As simpatias de Festa Junina são uma parte importante dessa festividade religiosa. As Festas Juninas brasileiras, cuja tradição remonta à época colonial, têm como eixo norteador o festejo dos dias de quatro santos católicos: Santo Antônio (festejado dia 13 de junho), São Pedro e São Paulo (ambos festejados em 29 de junho), bem como São João, que, em muitas regiões, é o que mais se destaca (festejado em 24 de junho). As histórias desses santos alimentam há séculos o imaginário popular e, no contexto das Festas Juninas, tornaram-se material para muitas práticas supersticiosas, que geralmente recebem o nome de simpatias.
Grande parte das simpatias das Festas Juninas está relacionada com o acendimento da fogueira, que é, sobretudo, um símbolo da devoção a São João, mas que também se estende aos outros santos. Ocorre que os elementos supersticiosos ligados às simpatias da fogueira tiveram origem também em outras culturas, como veremos adiante.
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5 simpatias de Festa Junina
As Festas Juninas proporcionam a ocasião para muitas simpatias e crendices populares. A seguir, você conhecerá cinco das principais simpatias de Festa Junina. Os três primeiros tópicos tratam de simpatias relacionadas com a fogueira e São João. Os dois últimos dizem respeito às simpatias direcionadas a Santo Antônio, o “santo casamenteiro” por excelência.
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1. Simpatia de passear descalço nas brasas da fogueira
Uma das práticas mais impressionantes relacionadas com a fogueira de São João é caminhar descalço sobre as brasas incandescentes. No interior do Brasil, quem anda sobre as brasas recebe o nome de “passador de fogueira”. Essa prática é cumprida tanto por sacerdotes católicos como forma de autossacrifício quanto por leigos, que o fazem geralmente como forma de pagar penitências ou criar laços de apadrinhamento.
Uma das fontes que mostram a origem dessa simpatia pode ser observada no relato do antropólogo George James Frazer, em seu livro Ramo de Ouro, citado por Câmara Cascudo em Superstições no Brasil:
Na Itália, no santuário da deusa Ferônia ao pé do Monte Soracte, todos os anos os homens de certas famílias andavam com os pés nus e sem se queimar sobre as brasas ardentes e as cinzas de uma grande fogueira feita com pinheiros, em presença de incontável multidão vinda de todos os pontos da região para fazer suas devoções à deusa. As famílias a que esses homens pertenciam tinham o nome de Hirpi Sorani, os Lobos de Soranus. |1|
Como se vê, “passar sobre a fogueira” é um rito que remonta, no mínimo, ao culto à deusa romana Ferônia. Esse rito sobreviveu, transformado, ao sucumbimento dos cultos pagãos.
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2. Simpatia do anel
Câmara Cascudo, também em Superstições no Brasil, apresenta outra prática supersticiosa relacionada com a fogueira de São João. Dessa vez, a simpatia destina-se àqueles (geralmente, às moças) que querem saber quanto tempo ainda demorará para se casarem. Diz Casacudo que:
Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dados no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentador terá de esperar pelo casamento. |2|
Muitos astrólogos antigos, tanto das civilizações clássicas europeias quanto de outras regiões, utilizavam um método semelhante para adivinhar o tempo para a ruína de um reino ou as letras iniciais do sucessor do rei, etc. Portanto, a simpatia do anel na fogueira também remonta a práticas muito antigas.
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3. Simpatia do ovo
Outro caso colhido por Cascudo em Superstições no Brasil e também destinado às moças que querem saber quando ou com quem se casarão é o seguinte:
As moças passavam em cruz sobre as brasas com copos cheios d'água, dentro dos quais quebravam ovos, e iam expô-los ao sereno; de manhã os examinariam, e conforme as posições tomadas pela clara e a gema, formando mais ou menos aproximadamente uma igreja, um navio, uma joia, significariam: casamento, viagem, riqueza, e assim por diante. |3|
Cascudo diz que esse tipo de simpatia tem precedentes também em outras culturas, mas em vez do emprego do ovo, havia a utilização de outros materiais. Na República Romana, por exemplo, derretia-se chumbo e aguardava-se a formação das imagens com o mesmo intuito do ovo no copo com água.
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4. Simpatia de castigar Santo Antônio para arranjar marido
Santo Antônio, que viveu na Baixa Idade Média, nasceu em Portugal, mas viveu e morreu na Itália, na cidade de Pádua. Não há um relato preciso de como ele se tornou um “santo casamenteiro”. Contudo, é fato que essa fama prevalece até hoje.
A pesquisadora Lúcia Helena Rangel, em seu livro Festas Juninas, festas de São João: origens, tradições e história, apresenta algumas simpatias típicas do interior do Brasil que têm Santo Antônio como protagonista. Diz Rangel:
Moças solteiras, desejosas de se casar, em várias regiões do Brasil, colocam-no de cabeça para baixo atrás da porta ou dentro do poço ou enterram-no até o pescoço. Fazem o pedido e, enquanto não são atendidas, lá fica a imagem de cabeça para baixo. |4|
Também havia certos cantos com o tema do castigo do santo, caso o pedido de se arranjar o marido não fosse atendido:
Meu Santo Antônio querido,
meu santo de carne e osso,
se tu não me dás marido,
não tiro você do poço.
O milho colhido tarde
não dá palha nem espiga.
Minha avó tem lá em casa
um Santo Antônio velhinho.
Em os moços não me querendo
dou pancadas no santinho.
A prática de castigar os santos também é uma sobrevivência de ritos antigos. Espartanos e romanos amarravam alguns de seus ídolos e açoitavam-nos com chicote até conseguirem os pedidos.
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5. Oração a Santo Antônio para amarrar o noivo
Quanto àquelas moças que já conseguiram ficar noivas, mas querem acelerar a cerimônia do casamento ou “amarrar o noivo” para que ele não desista de se casar, Lúcia Rangel também apresenta uma oração a Santo Antônio muito utilizada nesse sentido:
Padre Santo Antônio dos cativos, vós que sois um amarrador certo, amarrai, por vosso amor, quem de mim quer fugir, empenhai o vosso hábito e o vosso santo cordão com algemas fortes e duros grilhões que façam impedir os passos de (nome do amado), que de mim quer fugir, e fazei, ó meu bem aventurado Santo Antônio, que ele case comigo sem demora! Pelos vossos milagres; pela palavra quando a Jesus faláveis; pela defesa do vosso pai, um pedido eis-me a fazer. |5|
Notas
|1| CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 70
|2| CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 148
|3| CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 149-150
|4| RANGEL, Lúcia Helena Vitalli. Festas Juninas, festas de São João: origens, tradições e história. São Paulo: Publishing Solutions, 2008. p. 29-30
|5| RANGEL, Lúcia Helena Vitalli. Festas Juninas, festas de São João: origens, tradições e história. São Paulo: Publishing Solutions, 2008. p. 31
Fontes
CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985.
RANGEL, Lúcia Helena Vitalli. Festas Juninas, festas de São João: origens, tradições e história. São Paulo: Publishing Solutions, 2008.