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Direita e esquerda no debate político
No debate político contemporâneo, seja no meio político propriamente dito, seja no espaço jornalístico, nas redes sociais ou no âmbito universitário etc., é comum o emprego dos termos “direta” e “esquerda” para qualificar a postura dos debatedores. Pois bem, ocorre que nem sempre esses debatedores têm pleno discernimento das particularidades que esses termos comportam. A fim de melhor esclarecê-las, vejamos em que contexto eles se originaram.
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Origem dos termos Direita e Esquerda
Os opostos políticos direita e esquerda tiveram origem no contexto da Revolução Francesa, iniciada em 1789. É sabido que uma das principais características da Revolução Francesa foi a entrada efetiva da (alta e baixa) burguesia, e os trabalhadores (camponeses e urbanos) na esfera do poder político. Esses grupos constituíam o chamado Terceiro Estado do Antigo Regime Absolutista, que sempre tinha seu voto vencido na disputa institucional contra os outros dois Estados: o Clero e a Nobreza.
Para implodir a estrutura institucional do Antigo Regime, os membros do Terceiro Estado reuniram-se em Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição para França que, evidentemente, contemplasse os interesses burgueses e, como se dizia à época, do “povo”. O lado direito do salão onde se realizou a Constituinte foi ocupado pelos girondinos, que representavam a alta burguesia e possuíam um viés político moderado e conciliador. Do lado esquerdo, sentaram-se os jacobinos, considerados radicais exaltados, defensores dos interesses dos trabalhadores urbanos e dos camponeses e contrários tanto à nobreza e ao clero quanto à alta burguesia moderada.
A oposição entre o grupo direito (moderado) e o grupo esquerdo (radical) deu origem, portanto, à nomenclatura que hoje é utilizada correntemente. Todavia, há algumas particularidades que devem ser ressaltadas.
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Problemática ideológica: Conservadorismo x Progressismo
A Revolução Francesa, se olhada em conjunto, pode ser encarada como um evento permeado pela ideologia progressista, que foi amadurecida pelo Iluminismo francês. Sendo assim, mesmo os mais moderados que participaram dessa revolução tinham em vista uma aposta muito alta no futuro e no progresso que a transformação social e política operada pela ação revolucionária poderia proporcionar.
Essa postura estava na contramão da de outros pensadores e políticos da época, não necessariamente ligados ao absolutismo. Era o caso do britânico Edmund Burke, que criticou duramente a Revolução Francesa no início dos anos de 1790, ressaltando que os que nela se envolveram haviam deixado de se pautar pelos exemplos do passado, pelo o que a tradição havia legado de mais importante à política. Burke defendia a conservação de alguns princípios tradicionais elementares, como a ordem moral, a religião, a prudência etc., sem os quais o risco de cair na barbárie e no terror revolucionário (como ocorreu quando os jacobinos chegaram ao poder) tornava-se altíssimo.
A postura de Burke é claramente oposta ao progressismo que alimentou a perspectiva revolucionária na França, que seguiu fomentando tanto ações revolucionárias ainda mais radicais e violentas, como a Revolução Bolchevique, na Rússia, quanto políticas institucionais voltadas ao assistencialismo social, como foi o caso do “Estado do Bem-Estar Social” na Europa após a Segunda Guerra. Burke é considerado o precursor do conservadorismo político moderno.
A questão é que a expressão “direita”, que nasceu em um contexto revolucionário, acabou por ser aplicada ao tipo de postura conservadora derivada das ideias de Burke. A expressão “esquerda”, por outro lado, passou a ser identificada diretamente com o progressismo, radical ou não. Daí advém a confusão quando se debate política na atualidade.