Escravidão na África

A escravidão na África foi uma instituição antiga e de origens variadas, utilizada pelos europeus durante a época moderna.

Gravura de 1890 representando a escravidão interna na África.
Gravura de 1890 representando a escravidão interna na África.

A escravidão na África foi um sistema diversificado, com origens variadas e uma ampla gama de práticas. Enquanto algumas sociedades africanas envolviam escravidão como resultado de capturas durante conflitos ou de punições criminais, outras o faziam devido a dívidas não pagas ou práticas tradicionais. Esse sistema conferia diferentes direitos e oportunidades de liberdade aos escravizados, em contraste com a escravidão no Brasil colonial.

A chegada dos portugueses à África desempenhou um papel significativo no comércio transatlântico de escravos, que envolvia a captura de africanos, seguida por viagens precárias em navios negreiros. O fim da escravidão na África foi gradual e influenciado por movimentos abolicionistas internacionais, com diferentes países abolindo a prática em momentos diversos.

Leia também: Por que o Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a escravidão na África

  • A escravidão na África foi um sistema diversificado, com origens variadas e uma ampla gama de práticas.
  • Os portugueses iniciaram a exploração costeira africana no século XV. Em busca de rotas comerciais, eles estabeleceram postos comerciais e feitorias ao longo da costa, interagindo com sociedades africanas. Sua presença na África influenciou a escravidão interna e contribuiu para o comércio transatlântico de escravos.
  • O tráfico negreiro envolveu a captura de africanos, seguida por viagens precárias em navios negreiros.
  • O fim da escravidão na África foi gradual e influenciado pela abolição pelo colonialismo europeu.
  • A escravidão moderna na África inclui trabalho forçado, exploração laboral e tráfico de pessoas.
  • A escravidão interna na África era diversa, enquanto a escravidão no Brasil era racial e sistemática, organizada como mecanismo de geração de lucros para a metrópole.
  • A escravidão interna na África tinha várias causas, incluindo captura de prisioneiros, dívidas e práticas culturais, enquanto a versão do Brasil colonial estava fortemente ligada à origem étnica africana e à cor da pele.

Origem da escravidão na África

Gravura de 1703 que representa escravos do reino africano de Daomé.
Gravura de 1703 que representa escravos do reino africano de Daomé.

A origem da escravidão na África é complexa e pode ser explicada por variados motivos. A prática da escravidão era comum em várias sociedades africanas muito antes da chegada dos europeus, devido a fatores econômicos e sociais, como a necessidade de mão de obra para a agricultura, mineração, criação de gado e outras atividades econômicas. Além disso, a escravidão também foi usada como uma forma de status social, com pessoas ricas e poderosas possuindo escravos para mostrar sua riqueza e influência.

Outro elemento da origem da escravidão na África foram as frequentes guerras entre nações e etnias africanas: os prisioneiros capturados podiam ser reduzidos à condição de escravizados. A escravidão também poderia ser uma forma de punição por dívidas não pagas. Uma pessoa que não conseguisse pagar suas dívidas poderia ser vendida como escrava para quitá-las.

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Quais são as formas de escravidão na África?

As principais formas de escravidão na África foram:

  • Escravidão por guerra: os prisioneiros de guerra, derrotados por outra nação ou etnia, eram escravizados pelos vencedores ou vendidos como escravos.
  • Dívidas: a escravidão era uma forma de saldar grandes dívidas. Nesse modelo, o endividado se entregava como escravo para pagar o que devia.

Veja também: Senzala — os alojamentos que encarceravam os trabalhadores escravizados no Brasil

Comércio de escravos

O comércio interno de escravos africanos tinha características distintas em comparação com o comércio transatlântico, que envolveu a exportação de africanos para as Américas. O comércio de escravos dentro da África era geralmente regional e envolvia a captura, a venda e o transporte de pessoas de uma região para outra dentro do continente.

Chegada dos portugueses e a escravidão na África

A chegada dos portugueses à África marcou o início da era dos descobrimentos e da exploração europeia no continente africano. Os portugueses desempenharam um papel significativo na expansão das rotas comerciais e na exploração da costa africana nos séculos XV e XVI. Sua presença na África teve uma relação direta com a escravidão, tanto em termos de influenciar as práticas de escravidão existentes quanto no envolvimento com o comércio transatlântico de escravos.

À medida que os portugueses estabeleciam postos comerciais e fortalezas ao longo da costa africana, eles começaram a interagir com as sociedades locais. Isso incluía o envolvimento com as práticas de escravidão existentes na África. Os portugueses frequentemente trocavam mercadorias europeias, como armas de fogo, tecidos e utensílios, por escravos africanos que capturavam em conflitos locais ou adquiriam por meio de redes comerciais.

Tráfico negreiro

O tráfico negreiro foi o processo de comercialização de pessoas escravizadas na África entre os séculos XV e XIX. Também chamado de comércio transatlântico de escravos, envolveu diferentes nações europeias e africanas. Algumas nações africanas desenvolveram atividades de captura e sequestro de outras nações inimigas com o objetivo de vender os cativos como escravos para os europeus. Outras nações, que já praticavam a escravidão interna, trocavam seus escravizados por produtos europeus e armas de fogo.

Os africanos capturados eram então transportados em navios negreiros para as Américas. As condições a bordo desses navios eram extremamente precárias, com espaço apertado, higiene inadequada e alimentação insuficiente. Muitos escravos morriam durante a viagem devido a doenças, fome e más condições. Nos portos africanos, os escravos eram frequentemente submetidos a leilões, nos quais eram vendidos a comerciantes europeus. As famílias eram frequentemente separadas nesse processo, e todas essas pessoas vendidas eram tratadas como mercadorias.

Maquete do interior de um navio negreiro.[1]
Maquete do interior de um navio negreiro.[1]

Como foi o fim da escravidão na África?

O tráfico negreiro persistiu por séculos, mas, ao longo do século XIX, movimentos abolicionistas ganharam força em todo o mundo. O Reino Unido, por exemplo, promulgou o Ato de Abolição do Tráfico de Escravos em 1807. O comércio transatlântico de escravos foi proibido nos Estados Unidos em 1808. O Brasil, o último país nas Américas a abolir o tráfico negreiro, fez isso em 1850.

Não houve um único evento que tenha marcado o fim da escravidão em todo o continente africano, mas sim uma série de eventos regionais e nacionais, como:

  • Abolição pelo colonialismo europeu: à medida que as potências coloniais europeias estabeleceram e consolidaram seu controle sobre várias partes da África, muitas delas gradualmente aboliram a escravidão em seus territórios colonizados. Isso foi frequentemente motivado por pressões e influências internacionais, como a abolição do comércio transatlântico de escravos por potências europeias.
  • Pressões internacionais: a partir do século XIX, convenções internacionais, como a Convenção de Bruxelas de 1890, foram assinadas por várias nações europeias para combater a escravidão e o comércio de escravos na África. Isso reforçou a proibição da escravidão.
  • Rebeliões e resistência: em muitas partes da África, houve rebeliões e resistência por parte dos escravizados, que buscavam a liberdade. Essas ações contribuíram para a conscientização sobre os horrores da escravidão.
  • Legislação nacional: alguns países africanos aboliram a escravidão por meio de legislação nacional. Por exemplo, a Etiópia aboliu a escravidão em 1932, enquanto a Mauritânia só oficialmente aboliu a escravidão em 1981.
  • Descolonização: com o movimento de descolonização do século XX, vários países africanos ganharam independência das potências coloniais europeias e promulgaram leis para abolir a escravidão em seus territórios.

Saiba mais: Bill Aberdeen e a pressão inglesa pelo fim do tráfico negreiro

Escravidão da África atual

Atualmente, a escravidão na África não assume mais a característica mercantilista da época do comércio transatlântico de escravos. Organizações mundiais como a ONU e a Organização Internacional do Trabalho afirmam que as feições da escravidão africana moderna são mais sutis, relacionando-se ao trabalho forçado, trabalho infantil, casamentos forçados (especialmente casamentos infantis), e resultado de conflitos armados.

Apesar dessa aparente modernização, ainda persistem modelos tradicionais de escravidão, como o tráfico de pessoas — que envolve recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou recebimento de pessoas por meio de ameaça, força, coerção ou engano, com o objetivo de explorá-las — e a escravidão por dívidas.

Diferenças entre a escravidão na África e a escravidão no Brasil

Entre as principais diferenças entre a escravidão na África e no Brasil colonial, pode-se apontar:

  • Antes da chegada dos europeus, a escravidão na África era resultado de capturas durante guerras, de punições criminais, de dívidas não pagas ou de práticas tradicionais em algumas sociedades africanas. Os escravos, em algumas sociedades africanas, tinham mais direitos, além da possibilidade de alcançar a liberdade, em comparação com o sistema de escravidão nas Américas. Já no Brasil colonial, tratava-se de um sistema de escravidão racial, no qual toda uma etnia foi estigmatizada em razão da cor de sua pele.
  • A escravidão interna na África frequentemente envolvia pessoas da mesma região ou grupo étnico que eram capturadas ou escravizadas por grupos rivais. Isso resultou em uma diversidade de origens étnicas entre os escravos africanos dentro do continente.
  • No Brasil colonial, a escravidão estava ligada à origem étnica e racial. A maioria dos escravizados era africana e trazida da África Ocidental, principalmente das regiões que hoje são Nigéria, Angola e Moçambique. Essa escravidão estava intimamente relacionada à cor da pele, e os escravos eram frequentemente classificados com base em sua origem étnica africana.

Exercícios resolvidos sobre escravidão na África

1. Qual das seguintes afirmações sobre a escravidão na África está correta?

A) A escravidão na África era principalmente de natureza racial, com base na cor da pele. B) A escravidão na África pré-colonial era uniforme e idêntica em todas as sociedades africanas.

C) Os escravos na África não tinham a possibilidade de alcançar a liberdade.

D) A escravidão na África estava principalmente ligada a guerras e captura de prisioneiros.

E) A escravidão na África foi uma invenção europeia.

Resposta: D

A escravidão na África pré-colonial era diversa e variada, mas geralmente envolvia a captura de prisioneiros durante conflitos armados, entre outras causas. Era uma prática comum em várias sociedades africanas, e os escravos tinham diferentes direitos, além de oportunidades de liberdade, dependendo do contexto.

2. Qual dos seguintes itens NÃO é uma característica do tráfico transatlântico de escravos?

A) Os africanos capturados eram frequentemente submetidos a leilões.

B) As condições a bordo dos navios negreiros eram precárias.

C) Os escravos eram enviados da África diretamente para os Estados Unidos.

D) A demanda por trabalho escravo nas Américas impulsionou esse comércio.

E) O tráfico transatlântico de escravos teve um impacto duradouro nas culturas das Américas.

Resposta: C

Durante o tráfico transatlântico de escravos, os africanos capturados eram frequentemente submetidos a leilões, as condições nos navios negreiros eram péssimas, a demanda por trabalho escravo nas Américas impulsionou o comércio e teve um impacto duradouro nas culturas das Américas. No entanto, os escravos não eram geralmente enviados diretamente para os Estados Unidos, mas para várias colônias e países nas Américas, incluindo o Brasil, o Caribe e a América do Norte.

Créditos da imagem

[1]Kenneth Lu / Wikimedia Commons

Fontes:

GOULART, Maurício. A Escravidão Africana no Brasil: Das Origens à Extinção do Tráfico. São Paulo: Alfa Ômega, 2005.

NIANE, Djibril. História geral da África - Volume 4: África do século XII ao XVI. São Paulo: Cortez, 2011.

Por: Tiago Soares Campos

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