O filósofo irlandês Edmund Burke (1729-1797) é considerado um dos mais importantes expoentes do chamado “iluminismo britânico”, cujas ideias políticas estavam mais associadas à prática da virtude, da prudência e da manutenção dos princípios tradicionais e morais do que à subversão dessa tradição em prol de um “Progresso” futuro pretensamente guiado pela “Razão” – tal como pretendiam outros filósofos do mesmo período.
Por defender os valores morais e tradicionais, Burke foi reivindicado por pensadores do século XIX e XX como o pai do “conservadorismo moderno”. Um dos textos mais famosos de Burke, no qual ele expõe pormenorizadamente suas ideias sobre política, é “Reflexões sobre a Revolução na França”, publicado em 1790, quando a referida revolução estava apenas no começo. Burke acusou nesse livro a contaminação que os revolucionários franceses receberam da panfletagem de ideias políticas progressistas e subversivas da ordem moral, como aquelas propagadas por Rousseau, que afirmavam que o homem era bom por natureza e que era o convício social que o tornava mau.
Burke defendia que a realidade do homem é imperfeita. O homem é um ser imperfeito porque é tragicamente paradoxal, possui os caminhos do bem e do mal à sua disposição e precisa apostar nas virtudes para traçar uma trajetória razoável. Para Burke, a Revolução Francesa ignorava essa realidade contingente do ser humano e apostava em uma ascensão perfectibilista, em direção a um futuro de bonança para todos os indivíduos. Essa aposta, para o irlandês, só poderia redundar em tirania, opressão e terror. Diz Burke que:
“É impossível estimar a perda que resulta da supressão dos antigos costumes e regras de vida. A partir desse momento não há bússola que nos guie, nem temos meios de saber a qual porto nos dirigimos. A Europa, considerada em seu conjunto, estava sem dúvida em uma situação florescente quando a Revolução Francesa foi consumada. Quanto daquela prosperidade não se deveu ao espírito de nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer; mas, como tais causas não podem ter sido indiferentes a seus efeitos, deve-se presumir que, no todo, tiveram uma ação benfazeja” [1]
Não é à toa que, três anos depois de escrito esse texto, o rei francês Luís XVI foi decapitado e o terror revolucionário espalhou-se pela França sob o comando dos jacobinos. Esse terror, diga-se de passagem, só foi devidamente “domado” quando um político habilidoso, porém centralista e com características despóticas, assumiu o poder. Seu nome: Napoleão Bonaparte.
NOTAS
[1] Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França [1790]. Brasília: ed. UnB, 1982p.102.
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