Guerra do Afeganistão de 1979

A Guerra do Afeganistão teve início com a invasão dos soviéticos, em 1979, estendeu-se durante dez anos e deixou consequências profundas também para a União Soviética.

Foto do memorial construído em Kiev (Ucrânia) em homenagem aos soldados que lutaram na Guerra do Afeganistão.
Memorial construído em Kiev (Ucrânia) em homenagem aos soldados que lutaram na Guerra do Afeganistão. [1]

A Guerra do Afeganistão foi um conflito iniciado em dezembro de 1979, quando as tropas soviéticas invadiram o país. Essa guerra teve grande influência do contexto da Guerra Fria e foi extremamente desgastante também para a União Soviética, sobretudo para a sua economia. Ao longo de dez anos de conflito, mais de 1 milhão de afegãos morreram.

Leia também: Socialismo e o comunismo são a mesma coisa?

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Antecedentes históricos da Guerra do Afeganistão de 1979

O Afeganistão, no decorrer de grande parte do século XX, havia estado sob forte influência da União Soviética. A parceria entre os dois países intensificou-se ao longo da década de 1950, com os soviéticos investindo no desenvolvimento econômico daquele país, bem como fornecendo armamentos, treinamento militar e ajuda humanitária.

A relação entre as duas nações tornou-se complexa em 1978, quando o Afeganistão passou por uma revolta comunista conhecida como Revolução de Saur. Essa revolução contou com o apoio do governo soviético, que estava insatisfeito com o governo de Mohammed Daoud Khan. A Revolução de Saur levou Nur Muhammad Taraki e o Partido Democrático do Povo Afegão (PDPA) ao poder.

A ascensão de Taraki, no entanto, foi extremamente conturbada, por conta de uma série de reformas aplicadas no país. Essas transformações alinhavam-se com a orientação do partido e enfureceram grandes proprietários e as populações conservadoras do interior, que, reprimidas pelo governo, começaram a se rebelar com manifestações.

Esses rebeldes eram, em geral, defensores ardorosos do Islã e viam nas reformas comunistas do PDPA uma ameaça a sua religião. Tais grupos ficaram conhecidos como mujahidins e organizaram ataques contra o governo em diferentes partes do Afeganistão. Essa situação motivou uma disputa interna no PDPA, levando a um golpe de Estado que destituiu Taraki e conduziu Hafizullah Amin ao poder em 1979.

O governo de Hafizullah Amin, no entanto, não agradava aos soviéticos pela sua incapacidade de colocar os mujahidins sob controle e porque temiam que o governante afegão rompesse a aliança com os soviéticos para se aliar aos Estados Unidos. Além disso, a União Soviética queria colocar o PDPA sob seu controle e evitar as disputas que existiam no partido.

Causas e principais acontecimentos da Guerra do Afeganistão

Por conta desses dois fatores, os soviéticos organizaram a ocupação do Afeganistão, em dezembro de 1979. A ideia era derrubar Amin do poder e colocar Babrak Karmal na presidência do país – objetivo que foi alcançado com sucesso. A invasão ao Afeganistão, contudo, precipitou uma guerra dos mujahidins contra os soviéticos, que eram enxergados como uma ameaça ao Islamismo e aos seus interesses no país.

Importante pontuar que, até o começo de 1989, o governo soviético era totalmente contra o envio de tropas ao Afeganistão. Isso foi debatido porque o PDPA havia solicitado forças soviéticas para lutar contra os mujahidins por diversas vezes. O descontrole da situação interna e a insatisfação com Amin levaram os soviéticos a ordenar a invasão.

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Os mujahidins, por sua vez, declararam uma jihad (guerra santa) contra os soviéticos e, ao longo do conflito, foram largamente financiados, treinados e armados pelos Estados Unidos. Os mujahidins formavam grupos armados que atuavam por meio de táticas de guerrilha, fazendo ataques localizados contra as forças soviéticas. Além disso, a geografia do Afeganistão (montanhoso ao norte) ajudava os rebeldes na luta.

O financiamento dos mujahidins pelos Estados Unidos fazia parte da estratégia de um grupo de forte atuação na CIA que via na guerra uma forma de sangrar a economia soviética o máximo possível. Esse segmento, conhecido como bleeders, barrou os esforços diplomáticos da ONU e armou os rebeldes para alimentar a continuidade do conflito.

Para os soviéticos, a Guerra do Afeganistão representou um peso gigantesco, a começar pelo fato de que o país teve de arcar com todos os gastos militares e ajudar o funcionamento da economia afegã. Além disso, os mujahidins eram grupos difíceis de se combater – assim, a guerra se estendeu por anos. A partir de 1985/1986, os soviéticos passaram a entregar as operações militares para o exército afegão e iniciaram esforços para negociar a retirada de suas tropas.

Tais esforços intensificaram-se com a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder. Em 1988, o presidente soviético anunciou que as tropas sairiam definitivamente do Afeganistão. Os últimos soldados retiraram-se em fevereiro de 1989, e o governo do país ficou nas mãos de Mohammad Najibullah. A guerra no Afeganistão prosseguiu até 1992, quando os mujahidins derrubaram o presidente afegão do poder.

Veja também: Como foi o processo do fim do comunismo soviético?

Consequências da Guerra do Afeganistão de 1979

A Guerra do Afeganistão deixou resultados graves para a União Soviética, a começar por uma crise econômica que atingiu o país no final da década de 1980. Isso se deve aos grandes gastos com o conflito (em torno de 2,6 bilhões de dólares), deixando um saldo de 15 mil mortos entre soldados soviéticos.

Além disso, o financiamento estadunidense aos mujahidins permitiu que esses grupos islamitas se fortalecessem e se tornassem poderosas organizações fundamentalistas que utilizam o terrorismo como tática de luta. Dos mujahidins surgiram a Al-Qaeda e o Talibã, dois dos maiores grupos terroristas do mundo atualmente.

Créditos de imagem

[1] Andrii Zhezhera / Shutterstock

Por: Daniel Neves Silva

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