Girondinos

Os girondinos eram membros de um grupo político da Revolução Francesa. Eles defendiam o fim do absolutismo, mas eram considerados mais moderados do que os jacobinos.

Gravura retratando discussão política durante a Revolução Francesa, em texto sobre girondinos.
Foi na Assembleia Nacional que os atritos entre jacobinos e girondinos se estabeleceram e foram gradativamente aumentando.

Girondinos foram um dos dois principais grupos políticos que atuaram durante o processo revolucionário francês, iniciado em 1789. Os políticos girondinos defendiam, assim como os jacobinos, o fim do absolutismo, dos privilégios feudais e da servidão. Também defendiam a liberdade de expressão, o Estado laico, a propriedade privada e a igualdade jurídica entre os homens.

Os girondinos são considerados um grupo conservador em relação aos jacobinos. Durante a Monarquia Constitucional os girondinos tiveram grande importância política, mas, com a queda da monarquia e o poder jacobino na Convenção, passaram a ser perseguidos no período do Terror.

A partir de 1795, com a implementação do Diretório, os girondinos chegaram ao poder, mas o Diretório foi considerado um governo fraco e inúmeras revoltas ocorreram na França. O Diretório foi derrubado com um golpe de Estado que levou ao poder Napoleão Bonaparte, em 1799.

Leia também: Queda da Bastilha — episódio que marcou o início da Revolução Francesa

Tópicos deste artigo

Resumo sobre girondinos

  • Girondinos foram um importante grupo político participante da Revolução Francesa.

  • Os políticos girondinos receberam apoio da alta burguesia francesa.

  • Os jacobinos, que recebiam apoio das camadas populares e de setores da pequena burguesia, foram os principais adversários dos girondinos.

  • Durante a o Período da Monarquia Constitucional os girondinos tiveram destaque político, ocupando importantes cargos no governo de Luís XVI.

  • Durante o Período do Terror muitos girondinos foram presos e guilhotinados pelo governo de maioria jacobina.

  • No Diretório, 1795-1799, os girondinos voltaram ao governo recebendo apoio da alta burguesia e do exército.

Quem foram os girondinos?

Os girondinos foram os membros de uma das principais facções políticas que atuaram durante a Revolução Francesa e que receberam esse nome porque boa parte dos seus políticos na Assembleia provinham da Gironda, região da França onde se localiza a cidade de Bordeaux.

Os principais políticos girondinos eram profissionais liberais, como advogados, economistas e jornalistas. Esse grupo recebeu apoio da alta burguesia francesa, composta por banqueiros, grandes comerciantes e ricos proprietários de manufaturas.

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Quais ideias eram defendidas pelos girondinos?

Os políticos girondinos eram mais moderados em relação aos jacobinos, mas possuíam diversas bandeiras em comum com estes no início da Revolução, como:

  • o fim dos privilégios de nobres e clérigos;

  • a abolição da servidão;

  • o fim do absolutismo;

  • a defesa da liberdade de expressão, do direito à propriedade, da liberdade religiosa e da igualdade jurídica.

Inicialmente a maior parte dos girondinos defendia uma monarquia constitucional, mas após a tentativa de fuga do rei e a descoberta do seu plano de, no exílio, liderar tropas que combateriam os revolucionários, a maior parte dos girondinos passou a defender a instauração república.

Inspirados nas ideias de Adam Smith, os girondinos defendiam ainda o livre mercado e pouca ou nenhuma intervenção do Estado na economia. A proposta econômica girondina era contrária à proposta dos sans-culottes e de muitos jacobinos. Estes defendiam, por exemplo, o tabelamento do preço dos alimentos e dos salários.

Veja também: Despotismo esclarecido — forma de governo que buscava incorporar ideais iluministas ao absolutismo europeu

Quem era o líder dos girondinos?

Jacques Pierre Brissot

Brissot era jornalista no início da Revolução Francesa e se tornou, durante o processo revolucionário, um dos principais líderes dos girondinos. Ele foi fundador da “Sociedade Antiescravista dos Amigos Negros” e durante toda a vida foi um ferrenho defensor da abolição da escravidão. Brissot votou contra a execução do rei Luís XVI, se tornando impopular entre os jacobinos.

Em 1793, seu antigo amigo, Marat, se tornou um dos seus principais inimigos políticos. No mesmo ano foi acusado por Robespierre e pela Convenção de traição, sendo guilhotinado e tornando-se mais um dos girondinos mortos durante o Terror.

Jean Marie Roland

Roland foi comerciante, economista e um dos colabores da Enciclopédia, obra clássica do iluminismo. Foi casado com Madame Roland, outra liderança dos girondinos, e a residência do casal era local de reunião dos girondinos. Foi ministro real durante a Monarquia Constitucional e contrário à execução do rei, entrando em atrito com Robespierre e os jacobinos.

Quando soube que seria preso pela Convenção, fugiu de Paris. Ao saber que a esposa foi guilhotinada, Jean Roland cometeu suicídio, se empalando com uma espada bengala.

Madame Roland

Ela era filha de uma família burguesa de Paris e se tornou uma leitora voraz desde a infância, sendo muito influenciada por Rousseau. Nas reuniões que eram realizadas em sua residência ela foi grande oradora, tendo, portanto, um grande poder de oratória. Alguns historiadores defendem que seu marido só se tornou ministro do interior graças a ela, que não poderia ocupar o cargo. Em 1793 foi presa por ordens dos jacobinos e acabou guilhotinada em novembro do mesmo ano.

Atuação dos girondinos na Revolução Francesa

No início da Revolução Francesa os políticos girondinos tiveram grande influência política na Assembleia Nacional Constituinte e na Monarquia Constitucional, com membros do grupo sendo nomeados para cargos no governo de Luís XVI. Com as jornadas de 10 de agosto de 1792 e a tomada do Palácio das Tulherias, iniciou-se o processo de queda do poder político dos girondinos.

Durante o julgamento do rei os girondinos foram contrários à sua execução, sendo derrotados politicamente; o rei foi guilhotinado em 21 de janeiro de 1793. Em setembro de 1793, Robespierre iniciou o período do Terror, momento no qual os girondinos passaram a ser executados como traidores da revolução. Muitos girondinos fugiram de Paris, e muitos outros deixaram a política, enfraquecendo o movimento momentaneamente.

Gravura do século XVIII retratando a execução de Luís XVI, em texto sobre girondinos.
Gravura do século XVIII retratando a execução do rei Luís XVI.

Golpe, retorno ao poder e o terror girondino

Em 27 de julho de 1794 ocorreu o Golpe de 9 Termidor, em que Robespierre foi preso, julgado e guilhotinado no dia seguinte. O golpe marcou nova ascensão dos girondinos ao poder, com apoio da alta burguesia e de outros setores moderados, amedrontados pelo recente Terror e pelas ameaças externas.

Em novembro de 1795 foi formado o Diretório, o novo governo da França que era exercido por cinco diretores. O Período do Diretório, que ocorreu até 1799, foi marcado por guerras da França contra potências estrangeiras e por diversos levantes internos, de jacobinos, sans-culottes e monarquistas.

Essas revoltas foram reprimidas pelo exército e por grupos paramilitares girondinos. Um desses grupos era composto pelos “muscadins”, termo que significava algo como “aquele que usa perfume de almíscar”. O porrete chamado “constituição” se tornou um símbolo dos muscadins, assim como um lenço branco, associado à monarquia. A violência praticada por eles deu origem ao Terror Branco, o período de terror girondino.

Dois homens do grupo paramilitar girondino segurando porretes.
Dois muscadins segurando seus porretes conhecidos como “constituição”.

Apesar de receber apoio da alta burguesia e do exército, o Diretório teve grandes dificuldades para governar e aplicar a lei. A instabilidade política do período e o medo de um novo Terror fizeram com que a alta burguesia e parte dos girondinos apoiassem uma ditadura. O Golpe de 18 Brumário levou ao poder Napoleão Bonaparte, pondo fim ao Diretório e iniciando um período de centralização política na França.

Videoaula sobre a Revolução Francesa

Girondinos x jacobinos

Girondinos e jacobinos atuaram juntos no início da Revolução; alguns historiadores afirmam que os girondinos são uma dissidência dos jacobinos. O próprio Robespierre frequentou reuniões na casa de Madame Roland, e o termo “girondino” passou a ser utilizado a partir de 1793.

Foi na Assembleia Nacional, que se transformou na Convenção Nacional posteriormente, que os atritos entre políticos jacobinos e girondinos se estabeleceram e foram gradativamente aumentando. Os jacobinos se sentavam à esquerda da mesa diretora da Assembleia, já os girondinos se sentaram à direita. Foi a partir desse fato que surgiram os termos políticos “esquerda” e “direita”.

Saiba mais: Qual é a história por trás da autocoroação de Napoleão Bonaparte?

Exercícios resolvidos sobre girondinos

1 - (UFRGS) Após a Revolução de 1789, a França viveu um período de grande instabilidade, marcado pelo radicalismo e pela constante ameaça externa.

Assinale a alternativa correta em relação a esse período.

a) Com a queda da Bastilha, símbolo do autoritarismo real, os deputados da Assembleia Constituinte, aproveitando o momento político, proclamaram a República, pondo um termo final ao Antigo Regime.

b) Em meio ao caos provocado pela fuga do rei e pela derrocada da Monarquia, iniciou-se, em Paris, a criação de uma sociedade baseada nos ideais socialistas, a Comuna de Paris.

c) o período conhecido como o Terror foi protagonizado pelo jacobino Robespierre, que posteriormente foi derrubado por Napoleão, um general que se destacara por sua trajetória vitoriosa.

d) o Golpe do 18 Brumário representou a queda do Diretório, regime que se pretendia representante dos interesses burgueses, mas que era inepto a governar.

e) durante um curto período, após a Queda da Bastilha, a França vivenciou uma Monarquia Constitucional, mas, na prática, o rei ainda mantinha a autoridade de antes.

Alternativa D

O Diretório foi apoiado pela alta burguesia francesa, que via nele uma forma de evitar um período de terror e de serem tomadas reformas sociais e econômicas mais amplas. Mas o governo do Diretório foi marcado por guerras e revoltas internas, essa situação levou a alta burguesia a apoiar o Golpe de 18 Brumário e a ascensão de Napoleão ao poder.

2 – (PUC-RJ) “A Revolução Francesa constitui um dos capítulos mais importantes da longa e descontínua passagem histórica do feudalismo ao capitalismo. Com a Revolução (científica) do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII na Inglaterra, e ainda com a Revolução Americana de 1776, a Grande Révolution lança os fundamentos da História contemporânea.”

[Mota, C. G. A Revolução Francesa].

Entre as transformações promovidas pela Revolução na França, iniciada em 1789, é CORRETO afirmar que:

a) os privilégios feudais e o regime de servidão foram abolidos destruindo a base social que sustentava o Antigo Regime absolutista francês.
b) a Revolução aboliu o trabalho servil e fortaleceu o clero católico instituindo uma série de medidas de caráter humanista.
c) os revolucionários derrubaram o rei e proclamaram uma República fundamentada no igualitarismo radical na qual a propriedade privada foi abolida.
d) a Revolução rompeu os laços com a Igreja católica iniciando uma reforma de cunho protestante que se aproximava dos ideais da ética do capitalismo moderno.
e) a Revolução, mesmo em seu momento mais radical, não foi capaz de romper com as formas de propriedade e trabalho vigentes no Antigo Regime.

Alternativa A

A abolição dos privilégios feudais e do regime de servidão uniu jacobinos, girondinos, sans-culottes e todos os outros grupos que participaram da Revolução Francesa. O fim dos privilégios e da servidão foram promulgados no ano inicial da revolução e não foram revogados.

Fontes

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução na França. Vide Editorial, Campinas, 2017.

VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa – 1789/1799. Editora UNESP, São Paulo, 2012.

Por: Jair Messias Ferreira Junior

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