Deu-se o nome de Belle Époque (Bela Época) ao período da história ocidental, sobretudo europeia, entre 1871, quando terminou a Guerra Franco-Prussiana, e junho de 1914, quando começou a Primeira Guerra Mundial. Esse foi um período marcado por grandes avanços nas áreas de ciência, tecnologia, urbanização, saneamento básico, medicina e outras. Foi também um momento de prestígio nos campos das artes e da moda, que tiveram em Paris o seu centro de aclamação.
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Belle Époque como expressão da crença no progresso tecnocientífico
Uma das características definidoras da Belle Époque é o clima de crença no progresso advindo da aliança entre ciência e tecnologia. Esses avanços são herdeiros da Revolução Industrial, iniciada ainda no século XVIII, na Inglaterra, e puderam ser vistos em invenções decisivas na virada do século XIX para o século XX, como o telégrafo (que substituiu os serviços de correios, que eram feitos a cavalo), o gramofone e o fonógrafo (que reproduziam o som gravado em discos), o telefone, as locomotivas a vapor e os bondes elétricos, além, é claro, do automóvel, avião e cinema.
Por outro lado, as reformas urbanas pensadas a partir das políticas púbicas higienistas, desenvolvidas por cientistas como Louis Pasteur, ajudaram a diminuir os casos de epidemias e mortes por doenças infectocontagiosas, comuns nas grandes metrópoles. Toda essa inundação de inventos tecnológicos não só tornava a vida mais cômoda e menos insalubre, mas também criava um clima de vertigem e furor, como bem pontua o historiador Philip Blom:
Velocidade e euforia, angústia e vertigem eram temas recorrentes entre 1900 e 1914, quando as cidades explodiram em suas dimensões e as sociedades foram transformadas, a produção em massa entrou para a vida cotidiana, os jornais tornaram-se impérios das comunicações, o público de cinema contava-se às dezenas de milhões e a globalização trazia aos pratos dos britânicos carne da Nova Zelândia e cereais do Canadá, aniquilando a venda de velhas classes fundiárias e promovendo a ascensão de novos tipos: engenheiros tecnocratas, as classes urbanas. [1]
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Belle Époque e o modernismo
Paris, como dissemos assim, foi o grande centro dessa crença no progresso durante a Belle Époque e o modelo para outras cidades da época, como o caso das brasileiras Rio de Janeiro e São Paulo. Um dos eventos que marcaram esse período foi realizado na capital francesa, em 1900: a chamada Exposition Universelle (Exposição Universal). Tal exposição consistia em mostras diversas sobre arte (art nouveau), moda e invenções tecnológicas. Muitos artistas modernistas da época, como o pintor futurista Giacomo Balla, procuravam ir além das técnicas impressionista e expressionista e tentavam captar, em seus quadros, a sensação de uma pessoa ao ver, por exemplo, automóveis passando em alta velocidade.
Outros artistas, como o cubista Pablo Picasso, reagiram de forma diferente, buscando em culturas primitivas africanas elementos para sua arte a fim de tecer críticas ao furor provocado pela crença no progresso. A artistas como Picasso somaram-se também pensadores como os alemães Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, que criticavam o perigo que havia nesse otimismo. Esse perigo foi revelado quando estourou a Primeira Guerra Mundial.
NOTAS
[1] BLOM, Philip. Anos vertiginosos: mudança de cultura no Ocidente – 1900-1914. trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2015. pp. 15-16.