Nas cidades temos a formação de uma proeminente classe burguesa que abraçava valores e comportamentos que se distinguiam do discurso oficial cristão. Ao mesmo tempo, o contraste entre a vida luxuosa e desregrada de alguns clérigos e a situação de miséria de grande parte da população alimentava uma situação de distanciamento. Com o passar do tempo, alguns grupos e coletividades passaram a debater as atribuições da Igreja e o significado de uma vida regrada sob os moldes cristãos.
Foi nesse contexto que observamos o aparecimento das chamadas heresias medievais. O termo heresia, originário do grego, significa “escolher”. De tal modo, observamos que os movimentos heréticos de fato “escolhiam” a organização de concepções religiosas e visões de mundo que se diferiam do discurso há séculos reafirmado pela Igreja. Em alguns casos, algumas das heresias desse tempo chegavam ao ponto de abandonar a Igreja como intermediadora da relação entre Deus e os cristãos.
Em muitos casos, podemos perceber que alguns movimentos heréticos não surgiram de uma reflexão profunda sobre os textos cristãos ou do próprio dogma católico. Diversas heresias desse tempo adotaram o ascetismo e o desapego às coisas materiais como um modo de reafirmar, pela sacralização, a pobreza de várias pessoas que seguiam tais concepções. Vale lembrar que, na Idade Média, eram poucos aqueles que tinham condições de acessar o mundo letrado para debater questões de natureza teológica.
Por um lado, muitos compreendem que o aparecimento das heresias medievais serviu para desestabilizar a hegemonia constituída pela Igreja. Por outro, podemos ver que os movimentos heréticos tiveram grande importância para que a própria Igreja viesse a reavaliar o seu lugar enquanto instituição religiosa. Não por acaso, tais heresias contribuíram para que a Igreja tomasse ações de reforma e controle, nitidamente percebidas na criação das ordens mendicantes e do Tribunal da Santa Inquisição.
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