Quando se estuda a história do Império Romano e a formação da Idade Média (período conhecido como Alta Idade Média ou Idade tardo-antiga), é imprescindível conhecer, além dos aspectos da civilização romana, a penetração do cristianismo no centro do império e as invasões bárbaras. Nesse contexto, conhecer os povos germânicos, ou simplesmente germanos, como também são conhecidos, é de fundamental importância.
Mas quem eram os bárbaros? O termo bárbaro, que é de origem grega e significa “estrangeiro”, era usado para qualificar aqueles que não pertenciam à cultura helênica e não falavam o grego. Os antigos romanos usavam esse termo para designar a mesma coisa, porém direcionavam-se aos povos de origem nórdica, que falavam dialetos diferentes dos povos indo-europeus, dos quais se originaram as civilizações grega e romana. Os germanos consistiam na matriz principal desses povos nórdicos.
A principal referência que se tem até hoje sobre os germanos é a obra Germania de Cornelius Tacitus, ou Tácito, como é mais conhecido, publicada em 98 d.C. Tácito foi um dos mais proeminentes historiadores da antiguidade e descreveu com acuidade os aspectos sociais, econômicos e culturais dos povos germânicos. Esses povos migraram do extremo norte da Europa e estabeleceram-se na região entre os rios Danúbio e Reno, onde hoje se localizam a Alemanha e a República Tcheca.
Ao contrário das civilizações que se desenvolveram no sul da Europa, os germanos não se organizavam de forma complexa em cidades-estados com infraestrutura sofisticada e estrutura política hierarquizada. A vida dos germanos centrava-se na tribo e no clã, e a sociedade organizava-se em laços de sangue. A sippe era o núcleo de cada clã. Cada sippe (cujo significado aproximado pode ser “família”) fundamentava-se na comunidade de linguagem que assegurava a proteção das pessoas sob autoridade de um chefe guerreiro.
Os germanos, em razão dessa centralidade na figura do guerreiro, eram essencialmente militarizados, de modo que existiam as assembleias de guerreiros, que eram responsáveis por governar as tribos. No âmbito econômico, os germanos desenvolveram técnicas específicas para a agricultura e a pecuária, que eram executadas pelo grupo familiar e pelos homens semilivres e os escravos. Esses dois últimos eram prisioneiros de guerras. Além disso, a prática da metalurgia também era um ponto forte na economia germânica, haja vista que era usada na produção de armas, de carros de combate, barcos e utensílios domésticos.
No âmbito cultural, os germanos orientavam-se por suas crenças mitológicas, que organizavam o sentido cosmológico e pragmático da sociedade. Foi o caso, por exemplo, do mito de Asgard, que era considerado o reino ou a terra sagrada dos deuses. Acompanhou essa concepção a ideia da Yggdrasil, a árvore sagrada que funcionava como o eixo do mundo. O reino dos humanos, o mundo humano, era denomidado Midgard. Deuses como Odin e Thor estão entre os mais populares da mitologia germânica.