O golpe militar em Mianmar aconteceu em fevereiro de 2021, sendo motivado pela insatisfação dos militares mianmarenses com o resultado das eleições gerais de novembro de 2020. Eles temiam que o resultado gerasse perda de influência do exército na política local. Os militares prometeram devolver o poder depois da realização de novas eleições.
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Conhecendo o Mianmar
Mianmar não é um dos países mais conhecidos pelo brasileiro, portanto, é importante que algumas informações prévias sejam trazidas aqui para nos familiarizarmos com ele. O Mianmar é um país localizado no sudoeste asiático, sendo vizinho dos seguintes territórios: Tailândia, Laos, China, Bangladesh e Índia.
O Mianmar não é dos maiores países que existem no mundo, sendo atualmente o 39º maior país, com uma área total de mais de 670 mil metros quadrados. No que se refere à população, o Mianmar tem um número expressivo de habitantes, sendo o 26º país mais populoso, com o total aproximado de 55 milhões de habitantes.
Acerca da qualidade de vida, o Mianmar tem ainda muito que evoluir. No Índice de Desenvolvimento Humano, o país ocupa apenas a posição de número 147, com 0,583 de IDH, o que o coloca no grupo dos países com desenvolvimento humano mediano. Sobre a expectativa de vida, dados de 2019 apontam que ela é de 67,1 anos.
O país possui uma taxa de alfabetização de 75% da população adulta e uma taxa relativamente pequena de urbanização, pois apenas 31% da população mianmarense moram em cidades. A maior cidade do país é Yangon, antiga capital, que possui atualmente cerca de 5 milhões de habitantes. A nova capital, inaugurada em 2005 e chamada Naypydaw, possui cerca de 1,1 milhão de habitantes.
Um pouco da política mianmarense
O Mianmar era considerado, até o início do ano de 2021, uma democracia parlamentar, em que eleições gerais aconteciam e o país era administrado por um conselheiro de Estado (algo como um primeiro-ministro) e um presidente. A democracia foi iniciada no país a partir de 2011, quando os militares se afastaram do poder e uma abertura política se iniciou.
Essa abertura política foi realizada por um partido local chamado Partido União, Solidariedade e Desenvolvimento (USDP, na sigla em inglês). Esse partido tem uma forte aliança com os militares, que se afastaram do poder, mas mantiveram alguns privilégios, como acesso a três ministérios e a manutenção de 25% dos assentos do Parlamento.
A abertura democrática em Mianmar permitiu que a Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla em inglês) conquistasse espaço na política local. Esse partido tinha surgido na década de 1980 e lutava, havia décadas, pelo estabelecimento da democracia em Mianmar. O grande nome do partido é o de Aung San Suu Kyi.
Em 2015, foram realizadas as primeiras eleições gerais abertas da história do Mianmar, e nelas a NLD saiu como a grande vencedora, ocupando boa parte do Parlamento e tendo sua líder, Aung San Suu Kyi, como a governante do país por meio do cargo de conselheira de Estado. A subida dela ao poder foi vista com bons olhos pela comunidade internacional, uma vez que ela havia conquistado uma reputação por ter sido nomeada ao Nobel da Paz, em 1991.
Uma vez no poder, Aung San Suu Kyi manteve uma relação estável com os militares e tornou-se alvo de críticas internacionais por não intervir na perseguição contra as minorias étnicas do país realizada pelo exército. Nesse sentido, o destaque vai para a perseguição dos rohingya, minoria étnica que passou a ser alvo de ataques do exército em 2017. Aung San Suu Kyi foi criticada por não impedir essa perseguição e por não reconhecer a cidadania dos rohingya.
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Os militares retornam ao poder
A estabilidade democrática do Mianmar durou muito pouco, pois, no começo de 2021, os militares articularam-se para retornar ao poder. A crise política do Mianmar remonta às eleições gerais realizadas em novembro de 2020. Nelas, novamente a NLD e o USDP disputaram o pleito, e o resultado foi que a NLD obteve 83% dos cargos.
O resultado expressivo significava que Aung San Suu Kyi e a NLD continuariam no poder do país e demonstrou o fracasso da oposição representada pelo USDP. Os militares e seus aliados do USDP passaram a temer que o resultado significasse uma diminuição da influência das forças armadas na sociedade mianmarense, e então começaram a atacar a credibilidade da eleição.
Militares e políticos da oposição começaram a afirmar que a eleição fora fraudada, mas não apresentaram provas da acusação. Internacionalmente a acusação dos opositores da NLD foi vista com pouca credibilidade. Como não houve mobilização política contra a NLD, os militares decidiram tomar o poder do país.
Em 1º de fevereiro, um golpe militar foi organizado no Mianmar, e os militares cercaram as vias de entrada da capital do país, Naypydaw, tomaram as ruas da cidade e os prédios estratégicos, prenderam o presidente do país, U Win Myint, e a conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, além de ministros e ativistas apoiadores da NLD.
Os militares decidiram desligar temporariamente a comunicação do país, impedindo que as pessoas conseguissem fazer ligações e acessar a internet. Essas medidas foram tomadas para impedir a articulação da sociedade civil para manifestações contra o governo. Por fim, o espaço aéreo do país foi fechado, e o estado de emergência foi decretado por um ano.
Os militares nomearam o general Min Aung Hlaing para governar o país durante esse período com a promessa de que novas eleições seriam realizadas para formar um novo governo. A chegada do novo governo via golpe militar não agradou à população local, que tem organizando protestos constantemente, exigindo o retorno da NLD e a liberdade de Aung San Suu Myi e outros membros do governo.
Internacionalmente, o golpe também não repercutiu bem, e governos de países como Austrália e Estados Unidos condenaram os militares mianmarenses por interromperem a democracia no país. Os Estados Unidos, por meio do presidente Joe Biden, anunciaram uma série de medidas contra o país por conta do golpe. As sanções norte-americanas incluem medidas contra a economia do país e contra os idealizadores do golpe e seus familiares.
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