A Guerra da Bósnia foi um conflito que aconteceu entre 1992 e 1995 durante o processo de fragmentação da antiga Iugoslávia. O confronto entre croatas, sérvios e bósnios resultou em mais de 100.000 mortos e foi responsável por crimes de guerra e por uma tentativa de limpeza étnica promovida pelos sérvios contra os bosníacos (bósnio-muçulmanos).
Formação e desintegração da Iugoslávia
Durante os séculos XVIII e XX, a região que corresponde à antiga Iugoslávia (Península Balcânica) esteve sob domínio do Império Austro-húngaro e do Império Turco-otomano. O domínio estrangeiro fomentou o desenvolvimento de movimentos de independência entre os povos eslavos que habitavam a região. A ideia era criar um reino que unificasse croatas, sérvios e bósnios em uma mesma nação.
A concretização dessa ideia só aconteceu a partir de 1929 com o surgimento do Reino da Iugoslávia. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia foi fragmentada novamente, após ser invadida pelo Eixo, e depois unificada a partir da liderança do general Josip Broz Tito. Durante a guerra, Tito havia lutado contra o nazismo nas forças de resistência chamadas de Partisans. A nova Iugoslávia era composta por seis nações: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Montenegro, Macedônia e Bósnia-Herzegovina.
Entre 1953 e 1980, Tito conseguiu por meio do poder ditatorial impor o controle sobre as diferentes etnias existentes nos Bálcãs. Entretanto, após a morte desse general em 1980, desenvolveu-se nos Bálcãs uma série de movimentos nacionalistas que defendiam a emancipação das nações que compunham a Iugoslávia.
Assim, na virada para a década de 1990, surgiram importantes nomes na defesa dos movimentos nacionalistas, como Franjo Tu?man (croata), Slobodan Miloševi? (sérvio) e Alija Izetbegovi? (bósnio).
O fim do bloco socialista em 1991 contribuiu de maneira definitiva para que os movimentos nacionalistas ganhassem força, uma vez que o poder do Partido Comunista mantinha os movimentos separatistas e as rivalidades étnicas sob controle. Assim, no mesmo ano, eclodiram os primeiros movimentos de independência na Iugoslávia.
Fragmentação da Iugoslávia e Guerra da Bósnia
As primeiras nações a reivindicar a sua independência foram Eslovênia e Croácia, em 1991. Sérvia e Montenegro eram contrárias aos movimentos de independência. Nesse contexto, iniciaram-se conflitos armados das forças iugoslavas contra a Eslovênia e Croácia. Os exemplos dados por eslovenos e croatas incentivaram outros movimentos, assim, em 1991, houve a declaração de independência da Macedônia.
O movimento de independência da Bósnia era um caso mais complexo porque esse país possuía a maior diversidade étnica e religiosa da região: “em 1991, 44% dos 4,4 milhões de habitantes eram bósnio-muçulmanos, 31%, sérvios, e 17%, croatas”|1|. Além disso, cada um desses grupos possuía uma religião diferente, o que acabou sendo mais um elemento que criava tensões. Em geral, bósnios eram muçulmanos, sérvios eram cristãos ortodoxos, e croatas eram católicos.
A tensão existente na Bósnia aumentava em virtude do conflito em andamento, mas também pelas demandas que cada etnia defendia. Bósnio-muçulmanos defendiam a independência total da Bósnia sob a liderança da maioria étnica do país. Sérvio-bósnios defendiam a separação dos territórios bósnios ocupados por sérvios para anexá-los à Sérvia. Os croata-bósnios, por sua vez, defendiam a anexação total da Bósnia ao território croata.
Os primeiros confrontos aconteceram no dia 5 de abril de 1992, quando sérvio-bósnios atacaram bosníacos na cidade de Sarajevo. No dia 6 de abril de 1992, a independência da Bósnia foi reconhecida internacionalmente.
O conflito estendeu-se por três anos, e algumas reviravoltas aconteceram nesse período. Os grupos armados sérvio-bósnios conseguiram uma vantagem inicial por estarem mais bem equipados, porém, com o avanço do conflito, a vantagem inicial foi perdida. Os sérvio-bósnios contavam com o apoio de Slobodan Miloševi?, presidente da Sérvia. Quando o apoio de Miloševi? foi perdido, a partir de 1994, as forças sérvio-bósnias perderam força.
O fortalecimento do exército bosníaco e bósnio-croata ocasionou vitórias importantes e a negociação de paz em 1995. O Acordo de Dayton foi assinado em 14 de dezembro de 1995 e definiu o fim do conflito na Bósnia. Com o objetivo de estabelecer um convívio harmonioso, a Bósnia-Herzegovina foi organizada em duas regiões: Federação da Bósnia e Herzegovina, sob controle de bosníacos e croatas, e a República Sérvia da Bósnia, sob controle dos sérvio-bósnios.
Crimes de Guerra
Túmulo de soldados bosníacos que morreram durante o cerco a Sarajevo **
A Guerra da Bósnia foi marcada também por inúmeros crimes de guerra. Os principais crimes foram cometidos pelas forças sérvio-bósnias contra a população bosníaca. A mando de Karadži? e Mladi?, foram colocados em prática genocídios com a intenção de promover uma limpeza étnica e exterminar a população bosníaca da região.
Um dos casos de destaque foi o cerco a Sarajevo, capital da Bósnia, em que tropas sérvio-bósnias posicionaram artilharia e atiradores de elite nos morros ao redor da cidade e começaram a atacar indiscriminadamente a população civil. Além disso, o conflito ficou marcado pela utilização de campos de concentração contra a população bosníaca.
O caso mais conhecido da guerra foi o massacre de Srebrenica, quando tropas sérvio-bósnias invadiram um campo de refugiados e mataram mais de 8.000 bosníacos. Posteriormente, Karadžic e Mladi? foram considerados criminosos de guerra e, após estarem desaparecidos durante anos, foram capturados e condenados por crimes contra a humanidade.
Apesar disso, o conflito também registrou casos de violência realizados pelas tropas croatas e pelas tropas bosníacas contra a população, mas em menor quantidade.
|1| SILVA, Gustavo. Da rosa ao pó: Histórias da Bósnia pós-genocídio. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011, p.17.
*Créditos da imagem: Northfoto e Shutterstock
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