“Este mundo está perdido mesmo!”. Essa frase é bastante comum entre os assíduos leitores e telespectadores de jornais e programas policiais da atualidade. Algumas religiões, especialmente aquelas de cunho apocalíptico, determinam em cada ato violento a mais nova prova incontestável de que a comunidade global vivencia seus fatídicos últimos dias.
Do ponto de vista histórico, esse cenário alarmante parece não ter a devida sustentação. Em uma recente pesquisa entre os séculos XIII e XXI, o historiador francês Robert Muchembled sugere que os atos de violência entre os homens vêm diminuindo de forma assustadora. Excluindo as situações de guerra, este estudioso aponta que a adoção de novos parâmetros culturais foi fundamental para que esse acontecimento fosse tomando tal proporção.
Antigamente, a agressão física e o homicídio eram formas comuns para se reafirmar a vigência de uma determinada hierarquia ou a comprovação de status. Em muitos casos, não se tratava daquilo que costumamos entender como violência gratuita. Chegar às “vias de fato” constituía em um ritual socialmente aceito para que uma contenda ou questão fossem devidamente sanadas. É completamente anacrônico dizer que os atos violentos de outrora implicam no reconhecimento de uma era menos cordial.
A guinada dessa prática tão comum teria se desenvolvido com o fim da Guerra dos Trinta Anos (1618 - 1648), que ceifou várias vidas na Europa. Anteriormente, os atos violentos eram peça-chave na constituição da personalidade masculina. Dominar as armas e matar em nome de sua honra era pressuposto indispensável. Não por acaso, uma boa parte da população tinha o hábito de sair pelas ruas portando algum tipo de arma que lhe assegurasse.
Paulatinamente, os assassinatos foram tidos como atos criminosos a serem punidos com os rigores da lei. Durante o governo de Luís XIV, na França, a condenação de vários jovens por homicídio foi um dos importantes marcos de uma nova cultura que passou a ser adotada. Ao invés de defender pessoalmente a vida e os antigos costumes pela violência, o Estado passou a arbitrar sobre as punições e garantir a integridade de seus cidadãos.
De fato, essa diminuição da violência pessoal não indica uma consequente diminuição de outros fenômenos que representam ou estão ligados à agressividade. A violência passa a ser “domesticada” como uma energia a ser utilizada e empregada para outros fins. Os processos de colonização, por exemplo, determinaram o uso da força bruta para os interesses financeiros e nacionais. Além disso, a educação iluminista e o alargamento dos aparatos legais tiveram outra importante função na domesticação da violência.
Com a transformação do assassinato em tabu, vemos que a literatura policial e os programas inicialmente citados se transformam em espaços de vazão a essa energia. O homicídio deixa de ser algo próximo, cotidiano e acessível para causar fascínio pelo seu caráter transgressor de normas que está o tempo todo o reprimindo. Ainda hoje, apesar de alguns surtos de violência coletiva, as previsões sobre tal fenômeno continuam a apostar em seu decréscimo.
Do ponto de vista histórico, esse cenário alarmante parece não ter a devida sustentação. Em uma recente pesquisa entre os séculos XIII e XXI, o historiador francês Robert Muchembled sugere que os atos de violência entre os homens vêm diminuindo de forma assustadora. Excluindo as situações de guerra, este estudioso aponta que a adoção de novos parâmetros culturais foi fundamental para que esse acontecimento fosse tomando tal proporção.
Antigamente, a agressão física e o homicídio eram formas comuns para se reafirmar a vigência de uma determinada hierarquia ou a comprovação de status. Em muitos casos, não se tratava daquilo que costumamos entender como violência gratuita. Chegar às “vias de fato” constituía em um ritual socialmente aceito para que uma contenda ou questão fossem devidamente sanadas. É completamente anacrônico dizer que os atos violentos de outrora implicam no reconhecimento de uma era menos cordial.
A guinada dessa prática tão comum teria se desenvolvido com o fim da Guerra dos Trinta Anos (1618 - 1648), que ceifou várias vidas na Europa. Anteriormente, os atos violentos eram peça-chave na constituição da personalidade masculina. Dominar as armas e matar em nome de sua honra era pressuposto indispensável. Não por acaso, uma boa parte da população tinha o hábito de sair pelas ruas portando algum tipo de arma que lhe assegurasse.
Paulatinamente, os assassinatos foram tidos como atos criminosos a serem punidos com os rigores da lei. Durante o governo de Luís XIV, na França, a condenação de vários jovens por homicídio foi um dos importantes marcos de uma nova cultura que passou a ser adotada. Ao invés de defender pessoalmente a vida e os antigos costumes pela violência, o Estado passou a arbitrar sobre as punições e garantir a integridade de seus cidadãos.
De fato, essa diminuição da violência pessoal não indica uma consequente diminuição de outros fenômenos que representam ou estão ligados à agressividade. A violência passa a ser “domesticada” como uma energia a ser utilizada e empregada para outros fins. Os processos de colonização, por exemplo, determinaram o uso da força bruta para os interesses financeiros e nacionais. Além disso, a educação iluminista e o alargamento dos aparatos legais tiveram outra importante função na domesticação da violência.
Com a transformação do assassinato em tabu, vemos que a literatura policial e os programas inicialmente citados se transformam em espaços de vazão a essa energia. O homicídio deixa de ser algo próximo, cotidiano e acessível para causar fascínio pelo seu caráter transgressor de normas que está o tempo todo o reprimindo. Ainda hoje, apesar de alguns surtos de violência coletiva, as previsões sobre tal fenômeno continuam a apostar em seu decréscimo.