu com intensos bombardeios, resultando em uma violenta troca de lançamentos de mísseis. Entre os civis, vitimaram-se quase 1.200 libaneses e mais de 40 israelenses durante o apenas um mês de duração da guerra.

→ Guerra Israel-Hezbollah (2023-2024)

Apesar de Israel declarar a condução de uma nova guerra contra o grupo islamista do Hezbollah, mais de 3.000 libaneses já foram vítimas das incursões organizadas pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Dessa vez, a guerra foi iniciada após um ataque organizado das forças do Hamas sobre Israel em outubro de 2023, seguido por um atentado do Hezbollah. Apesar de um cessar-fogo ter sido acertado em novembro de 2024, oriundo da morte do líder do Hezbollah Hassan Nasrallah, a relação entre os dois países ainda é incerta.

Quais as consequências da Guerra entre Líbano e Israel?

Ruínas em uma rua libanesa, consequência da Guerra entre Líbano e Israel.
Ruínas em Beirute, capital do Líbano. O país foi devastado ao longo da guerra contra os israelenses.[4]

Em termos quantitativos, a guerra originada em 2023 chega a aproximadamente 4 mil mortos e quase 16 mil feridos entre ambos os lados, com um deslocamento de 1 milhão de civis libaneses por 96 mil israelenses. A devastação no Líbano foi intensa, tanto na infraestrutura de prédios históricos quanto na destruição de recursos básicos.

Pouco antes da trégua com o Líbano de 2024, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, havia expressado sua preocupação com a situação do país, criticando os Estados coniventes com os crimes que poderiam transformar o país em uma “nova Gaza”, em referência ao extermínio e destruição vivenciados na faixa da Palestina.

Saiba mais: Guerra Civil Síria — outro importante conflito da geopolítica no Oriente Médio

Guerra entre Líbano e Israel na atualidade

Após a morte de Hassan Nasrallah, então líder do Hezbollah, o Líbano está atualmente passando por uma reforma política. No início do ano de 2025, o presidente libanês Joseph Aoun convidou o chefe da Corte Internacional de Justiça, Nawaf Salam, para o cargo de primeiro-ministro, após o apoio de 84 dos 128 parlamentares do governo.

Aparentemente, os casos de violência no país diminuíram após os acordos de novembro de 2024 – por meio da assistência da ONU, o Líbano testemunhou a desocupação das forças armadas israelenses, adequadamente substituídas pelas forças libanesas. Em contrapartida, o Tribunal Penal Internacional exige a prisão do israelense Benjamin Netanyahu, que nega o envolvimento em crimes de guerra.

Créditos das imagens

[1] © Vyacheslav Argenberg / Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

[3] Agência de Notícias Tasnim/ Wikimedia Commons

[4] Ali Chehade Farhat/ Wikimedia Commons

Fontes

CNN BRASIL. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br.

DEUTSCHE WELLE BRASIL. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br.

NORTON, A. R. Hezbollah. Princeton: Princeton University Press, 2014.

ONU NEWS. Disponível em: https://news.un.org/pt/.

RESENDE, B. T.N. Uma guerra quente no Líbano? O início da Guerra Civil Libanesa sob a perspectiva da revista Veja (1975). In: Revista Hydra. São Paulo: UNIFESP, v.1, n.1., p.207-225, 2016.

SOARES, Joabson C.; PACÍFICO, Andrea M.C.P. A resolução do Conflito Israelo-Libanês pelo Conselho de Segurança da ONU (2006). In: Brazilian Journal of International Relations. Marília: UNESP, v.13, n.1, p.5-22, 2023.

Por: Cassio Remus de Paula

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