Ao longo do século XIX, os Estados Unidos passaram por diversos acontecimentos que os consolidaram como nação independente e transformaram o país numa potência internacional. Os acontecimentos aqui destacados estão relacionados com a expansão das fronteiras do país ao longo desse período e com o maior conflito da história norte-americana: a Guerra de Secessão.
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Marcha para o oeste
A expansão territorial dos Estados Unidos ao longo do século XIX ficou conhecida como “marcha para o oeste” e teve início logo após a assinatura do Tratado de Paris, em que a Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos em 1783. Nesse tratado, os ingleses também cederam uma extensa faixa de terra que se iniciava na região dos Montes Apalaches e iam até as margens do Rio Mississipi.
Essa região havia sido palco de tensões entre americanos e ingleses desde o fim da Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Nessa guerra, os ingleses conquistaram essas terras ao derrotarem os franceses, mas, por ordens do rei inglês Jorge III, sua habitação pelos colonos era proibida, pois o rei queria evitar conflitos com as nações indígenas.
A partir da presidência de Thomas Jefferson, a ocupação dessas terras foi incentivada, assim como também foi estimulada a expansão para outras regiões que seriam compradas ou conquistadas pelos norte-americanos ao longo do século XIX. O processo de crescimento territorial dos Estados Unidos aconteceu de duas formas: por meio da diplomacia e da guerra.
Por meio da diplomacia, os norte-americanos conseguiram comprar os seguintes territórios: Luisiana, em 1803; Flórida, em 1819; e Alasca, em 1867. O governo americano também conseguiu expandir seu território por meio de acordos diplomáticos (como foi o caso da cessão de Oregon) e houve também conquistas territoriais obtidas por meio da guerra.
Luisiana foi comprada dos franceses ainda durante o governo de Thomas Jefferson. Os franceses, na época sob domínio de Napoleão Bonaparte, possuíam intenções de uso futuro para essa terra, mas as dificuldades financeiras que a França sofria acarretadas pela independência do Haiti e pelas guerras travadas na Europa forçaram a venda da região para os Estados Unidos pelo valor de 15 milhões de dólares.
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A compra seguinte realizada pelos americanos aconteceu em 1819, quando americanos e espanhóis acertaram um valor de 5 milhões de dólares pela Flórida. Nesse acordo, os americanos aproveitaram-se do enfraquecimento e da fragilidade da Espanha, decorrentes dos acontecimentos desencadeados por Napoleão na Europa e pelos movimentos de independência que aconteciam nas colônias da Espanha na América.
Os americanos, além de saberem que a Espanha estava fragilizada, também sabiam que a Flórida era uma região pouquíssimo povoada. Em 1813, mobilizou-se uma pequena tropa que organizou a invasão da Flórida e decretou o fim do domínio espanhol na região. O presidente James Madison, no entanto, interveio na situação e desautorizou a ação organizada pelos americanos.
Os americanos, no entanto, utilizaram o argumento de que a ameaça indígena na região justificava a sua ação, pois alegavam que a Espanha não estava cumprindo com suas obrigações de manter os indígenas sob controle. A continuidade dessa situação fez com que a Espanha, para evitar uma guerra, assinasse um acordo, em 1819, ratificando a venda da Flórida.
Os americanos também obtiveram o Alasca por meio da compra e da diplomacia, mas essa aquisição só aconteceu na segunda metade do século XIX, em 1867, durante o governo de Andrew Johnson. Os donos do Alasca na época, os russos, enfrentavam graves dificuldades econômicas por conta do envolvimento do país na Guerra da Crimeia (1853-1856). Assim, pela ação de William H. Seward, secretário de Estados Unidos, os russos venderam o Alasca por 7,2 milhões de dólares.
A obtenção de novos territórios para os Estados Unidos, no entanto, não aconteceu somente diplomaticamente, pois aconteceram conquistas após a Guerra Mexicano-Americana. Essa guerra, como o próprio nome sugere, foi travada entre americanos e mexicanos, entre 1846 e 1848, por conta da rivalidade entre os dois países por questões territoriais.
Guerra Mexicano-Americana
Para entendermos a guerra travada entre americanos e mexicanos, precisamos primeiro entender a questão do Texas. A rivalidade entre as duas nações surgiu da Revolução do Texas, que fez com que essa cidade declarasse sua independência do México em 1836. Essa revolução foi realizada por colonos americanos insatisfeitos com as decisões do governo mexicano.
A relação entre os dois governos manteve-se ruim durante os anos seguintes e azedou de vez em 1845, quando o Texas foi anexado ao território americano. A guerra foi iniciada quando os americanos demonstraram interesse em ocupar a Califórnia – outro território que também pertencia ao México. O resultado da guerra foi desastroso para o México, pois foi obrigado a ceder Califórnia e Novo México para os Estados Unidos.
Destino Manifesto
A expansão territorial dos Estados Unidos ao longo do século XIX foi embasada em uma ideologia conhecida como Destino Manifesto. Essa ideologia é baseada no termo calvinista “eleição”, que relaciona prosperidade com “proteção divina”|1|. O Destino Manifesto também defendia a necessidade de os americanos levarem os “valores” de sua sociedade para outras consideradas “atrasadas” e “selvagens”. Essa ideologia foi usada para justificar todas as ambições territoriais dos americanos, assim como todas as violências cometidas nesse processo, sobretudo contra os indígenas.
Guerra de Secessão
Um dos pontos mais marcantes da história norte-americana ao longo do século XIX, se não o mais, foi a Guerra de Secessão, também conhecida como Guerra Civil Americana, travada entre 1861 e 1865. Essa guerra foi causada pelo secessionismo (separatismo) entre os estados sulistas e a União. Essa rivalidade girava em torno dos diferentes interesses e das diferentes formas de organização existentes entre nortistas e sulistas.
A questão do trabalho escravo era um debate crucial da política americana das décadas de 1830 em diante, e sua repercussão foi ampliada com a expansão para o oeste. Os sulistas desejavam ampliar o trabalho escravo para o oeste, mas encontraram obstáculos nos nortistas contrários a essa mão de obra. Esse entrave levou a conflitos localizados no Kansas e em Nebraska.
No final da década de 1850, a tensão entre os dois lados alcançou o auge e canalizou-se na eleição presidencial de 1860. Os sulistas não aceitaram a vitória de Abraham Lincoln e iniciaram um movimento de secessão (separação), formando os Estados Confederados da América. O separatismo não foi aceito pelos estados da União, e a guerra iniciou-se em 1861.
A Guerra de Secessão estendeu-se até 1865 e teve como desfecho a derrota absoluta dos sulistas. Os estados que haviam-se separado foram reintegrados à União, e os sulistas foram obrigados a colocar fim ao trabalho escravo, conforme lei estipulada pelo presidente Lincoln em 1863. Essa guerra foi responsável pela morte de 600 mil pessoas e, até hoje, é o conflito mais mortal da história dos Estados Unidos.
|1| KIERNAN, Victor G. Estados Unidos: o novo imperialismo. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 34.
*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock